Dos 13 aeroportos da Copa, 9 não ficarão prontos
Estudo do Ipea aponta que não será possível cumprir prazo das obras na maior parte das cidades-sede dos jogos; Fifa aponta a situação como principal problema
Maeli Prado
Brasil Econômico - publicado em 15.04
Um estudo divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) demonstrou com números o que o país inteiro já adivinhava: grande parte dos aeroportos que receberão investimentos em ampliação e reformas para a Copa do Mundo não ficará pronta a tempo para o evento esportivo.
De acordo com o levantamento do órgão, as obras de pelo menos 8 dos 13 aeroportos que receberão recursos não estarão terminadas em2014.
Alguns dos terminais que conseguirão cumprir o prazo serão os do Galeão, no Rio de Janeiro, e os do Recife. A reforma do aeroporto de Curitiba deverá terminar, de acordo com o estudo do Ipea, em julho de 2014, um mês depois do início da Copa. Aeroportos cruciais, como os terminais de Guarulhos, Brasília, Salvador, Porto Alegre, Campinas, Fortaleza, Manaus, Cuiabá e Confins, não estarão prontos para a Copa. Não há previsão de conclusão para as obras do novo aeroporto de Natal. ―Os terminais provisórios [que usam embarques e desembarques remotos dentro dos aeroportos] podem ser uma das medidas paliativas para aliviar essa situação‖, disse o pesquisador Carlos Campos, um dos responsáveis pelo levantamento do Ipea.
Para realizar o estudo, os pesquisadores do instituto levaram em conta os prazos médios no Brasil para a elaboração de projetos, emissão de licenças de instalação pelo Ibama para obras de infraestrutura, processos licitatórios e obras civis. ―Esse estudo não nos surpreendeu, nem um pouco. Só confirmou o que já sabíamos‖, afirmou José Márcio Mollo, presidente do Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (Snea). ―Temos um estudo do ano passado que demonstra exatamente isso‖. A situação precária dos aeroportos brasileiros é apontada pela Fifa como o maior gargalo para a realização do evento esportivo.
O setor passa por um momento crítico.O cenário é que esses investimentos dificilmente ficarão prontos a tempo‖, afirmou Campos. De acordo com o levantamento do instituto, a Infraero investirá R$ 1,4 bilhão ao ano entre 2011 e 2014 nesses 13 aeroportos. Mesmo se fosse possível a conclusão das obras, 10 dos 13 aeroportos avaliados estariam operando em ―situação crítica‖.
Isso quer dizer que estariam operando acima de 100% de suas capacidades instaladas. A estatal não quis se manifestar sobre o estudo do instituto. Afirmou apenas, em nota, que ―desconhece as bases técnicas utilizadas e não participou de qualquer discussão, de modo que não pode fazer qualquer tipo de avaliação a respeito‖.
Situação preocupante
Ontem, em São Paulo, o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, classificou as revelações feitas pelo estudo como ―preocupantes‖. ―É preocupante [a situação], tanto que a presidente Dilma Rousseff criou uma nova secretaria especial apenas para cuidar disso. A Secretaria de Aviação Civil está trabalhando e os investimentos vão sair‖, afirmou. A nova secretaria, que deverá atuar no mesmo nível de importância dos demais ministérios, foi criada em 18 de março deste ano para coordenar o processo de privatização do setor. Com a criação da nova pasta, a aviação civil saiu do guarda-chuva do Ministério da Defesa, comandado por Nelson Jobim.
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e a Infraero (estatal que controla os principais aeroportos) passaram a ser subordinadas à secretaria. ―Não temos posição sobre os aeroportos serem geridos pela iniciativa privada ou não. Isso é política de governo‖, afirmou Mollo, do Snea. ―Mas é bom lembrar que concessão de aeroportos é um processo muito demorado, vai da decisão política até a licitação e assinatura do contrato. Isso leva pelo menos um ano e meio‖, disse.O executivo afirmou ainda que, nos Estados Unidos, todos os aeroportos são públicos. ―E funcionam.
O problema não é ser público ou privado‖.
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