segunda-feira, 20 de maio de 2013

César Borges promete destravar obras

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Osvaldo Lyra - Fonte : Tribuna da Bahia
Colaboraram Fernanda Chagas e Daniela Pereira
Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil
Em entrevista exclusiva à Tribuna, o ministro dos Transportes, César Borges (PR), contou sobre a recém-nomeação feita pela presidenta Dilma, assim como a aliança de um ex-carlista com o PT.

Questionado sobre uma possível candidatura para sucessão de 2014, Borges não descartou a possibilidade, ressaltando que política se baseia nas circunstâncias do momento. Mais além, fez questão de frisar que o próprio governador dá sinais de que o PT pode não ser o escolhido para a disputa.

Sobre as dificuldades de comandar o ministério, Borges apontou a execução orçamentária como o principal desafio, mas garante que a Bahia está bem representada no cenário nacional. “Minha presença no ministério é, essencialmente, para destravar essas dificuldades”.

Tribuna da Bahia: O senhor foi alçado à condição de importante ministro da presidente Dilma. Como avalia a escolha do seu nome depois de um período afastado da política?
César Borges: Afastado da política eu nunca estive porque eu estava como presidente do PR aqui no estado e acompanhava todas as demandas políticas da Bahia, do Brasil, inclusive, em reuniões do próprio PR lá em Brasília. Também estava exercendo um cargo muito honroso que me acrescentou muito, de vice-presidente de governo do Banco do Brasil, e acho até que foi um dos fatos que levaram ao ministério, foi trabalho que fiz no Banco do Brasil que, de certa forma, me credenciou e me colocou mais próximo da presidenta Dilma. Repito que minha chegada lá tem dois fatores principais: primeiro, a confiança da presidenta Dilma, que eu devo agradecer pelo reconhecimento do meu trabalho como executivo, governador e agora como vice-presidente do estado do Banco do Brasil e, em segundo lugar, do meu partido, porque houve uma demanda política do partido voltar a fazer parte do primeiro escalão do governo, e como tradicionalmente o Ministério dos Transportes era o ministério do partido, e sendo meu nome o de preferência da presidente Dilma, houve a junção desses dois fatores, que me levaram ao ministério. Eu repito que foram esses dois fatores, basicamente, que me fizeram ministro.

Tribuna: Já foi chamado de ministro de Wagner, houve alguma interferência pela recém-aliança com o governo baiano?Borges: Não eu acho que o que me levou ao ministério não, necessariamente, foi uma ação política do governo da Bahia nesse sentido, mas com certeza passou também pelo governo da Bahia. Eu tenho certeza que a presidente Dilma não iria fazer um ministro da Bahia sem consultar o seu companheiro de partido e apoiador de muitas lutas, o governador Wagner. Então eu agradeci pessoalmente ao governador Wagner, pois sei que ele referendou meu nome. Ele analisou meu nome à presidente Dilma. Então houve essa interferência positiva por parte do governador Wagner.

Tribuna: O PR está rachado na Bahia com três deputados cogitando deixar o partido. Pode pedir o mandato desse dissidente?
Borges: Eu não falo mais pelo partido, porque não sou mais presidente. No momento que assumi, que assumi o Ministério dos Transportes, me afastei da presidência, que está com o deputado José Rocha. Eu espero que ele (José Rocha), que vai contar com minha total colaboração, consiga resolver todos esses problemas, que existem em todos os partidos, e que o PR fique mais forte na Bahia. Essas questões de deputados saírem e se sentirem insatisfeitos, vai depender não só da posição partidária, mas da posição pessoal individual de cada um, que nós devemos respeitar. A posição do que o partido vai fazer, só o deputado José Rocha, do PR local, pode dizer.

Tribuna: Como o senhor vê a antecipação do processo eleitoral de 2014 pelo PT, isso é ruim?Borges: Eu acho que não há antecipação. As discussões, trocas de ideias, as possibilidades fazem parte da política, não tem como você represar essas questões, elas existem, mas não é momento para definição dos nomes. É o momento de contemplar nomes possíveis. Isso só vai se definir, efetivamente, no primeiro semestre do ano que vem,quando o martelo será batido em torno dos nomes dos candidatos. Por enquanto são especulações mais do que naturais, existem na política, porque as pessoas, politicamente, pensam sempre com antecipação.

Tribuna: Além do PR, do PT, o PDT e o PP e o PSD querem espaço numa chapa majoritária. Numa queda de braço, você acha que poderá ficar sequelas na base do governo aqui na Bahia?
Borges: Espero que não. Essas disputas de espaço é a coisa mais natural, onde os partidos se fortalecem ou não, mas estão na presença do momento político reivindicando mais espaço e mais presença. Eu acho natural e acho que as coisas se acomodam próximo às eleições

Tribuna: O PT tem a primazia de assumir a candidatura de sucessão ao governo?Borges: O PT tem condições de reivindicar porque é um partido do governador Jaques Wagner, é o maior partido da base do governador Jaques Wagner, mas não é por essa questão, única e exclusivamente, que será o escolhido. Acredito que o importante é que pense uma candidatura que seja mais conveniente para a Bahia, para a própria base governista. Li uma entrevista do governador Jaques Wagner, que ele diz e luta para demonstrar ao PT que é melhor ter um aliado candidato do que ser candidato por outro próprio partido, então mostra uma abertura política que poderá, claro, sair um candidato que não seja exatamente do PT.

Tribuna: O senhor acredita na possibilidade de duas candidaturas da base, já que o PT diz que não vai abrir mão e tem vários outros partidos pleiteando? É uma coisa possível de acontecer?
Borges: Eu acho que esse é um processo que, no caso da base governista, terá que ser comandado pelo governador Jaques Wagner. Ele sendo do PT, ele é a pessoa realmente que tem mais condição de colocar os argumentos que levem o PT a uma eventualidade que não seja o candidato do PT a compor. Ainda acho que temos muito jogo pela frente, para essa decisão.

Tribuna: Como o senhor observa hoje a fragilidade das oposições aqui na Bahia?
Borges: O importante não é fazer oposição ao governo. O importante é procurar eficiência, é procurar colaborar para o crescimento do estado. Então, quando você fica numa posição muito radical, apenas de combater e não apresentar soluções e ficar numa questão pessoal ou muito partidarizando, você termina enfraquecendo porque o que o povo reclama são soluções para o seu problema e quem está no comando do governo do estado, no comando de uma prefeitura é quem efetivamente tem melhores condições de dar as soluções. Então, quando se soma através desses interesses de atender a população, rapidamente você se fortalece. No momento que você faz uma posição muito radical, você termina enfraquecendo.
Tribuna: O senhor é um ex-integrante do carlismo e hoje é aliado do PT. Já existiu algum tipo de mal-estar entre os petistas por essa mudança de posicionamento partidário?
Borges: Então vamos por parte. Primeiro, o carlismo existiu quando Antonio Carlos Magalhães era vivo. Não era um movimento institucionalizado, não era um partido político. Era uma pessoa que tinha uma liderança, teve um papel importante na política e na historia da Bahia e ninguém vai retirar esse papel que Antonio Carlos teve na política. Eu fui aliado do governador, senador e líder político Antonio Carlos Magalhães com muita tranquilidade e não tenho nada para olhar no passado que não me orgulhe pelo que fiz na Bahia como governador, mas o momento é outro. Com o desaparecimento do Antônio Caros Magalhães, a política teve outra conotação na Bahia, até com a própria vitoria do PT aqui na Bahia. Eu não tenho nenhuma dificuldade nem com os meus correligionários atuais e nem com os do passado, porque a minha posição sempre foi uma só: defender a Bahia, trabalhar pela Bahia e procurar me posicionar na política da maneira mais correta possível. Então eu não tenho essas dificuldades, e acho que essas cobranças ficaram muito defasadas no tempo e hoje não se cobra isso. Pelo contrário, me sinto muito reconfortado quando vejo pessoas que no passado você poderia taxar como esquerda e que hoje reconhecem o trabalho que efetuo na Bahia, indiferente se você está trabalhando com o partido A ou partido B, o importante é o interesse público.

Tribuna: O senhor já disse que o PR tem legitimidade para integrar a chapa majoritária. Existe alguma possibilidade do senhor sair candidato em 2014?
Borges: Eu vou repetir o que eu tenho dito. Entrei no ministério merecendo a confiança da presidenta Dilma para fazer um trabalho para o Brasil e para a Bahia, que, inclusive, será uma das prioridades nas minhas ações. Não farei do ministério trampolim político de forma nenhuma, simplesmente farei a melhor ação para a Bahia e para o Brasil, mas eu sou uma pessoa política e o político é a circunstância que aparece no momento. Então, não posso dizer a você em 2014 o que eu vou ser ou deixar de ser. Isso é uma circunstância que só veremos daqui pra frente. Então, nem eu sou candidato e nem eu não sou candidato. Tudo será o momento, serão as circunstâncias.

Tribuna: À frente da pasta dos Transportes, qual o maior desafio que o senhor tem pela frente?Borges: O maior desafio que a presidenta Dilma me deu foi de tocar mais rapidamente possível o Brasil, de uma logística que possa trazer eficiência a nossa economia, que esteja em nível internacional. Um recente dado de estudo feito pelo Ministério dos Transportes junto com a empresa de Planejamento de Logística (PL) do Ministério dos Transportes chega à conclusão que por falta de logística nós perdemos aproximadamente R$ 50 bilhões por ano. Como nós precisamos investir R$ 500 bilhões na infraestrutura de logística do país, em 10 anos se nós investirmos isso, nós teríamos um retorno magnífico, que nós íamos pagar todo o investimento dos R$ 500 bilhões em 10 anos. Porque são 10 anos que conseguiríamos economizar 50 bilhões por ano. Mas isso não é apenas uma responsabilidade do governo federal, ele tem sua parte, o ministério, por exemplo, tem este ano R$ 15 bilhões para gastar no orçamento de 2013 e ainda traz de resto a pagar de 2012 R$ 12 bilhões, o que vai fazer um total de R$ 27 bilhões. O que está dificultando é a capacidade da execução orçamentária porque nós temos uma série de obstáculos, porque quando se quer investir no Brasil você tem que fazer uma preparação e vencer uma série de obstáculos como o projeto, as licenças ambientais, aprovação do TCU, que fiscaliza e olha todas as licitações e composições de preços, tem que ter entendimento do Judiciário, das concorrências, do Ministério Público. É uma série de etapas que são exigidas para que a obra aconteça que termina retardando a capacidade de execução orçamentária . Então, nosso grande desafio é justamente esse, é dotar essa infraestrutura logística do país o quanto antes.
Tribuna: Sobre as obras da Bahia paralisadas, por que as coisas não andam aqui no estado?Borges: Eu não diria que tem obras paralisadas e sim problemáticas e com atrasos, mas as obras estão andando. Minha presença no ministério é, essencialmente, para destravar essas dificuldades, como os nós existentes, e fazer com que as coisas aconteçam o mais rapidamente possível. As obras na Bahia estão todas equacionadas. Eu estive com o governador, com toda equipe do Ministério dos Transportes, mostrando tudo que podemos fazer no curto, médio e longo prazo pela Bahia. Tenho tudo estruturado. Este ano vamos licitar nove obras no estado da Bahia, obras importantes de rodovia. No plano de investimento e logística, estamos prevendo três grandes rodovias, fora a FIOL, que é Oeste- Leste. Na Oeste-Leste nós estamos procurando tirar todos os gargalos para que ela possa ser implementada e, pelo menos no trecho Ilhéus/ Caetite, a tentativa é essa, concluir no final de 2014 e Iniciar o trecho Caetité/ Barreiras para concluir no final de 2015. Paralisado não existe nada, existe toda uma programação que está em andamento. A fase agora é de acelerar esses investimentos na Bahia que, pelos próximos três anos, nós calculamos que a Bahia receberá um investimento de mais de R$ 5 bilhões na área de infraestrutura logística, só falando de rodovia e ferrovia.

Tribuna: De médio e curto prazo, o que o senhor coloca como destaque e que vai ajudar no desenvolvimento do Estado?Borges: Começaria dizendo que este ano vamos licitar quatro lotes da BR-235. Nós vamos licitar a duplicação da BR-101 Norte, que vai de Feira de Santana à divisa de Bahia e Sergipe, vamos licitar a BR-135 Oeste, que vai de Correntina até a divisa Bahia/Minas Gerais. Queremos licitar a duplicação da BR-101 Sul, trecho divisa Bahia-Espírito Santo até a cidade de Eunápolis. Queremos fazer a concessão da BR-101, do trecho de Feira de Santana até a divisa com o Espírito Santo. Essa concessão prevê um prazo de cinco anos para duplicação total do que seria a BR-101. No prazo de cinco anos queremos ver a BR-101 toda duplicada no Estado da Bahia. Com relação às ferrovias, nós temos para ser licitado, a partir do segundo semestre até o primeiro semestre do ano que vem, três grandes trechos ferroviários do estado da Bahia. Um é a ferrovia que liga Belo Horizonte até Feira de Santana, que não virá mais a Salvador, que terá outra linha exclusiva pra chegar à cidade. Queremos também licitar o trecho que vai de Feira de Santana a Juazeiro, e vai até entroncar com a Trasnordestina em Parnamirim, em Pernambuco, e também em Feira de Santana até Recife pelo litoral. Então serão três ferrovias importantes do sistema de logística brasileira, que estarão atendendo a Bahia, além da FIOL, que tem um sentido transversal do Oeste para o Leste.

Tribuna: Qual a dificuldade de tocar uma obra como a FIOL? Como a população pode acreditar que o governo federal vai conseguir avançar no quesito de desenvolvimento das ferrovias aqui na Bahia, ministro?Borges: Aqui no Brasil, lamentavelmente, nós temos uma série de entraves para executar uma obra. O importante é ter planejamento, executar os projetos bem para que as obras saiam nos conformes e rapidamente. Além disso, temos o problema de que uma empresa ou outra que ganha a licitação não tem capacidade de executar e durante a execução ela tem problemas financeiros e ter que arrumar uma segunda empresa, que é o que está acontecendo com o lote 1 da FIOL de Ilhéus até a cidade de Ipiaú. Nós estamos resolvendo este problema. Então o importante é continuar acreditando porque o governo está empenhado. Há muitos anos o Brasil não investia em infraestrutura logística. Eu pergunto quando é que a Bahia teve investimento como a FIOL? O que se viu de investimento em rodovias na Bahia, que não aconteceu nesses últimos 10 anos? Então, agora estamos vivendo uma situação bastante interessante. No passado não tínhamos dinheiro para executar. Hoje nós temos recurso suficiente no Programa de Aceleração do Crescimento, que já está na sua segunda fase, e temos uma série de obstáculos para cassar esse dinheiro. Então, como eu disse, o maior desafio desse Ministério dos Transportes é conseguir a execução orçamentária. Eu quero gastar os R$ 15 bilhões ou mais até o final do ano, mas Deus sabe o número de problemas que nós temos que enfrentar nessas áreas todas. Está todo o governo federal disponibilizando recursos e colocando toda a sua inteligência e força de recursos humanos para transformar em realidade essa execução.

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