segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Bahia: uma estratégia espacial

Armando Avena
Escritor, economista e diretor do portal Bahia Econômica, é membro da Academia de Letras da Bahia
armandoavena@uol.com.br
A Bahia pode se tornar a quin­ta economia do País nos pró­ximos anos, igualando-se ao Paraná que hoje possui um PIB cerca de 30% maior. Isso pode acontecer, pois o Pro­duto Interno Bruto (PIB) baia­no está crescendo mais que o paranaense e, o mais impor­tante, cerca de um milhão e meio de novos consumidores entraram no mercado de con­sumo, algo que o Paraná não tem.

O governador Jaques Wag­ner será o timoneiro desse processo e, além de investir na área social e de infraes­trutura, vai ter de olhar para a integração espacial do Es­tado. A Bahia tem gargalos espaciais sérios, a começar por Salvador, uma península cuja expansão vem se dando unicamente pelo vetor norte, que já está em processo ace­lerado de saturacão.

E só existem dois outros ve­tores a serem explorados: o vetor oeste, com a ponte Sal­vador- Itaparica, que começa a ter viabilidade econômica (veja a nota abaixo), e a ro­dovia Salvador-Feira.
A BR-324 foi objeto de conces­são pelo governo do Estado e sua modernização, que já está ocorrendo, será fundamental para a expansão da cidade e para dar competitividade à economia da RMS, que con­grega mais de 40% do PIB baiano, mas isso não basta.

Será imperioso também in­vestir para transformar a cidade de Feira de Santana num "hub logístico", capaz de transformar em riqueza local toda a movimentacão rodo­viária que vinda do Sul ou do Norte passa obrigatoriamen­te pela cidade. Nesse contex­to, vale destacar ações posi­tivas do governo, ora em cur­so, como as obras do sistema BA-093 e o início de constru­ção do anel ferroviário que ligará o Polo Industrial de Ca­maçari ao Porto de Aratu.

Urge, todavia, resolver a questão da administração e modernizacão do Porto de Aratu que o empresariado es­tá disposto a tocar. Mas essa estratégia espacial ainda pas­sa pelo fortalecimento de Vi­tória da Conquista como polo de união entre Bahia e Minas Gerais (veja a nota) e pela es­colha de uma cidade-polo na região do semiárido, onde se concentrará investimentos em diversas áreas para assim construir a capital do sertão, que será a ponte de serviços urbanos, industriais e agríco­las entre o oeste a Feira de Santana.

Nessa estratégia espacial há muitas outras ações, como exigir da Vale uma solução para a ligação ferroviária en­tre Juazeiro e o Porto de Aratu e há que garantir que e Fer­rovia Oeste-Leste e o Porto Sul se transformem em realida­de.

O espaço é restrito para de­finir melhor o modelo, mas essa é a visão moderna da Bahia, uma Bahia global que não pode ser vista de modo setorial ou segmentada em compartimentos estanques.

A ponte Salvador-Itaparica

Esta coluna achava que seria difícil estabelecer viabilidade econômica para a Ponte Sal­vador- Itaparica, mas resolveu fazer um exercício numérico usando os mesmos parâme­tros que o governo federal usou para o financiamento do trem bala que vai ligar o Rio a São Paulo e, então, sur­presa: se o governo garantir as mesmas facilidades, espe­cialmente a alocação de re­cursos do BNDES (e será mui­to menos que os R$ 19,9 bi­lhões previstos para o trem bala) a ponte passa a ter via­bilidade econômica.

Mas atencão, a Ponte Sal­vador - Itaparica tem de ser vendida como um projeto in­dispensável para viabilizar a expansão de Salvador e evitar um travamento da cidade, já que hoje todo crescimento se dá em direção ao superpovoa­do litoral norte. A ponte surge assim como novo eixo de pla­nejamento baiano e metro­politano e sua construção in­clui e fortalece a tendência que já existe de tornar a Ci­dade Baixa a próxima área de expansão urbana da capital baiana.

Conquista: a capital do su.doeste

A integração espacial da Ba­hia passa necessariamente pelo fortalecimento de Vitó­ria da Conquista que vai pos­sibilitar também uma maior integração econômica .entre Bahia e Minas Gerais. E pre­ciso investir nessa r:egião e linkar o sudoeste da Bahia ao norte mineiro, estabelecendo uma ponte industrial e co­mercial com Minas.

A ponte turística já existe e milhares de turistas mineiros vêm todos os anos para as praias do litoral sul, atraves­sando o sudoeste baiano. É preciso potencializar esse movimento e Vitória da Con­quista é o foco desse proces­so.

O prefeito e a orla
Esta coluna que tanto criticou a orla de Salvador não pode deixar de fazer justiça ao pre­feito: a orla, no trecho que vai do Jardim de Alá até Piatã está começando a brilhar. O efi­ciente sistema de iluminação que está sendo implantado não só realça a beleza das praias como aumenta a se­gurança e permite que as pessoas voltem a andar à noite nas calçadas.
A retirada das barracas de­volveu a praia aos banhistas e os vendedores ambulantes (que devem ser ordenados) causam muito menos proble­mas que as monstruosas bar­racas.
Agora, resta que alguém no Poder Judiciário tenha a mes­ma coragem e determinação do juiz federal Carlos D'Ávila, que pôs abaixo as barracas, e resolva a questão do Aeroclu­be, fazendo-o funcionar noa­vamente ou colocando-o no chão.

O orçamento e a Assembleia
Até está data a Lei de Dire­trizes Orçamentárias, desde maio na Assembleia Legisla­tiva, não foi aprovada. O or­çamento anual, desde setem­bro na Casa, também não foi aprovado e a Bahia pode co­meçar 2011 sem orçamento. É um problema que afeta 13 mi­lhões de baianos é tão grave que deixo para comentar no meu próximo artigo.

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