segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Ferrovia Oeste/Leste


Caminho Leste-oeste, sonho secular
Roberto R. Martins Escritor
rm45@uol.com.br

A construção da Ferrovia de Integração Oeste-Leste - Fiol - relembra antigo sonho. Desde a chegada dos portu­gueses com o achamento de Porto Seguro, o sonho de adentrar pelos sertões em busca de ouro se apresentou. A lógica era simples: se o ponto da descoberta situava-se a cerca de 17 graus de latitude a sul da linha equi­nocial, latitude mais ou menos igual à do Peru, onde os espanhóis haviam encontra­do ouro e prata, partindo-se do litoral para oeste, os metais também seriam achados.

As primeiras entradas saíram em meados do século XVI da então próspera Capitania de Porto Seguro, encontrando indícios dos metais preciosos. Mas em seguida foi im­posto o abandono destes caminhos. Somen­te dois séculos depois as regiões aurífera e diamantífera foram encontradas partindo de outros pontos a sul.

Séculos depois, com o advento da má­quina a vapor e a abertura dos primeiros caminhos de ferro no Brasil por iniciativa do Barão de Mauá, o sonho da ligação les­te-oeste volta a se apresentar.
O projeto de fins do império é a cons­trução da Estrada de Ferro Brasil Central.
Seriam 5.700 quilômetros de ferrovia li­gando o Atlântico ao Pacífico. Ferrovia de integração nacional e sul-americana. Do porto de Arica, no norte chileno, alcançaria a Bolívia, daí o Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais até a Bahia, vindo a concluir-se na Baía Cabrália, o ponto 'Onde o Brasil co­meçou."

O Diário da Bahia de 20 de outubro de 1888 noticiava a exposição do projeto, des­tacando que ... "A baía Cabrália, no Atlântico, é vasta,muito segura,capaz de admitir grande número de navios da mais alta arqueação...e o porto de Arica, no Pacifico é muito comerciante". Daí informa da importância do comércio do norte de Minas ao cruzar o Jequitinhonha; da integração com a navegação fluvial o São Francisco, o Araguaia e o Paraguai; e ao chegar ao Pacifico " atrairia o comércio da Bolivia, do Peru e do Chile" Note-se já então a preocupação em integrar o transporte ferroviário com o fluvial e o maritimo, prática posteriormente abandonada em detrimento do transporte rodoviário.
Mas não foi desta vez que os dois oceanos foram ligados pelo caminho de ferro, apesar da outra ferrovia sentido oeste - leste construida.
Em 1882 inaugura-se o trecho baiano da Bahia -Minas. A estrada que ligava a Ponta de Areia, em Caravelas, a Teófilo Ottoni, com 376 quilometros de trilhos.
Mas a ferrovia construída em fins do Seculo XIX, como elemento de progresso, foi desativada pelo governo militar em 1966 como símbolo do atraso. Deixou apenas a inspiração aos poetas Fernando Brant e Milton Nascimento, para cantarem em seus versos: "Ponta de Areia ponto final / que ligava Minas ao porto, ao mar / caminho de ferro mandaram arrancar..."
Em meados do Século XX, coube ao engenheiro e deputado baiano Vasco Neto novamente sonhar, projetar e lutar pela li­gação férrea entre o Atlântico e o Pacífico. Por ironia da história, ele veio a falecer, aos 94 anos, no dia em que foi publicado o resultado final da licitação da Fiol, em 1º de outubro último.

A nova ferrovia sairá de nosso litoral até atingir o centro do País, no Tocantins, com 1.490 km de. extensão. E neste. ponto in­terligar-se com a Ferrovia Norte-Sul, ligan­do o Pará a São Paulo. Quando da licitação da Fiol, o governador Jaques Wagner lem­brou seus antecedentes históricos, desde os anos 50 do século XIX.
Agora, 160 anos depois, as obras estão saindo do papel para a realidade.
A Fiol partirá da Ponta da Tulha, em Ilhéus, onde será construído novo porto; percorrerá 32 municípios baianos até São Desidério, entrando no Tocantins até seu ponto final, em Figueirópolis" A ferrovia será fundamental para escoar a produção mineral e agropecuária do centro e do oeste baiano, destacando-se a produção de grãos, obrigados atualmente a percorrer longas distâncias rodoviárias, aumentando o cus­to, o malsinado custo Brasil.
Os 30 mil empregos gerados pela construção "da Fiol serão o benefício menor deste Mega empreendimento em Infraestrutura, o maior de todos os tempos na Bahia, a resgatar boa parte o sonho secular.

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