terça-feira, 6 de novembro de 2012

SALVADOR: LIVRE PENSAR É SÓ PENSAR





Outro dia resolvi dar um passeio por Salvador, olhando a cidade com olhos de urbanista amador. Comecei pela Cidade Baixa e pensei que um projeto de modernização da bela orla da Baía de Todos os Santos transformaria a cidade, revertendo, pelo menos em parte, o vetor que puxa tudo para o Litoral Norte e realçando a beleza das praias da Penha, do Bogari e outras. Depois, passei pelo Porto de Salvador e aplaudi entusiasmado o projeto de construção do novo terminal marítimo, que derrubou dois armazéns e descortinou o mar do comércio (mas bem que poderiam ter sido quatro os armazéns no chão). E imaginei que seria bom ter o hotel Hilton ou outro do mesmo porte por aquelas plagas, permitindo que os turistas do Brasil e do mundo tivessem acesso aquela marinha pintada por Deus.

Depois passei pelo Distrito Naval – me perguntando por que as forças armadas colocam seus quartéis e alojamentos sempre em frente ao belo mar Bahia, impedindo que o povo ali esteja, seja em Inema, Amaralina ou no Comércio – e subi a Avenida Contorno, pensando que, hoje, a bela via encravada nas escarpas da cidade dificilmente seria construída, pois seria considerada um ataque a natureza, ou coisa que o valha. Aliás, sempre que o ataque for para construir obras como o elevador Lacerda, a Av.Contorno, o Museu de Arte da Bahia e outros, este escriba estará na linha de frente. Segui pela Av.Garibaldi passando pela rodoviária, que todos querem derrubar. Rodoviária urbana não é problema – a de Nova York (o Port Authority Bus Terminal) fica no centro de Manhattan, na 40nd Street –, mas, tudo bem, se for para desafogar o trafego, derrubando, ao mesmo tempo, o horrível prédio do Detran, para assim ampliar a avenida, vá lá. Continuei em frente, parando na irracional sinaleira do Iguatemi e, lembrando que aquela região precisa de uma praça, segui pela Av. Tancredo Neves, que á a nossa Av. Paulista e deveria ser completamente reformulada com um aterro, que acabasse com aquele desnível a altura do Barbacoa, e a transformasse numa avenida de porte. Depois avancei pela orla passando pelo nosso monumental Centro de Convenções, que precisa ser completamente remodelado. Aliás, Salvador, onde o turismo de negócios está a se expandir, precisa com urgência de um novo centro de convenções.


A orla Atlântica estava bela, mas constatei o quanto é irracional a manutenção de tantos terrenos baldios e de ocupação inadequada e pensei como seria mais apropriado uma verticalização racional, sem sombreamento ou prédios agarrados um ao outro. Aliás, na orla, tão importante quanto regular a altura dos prédios seria determinar sua tipologia, privilegiando hotéis, restaurantes e prédios residenciais e restringindo a proliferação de prédios quarto e sala e construções comerciais. Aqui, lembrei-me de Marcelo Odebrechet que, numa conversa brilhante na comemoração dos 43 anos da Tribuna, disse, entre outras coisas importantes, que a orla de Salvador não precisa de dinheiro público para ser modernizada, bastando apenas gestão, ordenamento e a participação do setor privado. E, assim, basta uma PPP bem estruturada, ou algo parecido, para termos uma bela orla. Passei então pelo parque do Aeroculbe, recusando-me a olhar para aquele que é um troféu erguido à incompetência dos poderes públicos, e pela sede do Bahia, que agora, ao que parece, irá ao chão para gáudio dos que gostam de ver o mar. Segui em frente mirando o Parque de Pituaçu e percebi que ele precisa estar mais integrado à cidade e que nenhum mal faz que haja avenidas em seu entorno, desde que ele esteja preservado, mas torna-se necessário estudar com mais afinco essa coisa de pedágio urbano, evitando que a possível solução se torne um problema maior. Depois, ao ver os prédios abandonados no canteiro das pistas, constatei o quão urgente é desapropriar o canteiro central da Avenida Otávio Mangabeira e modernizar a orla com calçadas enormes e ciclovias para que as pessoas possam circular. Ia seguir em frente, mas a beleza do mar da Bahia me seduziu e parei, afinal, não sou urbanista, tenho consciência de que a cidade precisa de um planejamento urbano amplo para definir essas questões – lembrando, porém, que Salvador tem pressa e que a necessidade de planejar não pode ser o pretexto para a inércia. Na verdade, assim como o leitor faz de vez em quando, eu estava apenas estava a matutar sobre a bela cidade da Bahia, por isso, encerrei meu exercício de urbanismo e fui beber um chope vendo o mar, concluindo o assunto com a frase de Millôr Fernandez: Livre pensar, é só pensar.



SALVADOR E A ELEIÇÃO


Escrevi o artigo acima imaginado o grande desafio que terá o futuro prefeito de Salvador, que será eleito neste domingo. A cidade da Bahia precisa de uma revolução e não apenas no que diz respeito ao aspecto urbanístico, mas também no que se refere à educação, saúde, segurança pública e mobilidade urbana. Essa será a imensa tarefa do novo Prefeito de Salvador. Mas sou daqueles que acreditam na democracia e, portanto, na capacidade da maioria escolher o melhor para a cidade onde vive. Por isso, vamos às urnas e que o povo decida o que é melhor para Salvador.



Publicada  no jornal A Tarde em 27/10/2012

Nenhum comentário: