segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Deu na Tribuna da Bahia (19.11.2012)


Política
Rui Costa mira 2013 de olho em 2014
por Fernanda Cha 
O secretário da Casa Civil, Rui Costa,cotado como nome forte para representar o PT nas urnas em 2014, avalia que diversos fatores influenciaram no resultado das eleições municipais, mas destaca que o programa liderado pelo governador Jaques Wagner saiu vitorioso no estado. E completa que 2013 será um ano crucial para o projeto político.



“Eu acho que nesse momento todos nós devemos nos concentrar, nos dedicar para no ano de 2013 melhorarmos os serviços e as ações de governo e muito do que foi planejado”, afirmou em entrevista à Tribuna.



Ele aproveita para assegurar que diversas obras passarão a ser realidade a partir do próximo ano e diz ainda que em relação ao esperado metrô o governo do estado está saindo com o edital de licitação na modelagem parceria público-privada e que aguarda a assinatura da prefeitura no documento que formaliza a transferência ao estado da linha 1.



Tribuna – De que forma o senhor avalia o resultado das urnas no estado e em especial na capital baiana?

Rui Costa – Eu acho que no estado a expressão do desejo popular foi de afirmação desse projeto que conduz o Brasil e que conduz a Bahia. Esse projeto político, econômico e social teve uma vitória expressiva na ordem de 330, 340 prefeituras sendo dessa base política do governo, então uma ampla vitória desse projeto político no conjunto do estado. Sobre Salvador, eu diria que 'N' fatores contribuíram. Eu não diria que é uma derrota, pois nós já não tínhamos Salvador, nós nunca administramos Salvador, como efetivamente um projeto político nosso, então eu não posso dizer que perdemos, mas nós deixamos de ganhar, e talvez isso não tenha um fator só que explique isso, acho que são vários fatores que explicam, mas no conjunto do estado acho que foi uma ampla vitória desse projeto político.



Tribuna – Em se falando de Salvador, o senhor acha que faltou mais ação do governo na capital? O senhor acha que as greves influenciaram?

Rui – Como eu disse, são muitos elementos que influenciam o resultado da eleição. Ações não faltaram, nós temos muitas ações. Só no Subúrbio Ferroviário, onde, inclusive, nós ganhamos as eleições, nós temos quase R$ 1 bilhão investidos em obras só no Subúrbio e em execução. E em várias lugares da cidade, a Via Expressa é um investimento de mais de R$ 400 milhões e que é um problema crônico da cidade, é a maior obra urbana feita hoje no país e é em Salvador. Você rasga o miolo da cidade para dar acesso à BR-324 e muitas outras obras. Eu diria que talvez tenha um problema de comunicação das pessoas terem pleno conhecimento das obras que estão em curso. Você olha habitação, nunca se construiu tanta casa popular em Salvador. Mas, evidente, tem outras ações e outras obras que a população esperava estarem resolvidas. Esse imbróglio do metrô é algo que a população de alguma forma responsabiliza todos os três entes federados, o município, o estado e a União, por não ter resolvido isso. O centro econômico da cidade é na ponta de um cone, ou seja, todo o miolo se desloca para a ponta e isso trava a cidade inteira. Existe uma insatisfação com a não solução disso, assim como também com o desmonte do que foi a nossa orla. Nossa orla foi desmontada com o início de um projeto que o município fez e depois abandonou. Então essas duas expectativas são muito fortes na população e isso, evidente, nós talvez não respondemos em função dessa dificuldade com o município. Eu diria que as duas grandes obras do ponto de vista urbanístico da cidade, o governo do estado estará solucionando agora.



Tribuna – Em relação ao metrô, pode-se falar de uma data?

Rui – Olha, a data que nós queremos reafirmar é a data do mês de dezembro. Nós estamos saindo com o edital de licitação na modelagem parceria público-privada. Nós estamos nesse momento aguardando a assinatura da prefeitura no documento que formaliza a transferência ao estado da linha 1.



Tribuna – Então já está confirmada essa transferência?

Rui – Nós entendemos que é preciso para fazer o metrô metropolitano, porque esse metrô não será só de Salvador, será um metrô metropolitano, inicialmente com Salvador e Lauro de Freitas e num futuro próximo com outras cidades. O conceito desse metrô não é apenas urbano de Salvador, ele é um metrô metropolitano e que pretende atender inicialmente duas cidades, mas num futuro próximo Simões Filho, com certeza, e Camaçari em seguida. Então nós precisamos viabilizar esse projeto de que a linha 1 seja integrada e que nós possamos fazer a licitação conjunta do trecho de linha existente com a linha nova.



Tribuna – Nesse caso, a linha 1 só funcionaria com a conclusão da linha 2?

Rui – Não. Ela é possível concluir antes, mas a licitação tem que ser feita no conjunto, porque nós vamos licitar a obra junto com o serviço de gestão das duas linhas. E, por uma questão de organização da demanda de mobilidade da cidade, você precisa ter as duas linhas funcionando integradas. Não é possível conceber elas separadas. Assim como o transporte urbano da cidade e de ônibus, ele precisa ser concebido para não ser concorrente ao metrô. Ele precisa ser integrado ao metrô.



Tribuna – Em relação à linha 2 do metrô, existe uma previsão das obras começarem?

Rui – Depende, evidente, da licitação. Nós queremos colocar agora em dezembro e a ideia é que nós possamos assinar o contrato, se o cronograma da licitação for todo ok, no mês de abril nós estaremos assinando o contrato da parceria público-privada e, portanto, imediatamente iniciando as obras.



Tribuna – Voltando à política, a oposição ganhou em Salvador, existe alguma possibilidade de dificuldade por parte do governo estadual e federal em ajudar essa gestão?

Rui – Todos conhecem o estilo de governar da presidente Dilma [Rousseff], que é muito parecido com o do presidente Lula [Luiz Inácio Lula da Silva] e todos conhecem o estilo de governar do governador Jaques Wagner. Eles têm o estilo de fazer parcerias e obras em todos os municípios, independente da filiação partidária. Diferente até do que se fez no passado na Bahia. Todos se lembram de Salvador e de como foi o governo de Lídice da Mata (hoje no PSB) que foi perseguido e esmagado pelo governo à época. Esse não é o estilo do governador, o governador é democrata e respeita a população. Agora, o governador disse qual é a sua visão. Se o prefeito eleito quiser cuidar da cidade, da administração da gestão, encontrará uma parceria forte do governo do estado. Se o prefeito de Salvador quiser fazer da prefeitura uma trincheira política, evidente que aí a relação será de disputa política. A opção, portanto, não está no governo, está colocada para o prefeito eleito da cidade, a ele caberá fazer a escolha. Se ele quer transformar o Palácio Thomé de Souza numa trincheira política, ou se ele quer transformar e ajudar a resolver os problemas de Salvador. Esperamos que a opção dele seja por cuidar da gestão e ajudar o governo do estado e o governo federal a fazer os investimentos que a cidade precisa.



Tribuna – Passadas as eleições municipais, vários partidos da base começam a avaliar o tamanho de cada um. O PDT, por exemplo, já fala abertamente em ampliação do espaço no governo. Como é que o senhor avalia essa antecipação?

Rui – Eu já ocupei o espaço da gestão da política do governador, que foi no período que eu estava na Serin (Secretaria de Relações Institucionais). Atualmente eu não cuido da política, eu cuido da gestão e quem é o responsável por essa arquitetura da política é o secretário Cézar Lisboa. Portanto, até por respeito a ele, eu prefiro não especular muito sobre composição dos aliados e composição do governo porque essa tarefa e a responsabilidade dela cabem ao secretário Cézar Lisboa. Eu prefiro me ater aos projetos de governo e às ações do governo.



Tribuna – Mas enquanto braço direito do governador – e petista também –, como é que o senhor vê isso? Porque eles se antecipam ao governador, inclusive.

Rui – É natural que após toda eleição os partidos aliados busquem uma nova composição dos governos que participam, tanto estadual quanto federal, com base no resultado da eleição. Todos vão dizer, “olha, eu cresci e portanto eu quero um espaço que corresponda ao meu tamanho”. Outros vão dizer: “olha, você cresceu, mas eu ainda sou o dobro, o triplo do seu tamanho. Parabéns que você cresceu, mas eu ainda sou muito maior que você, então não tem por que você ocupar o espaço que eu ocupo”. O governador sabe muito bem conduzir isso e eu acho que a prioridade nos próximos dois anos é a gestão e a entrega à população daquilo que está planejado. Esta é a prioridade do governo. Nós vamos priorizar que as pessoas que ocupam e que ocuparão espaços no governo serão aquelas pessoas que terão compromisso direto e efetivo com a gestão. A partir daqui, nós precisamos entregar os projetos, alguns deles eu já me referi, outros como o viaduto do Imbuí e o viaduto em Narandiba. Nós vamos precisar de gente que faça a gestão e que acelere as ações de governo. Esta é a determinação do governador. Eu diria que a preocupação maior que está na cabeça dele é menos política e mais gestão, porque o ano de 2013 é o ano de tudo aquilo que foi pensado, organizado antes, feitos os projetos, tornar realidade, tornar físico, tornar a prestação de serviços e as obras que nós vamos licitar.



Tribuna – Nesse caso, uma reforma que se fala no meio político para abrigar os aliados que não conseguiram se eleger estaria descartada?

Rui – Eu fico aqui com a resposta do governador. Ele disse que não fará uma reforma para recompor politicamente o governo e sim mudanças pontuais onde ele entende que é necessário melhorar a gestão ou atender essa ou aquela representação política que não está representada, mas não fará uma mudança ampla do ponto de vista de reacomodação das forças políticas.



Tribuna – O senhor tocou no assunto 2014. O PT tem vários cogitados e o nome do senhor é tido como um dos mais fortes. Pode-se dizer que seu nome está no páreo?

Rui – Eu digo sempre o seguinte, isso é bom que o PT e que os partidos aliados tenham nome. Não é só o PT que tem nome, nós temos outros partidos que têm nomes cogitados também. Isso é bom que nós tenhamos quadros políticos à altura de pleitear ou de cogitar para ser governador em 2014, mas eu diria que a minha cabeça está voltada para a gestão e para a organização do governo. Eu tenho plena convicção de que se nós materializarmos tudo aquilo que está planejado e feito os projetos, o governador chegará em 2014 com amplas condições, como Lula chegou em 2010, de fazer o sucessor. No momento que o governador considerar adequado, ele vai chamar os aliados e chegar à conclusão de qual é o melhor nome que deve sucedê-lo. Eu acho que nesse momento todos nós devemos nos concentrar, nos dedicar para no ano de 2013 melhorarmos os serviços e as ações de governo e muito do que foi planejado.



Tribuna – Mas o governador já teria dito que tem dois prediletos, que seria o senhor e o secretário José Sérgio Gabrielli. O que o senhor diz a respeito?

Rui – Eu nunca vi o governador falar isso.



Tribuna – Teria levado , inclusive, a presidente Dilma...

Rui – Não, isso aí foi, na visita com a presidenta, nós fomos lá como secretários do Planejamento, responsável pela captação de empréstimos e de recursos, e a Casa Civil, como responsável pela execução dos projetos. Na introdução da reunião, o governador fez uma brincadeira: “eu trouxe aqui dois dos pretendentes a governador em 2014, é até bom que a senhora vai conhecendo para quem sabe a senhora vai até lá me ajudar a escolher”. Ela brincou: “essa tarefa, eu já não posso ajudar porque é uma tarefa muito difícil. Fica com você mesmo a escolha”. Tem outros nomes, evidente. O governador eu nunca ouvi falando que tem preferência. Tem vários nomes colocados, então eu acho que é o momento de todos os nomes que estão colocados nos dedicarmos a ajudar o governador a materializar todos os planos e ações de governo. Todos os nomes que têm surgido até agora têm ajudado o governador. Acho que nós teremos, com certeza, uma chance enorme de fazer sucessão, porque chegaremos lá unidos e entregando projetos e ações de governo.



Tribuna – Existe a possibilidade de sair um nome que não seja do PT?

Rui – A possibilidade de não ser um nome do PT, eu acho plenamente possível. Eu entendo que quando você forma uma aliança, você forma aliança com base num projeto político. E este projeto político é natural que os nomes, independente da filiação partidária, sejam avaliados. Eu entendo como natural que qualquer nome da base aliada pode representar esse projeto. Não é limitado ao PT liderar. E repito: este não é o momento adequado e não podemos perder o foco. O nosso foco deve ser 2013 como o ano de realização do governo. E, após isso, nós devemos fazer o debate da sucessão. Se nós misturarmos os assuntos, vamos gastar energia e comprometer a gestão e a entrega das ações de governo, e isso pode atrapalhar a própria sucessão.



Tribuna – Como o senhor viu o mensalão agora, as penas aplicadas aos acusados de liderarem o esquema?

Rui – Evidente que, como cidadão que sou, respeito a decisão da Justiça, porque numa sociedade democrática, você tem diversos poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário, e nós temos, como cidadãos, que respeitar a decisão judicial. Só que, evidente, cada um tem o seu juízo de valor. Eu não acredito no mensalão enquanto pagamento aos deputados para votação. Não faz nenhum sentido imaginar deputados do PT recebendo recursos para votar projetos de governo do PT. Não faz nenhum sentido imputar a esses deputados que eles votariam condicionados ao pagamento. Isso não faz o menor sentido, por mais que o STF [Supremo Tribunal Federal] tenha reafirmado essa tese. A tese que eu acredito é que foi estruturado um financiamento de campanha para a base aliada, uma estrutura que se mostrou desastrosa, equivocada, e, infelizmente, me parece que utilizando de maneira indevida a captação de recursos irregular e ilegal. Repito: eu acho que as penas me parecem exageradas para o tipo de erro cometido, mas a quem cabe imputar as penas é ao Judiciário. Fica o ensinamento de que nós precisamos aprovar uma reforma política. Não é possível continuar com financiamento de campanhas como é feito. Isso não faz bem à política, não faz bem à cidadania, não faz bem ao país. E eu posso garantir a você que a maioria dos deputados não gosta desse modelo, porque é ruim e deixa a democracia muito dependente do poder econômico. Uma sociedade democrática se faz com eleições, isso é fato. Nós precisamos ordenar o financiamento para que seja cada vez mais independente do poder econômico e ela garanta apenas a dependência do eleito com o eleitor. Sem nenhuma intermediação, sem nenhum peso dos financiadores de campanha. Eu defendo o financiamento público de campanha.



Tribuna – Copa do Mundo, além da Arena Fonte Nova, o que é que pode se destacar como a grande herança para a cidade e para o estado?

Rui – Sobre a Copa do Mundo, nós temos a arena, as vias de acesso à arena, a mobilidade urbana, que também será associada às obras de infraestrutura para a Copa do Mundo, o novo terminal portuário para turismo, que já está em obra, e eu diria que a grande herança será também o que conseguirmos projetar de visibilidade para o estado. Nós queremos integrar, para que os turistas e os visitantes que venham para a Copa do Mundo não fiquem só em Salvador. Nós queremos que eles conheçam o Litoral Norte, o Baixo Sul, a Chapada, as praias do Extremo Sul. Porque todos esses visitantes, entre um jogo e outro, vão passar mais dias aqui e que, quando eles retornarem aos seus países ou mesmo a outros estados brasileiros, eles voltem falando da receptividade do povo baiano, da beleza natural que a Bahia tem, da beleza das praias.



Tribuna – Obras a exemplo da do metrô poderão estar prontas para a Copa?

Rui – Sim, várias obras. Eu citei o complexo de viadutos do Imbuí e de Narandiba que nós vamos licitar agora e vai estar, sim, pronto para a Copa do Mundo. Nós vamos licitar a Pinto de Aguiar e a Orlando Gomes, que nós queremos que também estejam prontas para a Copa do Mundo, e também a Gal Costa e a 29 de Março, que, se não totalmente, em boa parte dela, nós queremos já estar pronta para a Copa do Mundo.



Tribuna – E o metrô, existe alguma possibilidade?

Rui – O metrô, nosso trabalho é no sentido de a linha 1 estar funcionando na Copa do Mundo e que nós tenhamos algumas estações também da linha 2 operando. Nós precisamos cumprir e ser rigorosos com o calendário para que esse objetivo seja atingido.



Colaborou: Fernando Duarte.



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