quinta-feira, 5 de maio de 2011

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Fonte Nova para durar cem anos
Autor do projeto estrutural explica os desafios e soluções adotadas na nova arena de Salvador
Fonte: Portal 201

Engenheiro especialista na concepção de estruturas, Sydney Cunha já projetou edifícios, pontes, viadutos e alguns estádios, um deles o primeiro projeto do Corinthians no bairro de Itaquera, por volta de 1982. Agora, na Setepla Tecnometal, ele coordena o desenvolvimento da estrutura da futura Arena Fonte Nova, em Salvador, em sintonia com Marc Duwe e Claas Schulitz, autores do projeto arquitetônico do novo estádio de Salvador.
Nesta entrevista, Cunha revela desafios enfrentados por sua equipe e explica algumas soluções adotadas para garantir a durabilidade da nova arena por mais cem anos

Qual foi o ponto de partida do projeto estrutural da nova Fonte Nova?

O projeto da Fonte Nova mantém o perfil ovalado e o formato de taça, característicos do antigo estádio, que foi concebido pelo baiano Diógenes Rebouças, nos anos 1950. O estádio era considerado um patrimônio da engenharia baiana e havia a opinião corrente de que a obra deveria ser reformada e não demolida. Nós participamos da vistoria da estrutura anterior e nossa avaliação era de que a recuperação seria muito custosa em razão de seu estado de deterioração. Essa previsão depois ficou comprovada nos trabalhos de demolição: ainda antes da etapa de implosão da obra, quando foi feito o trabalho prévio de demolição, os componentes cediam ao primeiro toque dos britadores.

É impossível esquecer o acidente ocorrido com o antigo estádio da Fonte Nova, em 2009. Como se pretende evitar a degradação da nova estrutura?

O estádio está numa área com atmosfera salina, agressiva às armaduras de aço das peças de concreto. Devido a isso, trabalharemos com um cobrimento mínimo de 3 cm de concreto sobre o aço, nas peças pré-fabricadas de concreto. E toda a estrutura será feita em concreto de alto desempenho, com resistência de 30 a 40 MPa, o que corresponde a uma resistência de 300 a 400 quilos por centímetro quadrado. Esse tipo de concreto é mais compacto, mais fechado, o que evita a entrada dos agentes agressivos, como a umidade salina característica da região de Salvador. As lajes, também pré-fabricadas, terão resistência de 50 MPa, ou, 500 kgf por centímetro quadrado. Assim, dependendo dos cuidados, o estádio poderá durar até 100 anos, sem grandes obras.

Como foram concebidas as fundações do novo estádio?

O terreno de implantação é muito heterogêneo. O lado norte tem um solo de muito boa qualidade, o contrário do lado sul, onde o solo é fraco. Desta forma, no lado sul, projetamos estacas profundas, com diâmetros de 35 cm a 60 cm. No lado norte, estamos fazendo fundações diretas, sobre sapatas. Nas áreas de transição, usamos estacas metálicas. As estacas produndas, colocadas nos pontos de solo mais fraco, podem estar sujeitas a vibrações e por isso nosso consultor, o engenheiro Nelson Aoki, sugeriu a execução de aterros bem compactados na parte superior das estacas, além da colocação de estacas inclinadas, para travá-las horizontalmente.

Como são as estruturas superiores?

O estádio está estruturado em 72 eixos, marcados por pórticos compostos por pilares e viga. Parte desses componentes de concreto será moldada no local e parte será pré-fabricada pela empresa T&A. Dois componentes exigiram algumas inovações de projeto. Um deles é o que chamamos de "viga-jacaré", apoio das escadas que irão compor as arquibancadas. Essas "vigas-jacaré" serão pré-fabricadas e transportadas para a obra. As peças têm 10 m de comprimento e correspondem a três degraus da arquibancada.

Para os pavimentos planos, optamos pelo sistema de lajes alveolares, com espessuras de 21 cm e 26 cm, e mais leves do que uma laje maciça. A estrutura alveolar oferece mais segurança ao fogo, melhor isolação acústica entre os pavimentos e mais capacidade de carga. Essas lajes são pré-moldadas em formas de grande comprimento, protendidas (aplicação de uma força nas armaduras de aço internas) e depois cortadas. Esse corte é feito em formatos levemente trapezoidais, de forma a ajustar as lajes ao perfil elíptico do estádio.

E a cobertura, como foi desenhada?

O projeto foi desenvolvido na Alemanha. É uma tensoestrutura concebida com peças de aço e revestida com material têxtil, uma membrana do tipo PTFE. Agora, com os ajustes para a construção, uma parte dessa cobertura vai ser susbstituída por uma grelha metálica. Essa adaptação vai reduzir a parte da estrutura que estará em balanço, por meio de um novo pilar metálico que ficará entre o apoio externo e o anel central.

O projeto inteiro já passou pelos testes de vibrações?

As recomendações da Fifa estabelecem limites máximos de 6 Hz (ciclos por segundo) para vibrações verticais, aquelas que são produzidas, por exemplo, por torcedores pulando. Para as vibrações horizontais, como as provocadas por uma "ola", as vibrações não devem passar de 1,5 Hz. Nos ensaios com modelos matemáticos, a Fonte Nova chegou bem perto desses níveis e por isso estamos trabalhando para limitar as vibrações verticais a 5,2 Hz, e 1,25 Hz na movimentação horizontal. Fizemos ajustes no projeto, com a inserção de algumas paredes de concreto e a colocação de algumas estruturas metálicas, em forma de "X", que irão funcionar como contraventamentos. São mudanças sutis, mas que exigiram certa negociação para não prejudicar a arquitetura.

O projeto da Fonte Nova mantém o perfil ovalado e o formato de taça, característicos do antigo estádio, que foi concebido pelo baiano Diógenes Rebouças, nos anos 1950. O estádio era considerado um patrimônio da engenharia baiana e havia a opinião corrente de que a obra deveria ser reformada e não demolida. Nós participamos da vistoria da estrutura anterior e nossa avaliação era de que a recuperação seria muito custosa em razão de seu estado de deterioração. Essa previsão depois ficou comprovada nos trabalhos de demolição: ainda antes da etapa de implosão da obra, quando foi feito o trabalho prévio de demolição, os componentes cediam ao primeiro toque dos britadores.

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