terça-feira, 7 de julho de 2015

FIEB QUER FIM DA OPERAÇÃO LAVA-JATO PARA QUE INVESTIMENTOS SEJAM RETOMADOS




Bahia Econômica: O prefeito ACM Neto e a Associação Baiana para Gestão Competitiva (ABGC), com apoio da Federação das Indústrias da Bahia (Fieb) e da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo da Bahia (Fecomércio) lançaram nesta segunda-feira (06) a Salvador Negócios. Como essa instituição vai atuar? E qual papel a Fieb vai desempenhar?
 
Ricardo Alban: A ABGC é uma instituição sediada aqui, na Federação das Indústrias, e vai continuar sendo, mas ela estava um pouco inerte nesse último um ano e meio. Ela era voltada para a parte de preparar as indústrias para serem mais competitivas. Uma organização que tem sua respiração em Jorge Gerdau. Nesse período nós verificamos que tem inúmeras entidades que fazem as mesmas coisas, ficando os mesmos recursos e esforços totalmente diluídos. Então, desde que nós passamos a entender alguns processos, temos buscado convergir o maior número de entidades para um objetivo só, para que os esforços sejam menores e os resultados maiores, consequentemente.  A ABGC estava inerte e a prefeitura também tinha uma demanda de criar a Agência Salvador com o intuito de ter um centro de atração de investimentos e de estímulos a novos negócios aqui para a região de Salvador. Com esses objetivos, nós conversamos com a prefeitura que nos demandou essa parceria e verificamos que tinha um braço operacional que poderia ser a própria ABGC. Também convidamos a Federação do Comércio, porque Salvador ainda é uma cidade eminentemente de comércio e serviços, então, nada mais justo e coerente agregarmos essa entidade nesse esforço conjunto. Daí, dentre várias ações que fazemos com o Sebrae, Banco do Nordeste e Caixa Econômica, entendemos que esse seria um conjunto de parceiros necessários para dar mais sinergia e conteúdo a ABGC, que estava sendo feita agora. Então esse é o objetivo, ser um catalisador de oportunidades de negócios, de preparo, junto com a prefeitura, com a Federação das Indústrias e Federação do Comércio, tendo como entidade jurídica a ABGC.
 
BE: A produção industrial baiana vem obtendo resultados negativos e caiu 12,3% só no primeiro quadrimestre do ano. A que o senhor atribui essa queda?
 
RA: A queda da indústria não é de hoje. A perda na participação do PIB (Produto Interno Bruto) na indústria nacional já vem de alguns anos. Tanto que nos últimos nove anos, a queda foi de quase 10 pontos percentuais na participação do PIB. É um problema que é muito fácil de atribuir a A, B, C, ou D... Eu diria que é um problema muito mais cíclico e contumaz. O problema da queda na indústria vem de uma série de fatores: de perda de competitividade, de equívocos na política macroeconômica, de equívocos na política cambial e de um rol de explicações bastante longo. Mas, recentemente, toda a economia está sentindo o ajuste econômico, que era preciso ser feito decorrente de uma necessidade provocada pelos equívocos do passado. A indústria está caindo no Brasil de modo geral. Nós tivemos agora em junho uma leve recuperação, mas isso é pontual, gostaríamos muito que isso significasse uma mudança de tendência, mas infelizmente não vemos como tanto. Temos que ver as coisas como um todo, fechar um ciclo. Na Bahia, também temos ciclos muito claros e evidentes: como as paradas para manutenção da planta petroquímica, que impacta de alguma forma; e temos as férias coletivas na Ford, por exemplo. Então, a indústria como um todo, e a Bahia não é exceção, tem sentido o desaquecimento da economia
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BE: A operação Lava-Jato tem influenciado negativamente no nosso parque industrial. O senhor acha que isso tem influenciado na queda da produção industrial? Qual a perspectiva para a indústria baiana no próximo semestre, e para 2016?


RA: Nós dizemos que o empresário tem a obrigação de ser otimista, porque senão ele desiste de planejar, desiste de fazer novas tratativas, conquistar novos mercados, e tudo isso demanda um tempo. Mas também não pode ser fora da realidade. Não estamos esperando um segundo semestre muito animador. A indústria, como sabemos, é sempre a última a demitir, a última a tomar uma decisão mais definitiva, digamos assim, porque ela trabalha com mão de obra especializada, com escalas de valores, bens intermediários... Então, a decisão de reduzir ou de parar é a última, depois de fazer todas as tratativas. Nós estamos vindo de um processo de ajuste de estoques, de ajuste de férias coletivas, de funcionários com horas extras. Essas alternativas já se mostram esgotadas ao longo desse primeiro semestre. E nesse segundo semestre, as alternativas serão de tomar decisões mais pragmáticas, digamos assim. Cada dia está sendo de expectativas. Nós gostaríamos de ter um fechamento da operação Lava-Jato para que as coisas possam ser delineadas e possam voltar a ser planejadas, principalmente a cadeia petróleo e gás. E isso não está acontecendo, porque são planejamentos de médio e longo prazos. Esses planejamentos estão sendo suspensos, quando não estão sendo cancelados, e isso vai impactar a economia. O próprio ministro Joaquim Levy tem dito que está preocupado com o tamanho do desaquecimento da economia, porque isso provoca um efeito cascata. Eu acho que o governo federal percebeu que não tem outro caminho a não ser de mudar o posicionamento, e essa busca pelo comércio exterior é extremamente necessária, essa mudança de paradigma, de postura. Essa aproximação com os Estados Unidos e países mais desenvolvidos é necessária para que possamos sair desse ciclo vicioso. Nós precisamos de uma política industrial bastante racional para ser seguida. Não é possível que a indústria brasileira tenha uma participação tão insignificante do jeito que está aí. O mérito da agricultura tem que servir de exemplo para que o setor industrial também possa ter as mesmas oportunidades e o mesmo caminho.
 
BE: Nesse contexto, como o senhor avalia a questão do Estaleiro Enseada do Paraguaçu?
RA: Existem muitas informações sobre o Estaleiro. A informação que nós temos é que a Sete Brasil estaria revendo todos os contratos para reduzir para 14 sondas. Me parece que o caminho vai ser um ajuste no cronograma e/ou quantidade. Mas todos esses problemas passam pela equação da Lava-Jato, para que possam ser delineados os limites de responsabilidade, para que a economia volte a andar, para que a empresa, que é geradora de riqueza e geradora de emprego, possa ter condições de dar continuidade. Nós acreditamos que o Estaleiro da Bahia é um dos mais avançados tecnologicamente e isso dará respaldo a ele para que possa se candidatar a ser uma opção, prioritária, nesse processo, mas não conseguimos ainda vislumbrar uma clara definição. Isso certamente impactou a Bahia, e apesar de ainda não ser uma indústria de produção contínua, o Estaleiro vinha com uma determinada demanda de mão de obra, que impactava a renda, impactava aquela microrregião como um todo e também já vinha num processo de construção das sondas.  Isso tem um impacto, não tão significativo para justificar as quedas percentuais da indústria baiana mas seria algo que agregaria, assim como nós temos uma série de outros investimentos que foram feitos na Bahia, principalmente no Parque Eólico e outros mais, que vão dar resultados para minimizar a queda da indústria nesse segundo semestre, e principalmente em 2016.  Infelizmente, a Bamin ainda está precisando de uma solução, que depende de porto, depende de soluções com os sócios, e depende da Ferrovia Oeste Leste para sua conclusão. A Basf também, que iniciou este ano, certamente com a cadeia produtiva que vai atrair pode dar impacto na economia um pouco em 2015 e mais em 2016.

BE: Outro ponto que vem preocupando a Bahia é a questão portuária, uma vez que, apenas um terminal, do Porto de Aratu, foi incluído no Programa de Concessões e industriais reclamam do Porto de Salvador por ser obsoleto e da necessidade de modernização. Como a Fieb vê essa questão?

RA: A questão portuária é muito séria e muito delicada. Primeiro, porque Salvador goza de um privilégio que poucas cidades do mundo gozam, que é ser a segunda maior baía do mundo, uma baía de águas abrigadas, de profundidade razoável para se fazer várias logísticas portuárias, e isso tudo está sendo subutilizado. Portos é uma questão muito delicada até por conta desse programa logístico lançado. O próprio governador tem se manifestado e está buscando rever algumas posições para incluir outras demandas. Existe o Canal de Cotegipe para ser desenvolvido, e existem vários projetos individuais. A Federação tem buscado trabalhar para que esses projetos busquem um consenso, que convirjam para uma integração maior e daí tenha melhor efetividade. Já temos uma definição da Dow Chemical de abrir o terminal dela para fazer cargas de terceiros. Nós temos aí a Bahia Terminais com projetos interessantes, fora os outros terminais privados como o Dias Branco e da Braskem, que está falando em ampliar. Temos aqui um Conselho dos Portos, com pessoas bastante atuantes, mas acho que a Bahia precisa de uma política única de portos para que possamos usar todos os benefícios. Tem também o projeto do governo do estado de transformar uma parte portuária, para o turismo e eventos. Justifica dar um foco específico para a área portuária da Bahia pela grande tendência natural, principalmente, a Baia de Todos os Santos, não só o porto no sentido comercial, mas até mesmo na área turística, na área náutica, porque temos uma baía incrível com pouca exploração, que dá um resultado econômico e social imenso quando você tem isso utilizado a nível turístico, náutico e esportivo.
 
BE: Ainda com relação a infraestrutura, como o senhor analisa a questão da Ferrovia Oeste-Leste, cujas obras desaceleraram, e a Ferrovia Centro-Atlântica, cuja concessão foi tomada sem que haja perspectivas de investimento
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RA: Nós pretendemos dar todo o apoio possível que o governo precisar, porque entendemos que o governo é quem tem a maior legitimidade, e o governador colocou isso como uma bandeira também. Então, nós temos dado o suporte necessário, quer seja institucional, quer seja técnico. Nesse momento, é uma decisão política. Poucas decisões hoje num país podem ser simplesmente tomadas em relação a aspectos econômicos ou financeiros. Para vencer as prioridades dentro das determinações orçamentárias, o aspecto político pesa mais. Eu acredito que pela relação hoje do estado da Bahia com o governo federal esse é o caminho mais viável para conseguirmos uma solução para a Ferrovia Centro Atlântica.

BE: O novo secretário de Desenvolvimento Econômica da Bahia, Jorge Hereda, afirmou que gostaria de retomar o Projeto Aliança. O senhor acha que isso pode ser o início do estabelecimento de uma política industrial para o estado?RA: Nós deveremos montar uma equipe de trabalho, junto com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, para que o Sistema Fieb e suas entidades possamos verificar os vários protocolos e cartas de intenção já assinados para investimentos aqui no estado, para que juntos possamos fazer um esforço de levar capacitações, conhecimentos tecnológicos e qualificações do Cimatec para essas empresas que assinaram protocolo para investir na Bahia, para vermos o que podemos agilizar para que essa tomada de decisão seja mais efetiva. Esse também é um trabalho convergente, de buscar resultado econômico, principalmente industrial, para o desenvolvimento do nosso estado. O Projeto Aliança continua atualizado. Esse projeto foi feito conosco com financiamento da Petrobras, está sendo seguido e, inclusive, nessa reunião de esforço conjunto está a possível atualização, que nos parece não tão necessária, mas sim o acompanhamento desse Projeto Aliança. É um projeto mais macro, para diretrizes que estão sendo seguidas. Vamos ver a luz da dinâmica da economia, na Bahia e também no Brasil, o que precisamos aprofundar em termos de análise ou o que precisa ser dado um foco maior ou menor. Não temos ainda esse trabalho mas, dentro desse escopo de reuniões, estamos programados para a próxima semana nos reunir com a Secretaria e com Jorge Hereda. A Fieb continua e continuará trabalhando muito ligada ao governo do estado para viabilizar o desenvolvimento econômico, principalmente industrial. Estamos conversando muito com o estado sobre parceria com o Cimatec. Estamos recebendo do Estado uma área razoável (em torno de um milhão e meio de metros quadrados) no Polo Petroquímico para construirmos o Cimatec Industrial. Onde nos dará condições de atender as demandas da parte de energia eólica, energia fotovoltaica e outros tipos de competências.
 
BE: A Fieb inaugurou, recentemente, sua unidade de supercomputadores, uma das mais importantes do Brasil e da América Latina. De que forma isso pode ajudar a indústria baiana?
RA: Originalmente e principalmente o supercomputador está sendo voltado para toda a análise do pré-sal. Todo o estudo da parte sismológica que envolve cálculos numéricos bastante complexos está sendo centralizado aqui na Bahia para dar todo o suporte para o pré-sal. Obviamente, como o computador tem disponibilidade ele vai servir para outros projetos, inclusive, com a parte da Universidade. Vai servir de estímulo a pesquisas, atrair novos investimentos e demandas de serviços. Quanto mais qualificamos o Cimatec, mais temos condições de atrair, e temos vários outros projetos em discussão. Inclusive, a Faculdade Cimatec foi escolhida a melhor do Norte/Nordeste esse ano, e nesse segundo semestre estamos transformando ela em campus universitário para dar uma melhor diversidade as áreas de Engenharia. Queremos criar mestres e doutores também para a aplicabilidade na indústria.
 
BE: Que balanço o senhor faz das realizações da Fieb desde que o senhor assumiu a presidência, inclusive, em relação a interiorização da instituição?

RA: Esse período que nós temos aqui é uma continuidade de um programa que começou no dia 1º de abril do ano passado. Basicamente, tem um ano e três meses que esse processo começou, que é um processo de continuidade, cada um com seu estilo mas as premissas são as mesmas: interiorização, apoio sistemático a pequena e média indústria, sem perder o foco sobre as grandes indústrias porque elas permitem a formação de cadeias produtivas de valores, são nelas que surgem as oportunidades para a pequena e média indústria se inserir e obter seu espaço. Temos trabalhado sempre em parcerias. Qualquer entidade ou instituição que seja proativa em um determinado segmento nós buscamos trabalhar em parceria. Temos a Federação do Comércio, Federação da Agricultura, Sebrae, Banco do Nordeste, Caixa Econômica, Desenbahia todas essas instituições, correndo o risco de não ter citado algumas, mas não seriam menos importantes, nós temos buscado interagir. É perceptível que desde o ano passado, a Fieb está buscando trabalhar com novos parceiros onde não importa quem é o condutor, não importa quem é o patrão, mas que possamos chegar junto e compartilhar, e a Agência Salvador é um exemplo típico disso, nós esperamos que outros desses possam surgir.

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