terça-feira, 7 de julho de 2015

ARMANDO AVENA - A GÊNESE DO ATRASO OU CLICHÊS DA BAHIA




A Bahia tem seus clichês e eles, por vezes, são a gênese do nosso atraso. Em sua acepção figurada, clichê é aquilo que é repetido reiteradamente, sem reflexão ou originalidade e na Bahia eles se repetem. O repúdio a grande empresa, o combate a verticalização da orla e da cidade, o elogio a agricultura de subsistência e ao auto consumo, a produção para consumo interno, tudo isso são clichês ainda hoje repetidos reiteradamente. Às vezes, a defesa desses  temas é fruto da ingenuidade ou do desejo abstrato por um mundo melhor, outras vezes decorre de um ódio mortal ao capitalismo, ou obedece a razões ideológicas. Alguns citam Marx, mas poucos o leram, afinal, não vamos esquecer que para ele o socialismo seria uma etapa superior ao capitalismo e impedir sua realização seria atrasar o caminho para a revolução.

Um desses clichês é aquele que prega a produção para consumo interno e   repudia a grande empresa, defendendo indústrias absorvedoras de mão-de-obra. Lembro, por exemplo, que Rômulo Almeida, mestre do planejamento na Bahia, quando propôs que empresas do Sul e Sudeste, em associação com as empresas estatais, recebessem subsídios para vir se instalar na Bahia e assim criar o Polo Petroquímico foi criticado e teve suas ideias questionadas.

Como o governo iria apoiar grandes empresas, que iriam produzir para abastecer o mercado do Sudeste? O ideal não seria que o governo apoiasse empresas locais e que a industrialização fosse absorvedora de mão-de-obra e  voltada para abastecer a própria região?  Rômulo mostrava que isso era impossível, que não se podia criar uma industrialização voltada para o mercado nordestino pelo simples fato de que as empresas do Sudeste já abasteciam esse mercado e que empresas intensivas em mão-de-obra não seriam competitivas.

Por isso, era preciso atrair grandes empresa, intensivas em capital, que estavam sediadas no Sudeste, para assim industrializar o Nordeste. Quando alguém insistia muito na ideia de incentivar as pequenas empresas absorvedoras de mão-de-obra a produzir com tecnologia local visando o mercado nordestino Dr. Rômulo dizia: “Ah, sim, vamos implantar um modelo pastoril artesanal”... Naturalmente esse modelo não sobreviveria num mercado integrado nacionalmente. Para competir, teríamos de ter empresas de ponta, voltadas para o mercado nacional e assim foi feito.

Outro clichê é aquele que condena com unhas e dentes a construção de prédios e a verticalização da orla e da cidade do Salvador. A não verticalização é irracional e desperdiça recursos públicos, afinal Salvador é uma península e, se não for verticalizada, teremos que distribuir sua população de 3 milhões de habitantes numa área enorme, com um custo altíssimo de infraestrutura, criando uma cidade cada vez mais espalhada ao longo da BR.324. E imagine o leitor o custo da infraestrutura de transporte, de energia, de habitação dessa cidade espraiada que, sem verticalização, terminará por se conurbar com Feira de Santana transformando-se num monstro urbano.


E o pior é que o efeito colateral da não verticalização de Salvador foi a degradação de sua orla, a única do Nordeste ocupada por supermercados, terrenos baldios, borracharias, concessionárias, supermercados e cabarés. Se, ao contrário, a construção racional de prédios fosse permitida – com parâmetros que impedissem o sombreamento, os prédios adensados e outros critérios modernos – Salvador teria uma orla muita mais bonita e habitada como, aliás, ocorre maioria das cidades do Nordeste.

Infelizmente, na Bahia, há, em alguns círculos retrógrados, um pavor a verticalização, um medo quase freudiano dos edifícios e tão grande que, provavelmente, o bairro de La Defensé, em Paris, com seus prédios monumentais, seria rejeitado por muitos dos nossos urbanistas sob o argumento de que desvirtuaria  o patrimônio da Cidade Luz. Mas La Defensé  está lá, a poucos quilômetros do centro de Paris, sem que isso afete sua história e sua beleza.

Outro clichê muito comum está na agropecuária, e propõe a produção para o autoconsumo e a disseminação do minifúndio, como forma de ocupação da terra. Ora, isso é como voltar ao período pré-capitalista  e  condenar o pequeno agricultor a subsistência e a miséria. Nos países desenvolvidos não foi o latifúndio que permitiu o desenvolvimento da agropecuária, mas tampouco foi o minifúndio, incapaz de gerar excedente e levar a produção ao mercado.  O caminho para o desenvolvimento é a chamada Via Farmer, o modelo de pequenas e médias propriedades altamente produtivas.


Pois é, esses clichês se multiplicam na Bahia e assim seguimos querendo produzir para o mercado interno, idolatrando indústrias absorvedoras de mão-de-obra, que quebram por que não podem competir com às tecnologicamente desenvolvidas, querendo uma cidade não-verticalizada, mas com uma orla decadente e desabitada. O suprassumo desses clichês do atraso eu ouvi em uma reunião na Sudene quando defendia enfaticamente o turismo internacional como fonte de desenvolvimento para o Nordeste e ouvi alguém propor algo menos megalomaníaco:  uma política de estímulo ao turismo intraregional, dentro das próprias fronteiras nordestinas.

E, assim, ao invés de estimular a vinda de dólares e euros, de americanos e europeus, o governo deveria estimular o turismo interno na região, de modo a que piauienses visitassem pernambucanos, estes visitassem alagoanos e assim sucessivamente... Pois é, falácias como essa se multiplicam, e os clichês se repetem na Bahia e no Nordeste e eles são o símbolo do atraso e da paralisação. Superá-los é caminhar em direção ao futuro.       

                          OBRA SÓ COM PROJETO EXECUTIVO
Para que grande parte da corrupção no Brasil fosse eliminada das obras públicas, bastava que um dos nossos deputados estabelecesse por lei que toda  obra ou projeto feito no Brasil pelo poder público tivesse de apresentar projeto executivo no momento da licitação, e que esse projeto não pudesse ser modificado a não ser com autorização do Tribunal de Contas. Hoje, a maioria das obras são licitadas apenas com a apresentação de projeto básico, cujo valor estimado é completamente modificado por causa das exigências do projeto executivo feito a posteriori. O processo poderia ficar mais lento, mas ficaria muito mais transparente
        
                     A QUESTÃO DO ESTACIONAMENTO DOS SHOPPINGS
Os Shoppings Centers de Salvador escolheram um momento inadequado para cobrar o pelo uso do estacionamento. Num momento de recessão generalizada e queda da demanda, a medida pode beneficiar os donos dos Shoppings, mas vai prejudicar os lojistas. Claro, o impacto maior ou menor  vai depender do nível de renda, da localização e de outros fatores. Os frequentadores de renda mais alta, por exemplo, não serão afetados pela medida.

Mas os de classe média passarão a ser mais racionais, limitarão suas idas aos shoppings, darão preferência na hora do almoço ao restaurante da equina, que agora ficou mais barato, e, se a proximidade permitir, vão frequentar mais os shoppings que não cobram pelo serviço, como o Itaigara, o Paseo, e outros shoppings menores. A classe média não deixará de ir aos grandes shoppings, mas irá menos e gastará menos. A Classe C, especialmente aquela que não tem automóvel, não será afetada, mas a parcela emergente desse estrato, que com sacrifício comprou seu carro, vai fugir dos grandes shoppings
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Fonte:Bahiaeconômica

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