Entrevistas / Política por - Osvaldo Lyra
Tribuna da Bahia
Ficam prontas, conforme ele, as intervenções em curso na Paralela (Av. Pinto
de Aguiar, os viadutos do Imbuí, os viadutos de Narandiba, o acesso à estrada de
Curralinho, que vai ligar a Luis Eduardo ao Curralinho, no Stiep, a alça de
ligação da BR-324 à Av. Luis Eduardo Magalhães).
Ainda, na primeira quinzena de março, terão início os corredores da Orlando
Gomes, 29 de Março, Gal Costa e ligação Lobato – Pirajá. “Nós vamos também ter
em 2014 o VLT do Subúrbio funcionando”. Quando o assunto foi sua popularidade,
destacou apostar em seu potencial à medida que as pessoas passem a conhecê-lo e,
por tabela, alfinetou os adversários. “O inverso eu digo para quem é bastante
conhecido e tem grau de rejeição grande. Essas pessoas, sim, em minha opinião,
precisam se preocupar porque elas não têm uma imagem a ser apresentada, elas já
apresentaram sua imagem ao público e o público não gostou do que viu. Eu, pelo
menos, tenho o benefício da dúvida. As pessoas não me conhecem, vão passar a me
conhecer, e eu tenho convicção de que, pela força do projeto, nós vamos nos
afirmar em 2014”.
Rui Costa: O último ano é de
materializar, de concluir os projetos que foram iniciados. Nem tudo é concluído,
por exemplo, a ponte. Você não vai concluir a obra, vai concluir o projeto e,
com o projeto em mãos, a obra vai ser licitada. É o momento de concluir projetos
ou obras para que, em um novo governo, aquilo que foi pensado, planejado ou,
eventualmente, já esteja em obras, seja alavancado.
Rui
Costa: Projetos nós temos na área de saúde, a rede hospitalar
construída. Temos o HGE 2, que é mais um hospital, o hospital de Seabra, tem
mais o hospital da região sul, em Ilhéus, estamos construindo o novo hospital
para substituir o Couto Maia. Estamos falando de sete ou oito novos hospitais. A
rede hospitalar é uma marca.
As obras de mobilidade urbana, que têm como carro-chefe o metrô, as vias de
Salvador e o VLT.
Três, eu diria, a mudança logística do Estado. Há uma mudança do perfil da
infraestrutura logística com rodovias, ferrovia e o porto. Esse tripé junto com
novos aeroportos. O foco na logística do Estado marcará os oito anos do governo
Wagner, se constituindo na maior marca. Eu posso afirmar que nenhum governo, na
Bahia, fez tanto em oito anos quanto o governo Wagner nessas três áreas.
Ficará também a marca na área de saneamento. O investimento em água e esgoto
passará de oito bilhões de reais. Três milhões e meio de baianos que não tinham
acesso a água potável passaram a ter, dois milhões de baianos passaram a ter as
residências ligadas à rede de esgoto. Essa é outra marca que posso afirmar que
nenhum outro governo beneficiou tanto quanto o governo Wagner. Eu entendo que
não é uma obra, mas uma marca. O governo mudou o padrão de relação do Estado com
a sociedade civil, com o poder político local, com as prefeituras, com a
assembleia legislativa e com os outros poderes. Há uma mudança completa do
paradigma anterior com o que existe hoje. Foi deixada no passado, como parte da
história da Bahia, a forma antiga de relacionamento com os outros poderes,
instituindo uma relação democrática, republicana, de respeito aos poderes
constituídos, uma relação que busca harmonia, guardando a autonomia de cada
poder. Autonomia pelo diálogo e não pela força.
Tribuna: Na assembleia, teve um exemplo disso?
Rui Costa: Eu acho que sim. Todas as
votações, a própria instituição do orçamento impositivo e o conjunto de diálogos
que se fez. Era inaceitável, em gestões anteriores, o Executivo aceitar
alterações no Legislativo do seu projeto. Na época que Paulo Jackson era
deputado estadual, ele brincava e falava nas reuniões do PT que o governo não
aceitava nem correção ortográfica. Quando, porventura, o projeto chegava com
algum erro de ortografia, nem fazer alteração ortográfica se aceitava, muito
menos alteração de conteúdo. Ao longo do nosso governo nós fomos aceitando
mudanças de conteúdo nas emendas, independente do autor, desde que contribuísse
para melhorias. A Assembleia foi um espaço de mediação dos interesses do Estado
com outros poderes e como a sociedade civil, que tinha, muitas vezes, sugestões
de alterações nos projetos do governo. A Assembleia foi o espaço de negociação,
como deve ser o parlamento. Isso o governador deixará como uma marca também.
Tribuna: O governador lhe qualificou como pai da mobilidade urbana de
Salvador. Esse adjetivo lhe serve, lhe agrada?
Rui Costa:
É uma generosidade do governador. Eu cheguei aqui em janeiro de 2012,
quando me lancei deputado federal, e havia uma nítida percepção nossa de que o
governador desejava, desde 2007, fazer uma intervenção em Salvador. Ele não
tinha conseguido, até então, por vários fatores, inclusive, uma dificuldade em
concretizar as intenções de diálogo entre prefeitura e Estado. Quando cheguei,
havia uma manifestação clara do governador nessa linha e eu fui trabalhar por
isso. Reuni a equipe para priorizar o metrô e abri um diálogo direto com a
prefeitura para que houvesse a transferência para o governo do Estado. Chamei
também as minhas equipes da Conder e da Sedur para pensarmos intervenções que
fossem complementares ao metrô e que servissem para aumentar a mobilidade urbana
na cidade. Em minha opinião, essas obras que hoje mandamos para o diário
oficial, o edital dos dois corredores que alimentam o metrô, um que complementa
a Av. Pinto de Aguiar, que já está em obras, que é a Gal Costa e mais a ligação
do Lobato, a Orlando Gomes e a 29 de Março que vai até Paripe. Estamos falando
de um investimento de um bilhão e meio com o novo trecho da 29 de Março até
Paripe que complementa o metrô, que é um investimento de quatro bilhões de
reais, além do que já foi feito. Eu cheguei com essa determinação do governador
e nós tivemos, graças a Deus, êxito. Primeiro, assim que fiz os projetos, nós
fomos imediatamente à presidente Dilma para que ela garantisse os recursos.
Sobre a mesa da presidente eu abri o mapa de Salvador já com o traçado e ela,
imediatamente, autorizou. Nós conseguimos tornar isso realidade, o que me
permite afirmar que, a partir do segundo semestre de 2014, a população de
Salvador sentirá diferença na forma de se locomover dentro da cidade. À medida
que essas obras forem concluídas, inclusive o metrô, o prazo é de 42 meses a
contar de outubro deste ano, eu posso afirmar que muito vai mudar. Não só a
forma de se movimentar em Salvador, como abriremos novos vetores e geradores de
emprego, que são esses corredores transversais que abrigarão áreas comerciais e
de serviços.
Tribuna: O que, desses projetos de mobilidade, vai ficar pronto em Salvador até dezembro do ano que vem?
Rui Costa:
Vamos separar em duas partes. Ficam prontas, no primeiro semestre, as obras em
curso na Paralela: Av. Pinto de Aguiar, os viadutos do Imbuí, os viadutos de
Narandiba, o acesso à estrada de Curralinho, que vai ligar a Luis Eduardo ao
Curralinho, no Stiep, a alça de ligação da BR-324 à Av. Luis Eduardo Magalhães.
Na primeira quinzena de março, teremos início desses corredores a que me eu
referi: Orlando Gomes, 29 de Março, Gal Costa e ligação Lobato – Pirajá. Esses
corredores têm o prazo de 24 meses para ficarem prontos. São obras grandes e
envolvem duas mil desapropriações. Nós vamos ter em 2014 o VLT do subúrbio
funcionando, vamos ter um período em que o trem atual e o VLT vão conviver
porque o fornecedor não consegue entregar todos os equipamentos em 2014. Com
isso, vamos manter o trem funcionando e vamos acrescentando os veículos novos.
Quando tivermos um número suficiente, o trem sai de circulação completamente ao
tempo que o VLT chega ao Comércio. Nós já teremos em 2014 veículos novos rodando
no subúrbio e chegaremos até o Comércio, no final de 2015, com o trem
funcionando. Hoje, o trem tem o intervalo de 40 minutos e nós queremos reduzir,
em 2014, para pelo menos 15 minutos.
Tribuna: O Estado está passando por uma crise financeira que
atrapalha vários outros Estados do país. Qual a previsão do final do governo, as
contas estarão saneadas, a presença do governo no cadastro de inadimplentes do
governo federal preocupa?
Rui Costa: Com relação ao
cadastro de inadimplentes, a imprensa fez uma grande publicidade disso como se
fosse algo novo. Esse cadastro é o registro de pendências do governo do Estado
em vários convênios e ações que foram feitas ao longo de anos. Eu diria que
todos os dias o governo entra nesse cadastro e sempre foi assim, desde 2007. Por
exemplo, entraram agora prestações de contas, pendências e convênios de 1982,
1990, 1995. À medida que a máquina burocrática do governo federal vai
trabalhando e os projetos vão sendo desengavetados, processos judiciais que
levam 10 anos para serem analisados, vão aparecendo pendências. Essa semana
apareceu uma de 1982. Não se trata de inadimplência financeira ou incapacidade
atual de gestão ou nome sujo, como a imprensa tratou. Ao longo de anos devem ter
milhares de convênios dos governos anteriores somados ao atual governo, junto ao
governo federal. Cada convênio desses, por menor que seja o valor, tem prestação
de contas, tem documento, então um processo que esteja tramitando há 10 anos e
nunca tenha sido analisado e os técnicos agora analisem e percebam que faltam
documentos, eles registram e colocam o Estado como inadimplente até que nós
possamos fazer eventuais pagamentos de contrapartida que estão em processo de
questionamentos durante 10, 15 ou 20 anos. Quando eu digo “nós” é o Estado, não
é esse governo. Tem a análise final concluindo que, de fato, tinha que pagar. Às
vezes a gente até ganha a ação, ou seja, ao invés de pagar quatro milhões em uma
contrapartida, o Estado tinha que pagar um milhão. Às vezes o Estado ganha, mas
são vitórias que estavam tramitando administrativamente ou até judicialmente.
São ações que não haviam sido concluídas e vão sendo todos os dias. Toda semana
tem processos administrativos ou judiciais que são concluídos.
Outro exemplo, a Secretaria de Educação. O prédio da Secretaria de Educação
pegou fogo alguns anos atrás. A Educação tinha centenas de contratos com o
governo federal. Os governos anteriores e o nosso já justificaram várias vezes
que não existem mais documentos, que se perderam no fogo, mas o governo federal
não aceita. Ele quer, de alguma forma, que se recomponha o processo. Então,
essas centenas de processos da Educação, por exemplo, vêm tramitando ações na
Justiça onde o Estado acionou judicialmente dizendo que não tem mais como
recompor esses processos. Recentemente, conseguimos uma liminar do STF para
retirar o governo do cadastro de inadimplentes porque o Ministério da Educação
queria uma prestação de contas de um processo que tem 20 anos, da época que o
prédio pegou fogo. Nós não temos o que entregar ao governo federal, até porque
nem era esse governo. Houve uma decisão do Supremo, uma lista de pendências que
ele mandou arquivar e anular, mas ainda restam outras da educação fruto disso.
Espero que a gente consiga logo se livrar disso.
Sobre a crise financeira, as contas estarão saneadas. Eu quero ressaltar que
todos os estados brasileiros passam por grande crise financeira. É evidente que
o mais rico, que é São Paulo, sente menos o abalo, mas o terceiro mais rico, que
é Minas Gerais, o governo adotou, recentemente, uma medida não desejável, em
minha opinião, do ponto de vista da administração. Ele acabou com o fundo de
previdência de Minas e todo o montante de dinheiro que tinha no fundo de
aposentadoria de Minas foi transferido para a conta corrente, ou seja, para
gastar. O Paraná, que é outro Estado rico, também está em uma situação
gravíssima para fechar as contas de 2013.
Existe uma situação grave das finanças dos estados e o carro-chefe da Bahia e
desses estados chama-se previdência. Como tem a previdência privada, o correto
seria, ao longo de todos esses anos, os governos terem criado uma poupança onde
o dinheiro para pagar os aposentados fosse depositado. Você é trabalhador da
ativa, o dinheiro que você contribui todo mês fosse ali depositado para que,
quando você se aposentar, você receba desse fundo a sua aposentadoria. Nunca foi
criado esse fundo, o único fundo que existe, hoje, que é o Baprev, foi criado
pelo governador Jaques Wagner. O pagamento dos aposentados é feito com o
dinheiro corrente. A receita do Estado, arrecadada no mês, é que paga os
aposentados. Portanto, esse eu diria que é o maior problema de todos os estados
brasileiros. Nenhum deles tem estrutura de poupança de previdência capaz de
suportar o pagamento dos aposentados. Em 2014, o governo da Bahia vai injetar
dois bilhões e meio para complementar o pagamento dos aposentados, que, em tese,
esse dinheiro de pagamento dos aposentados não deveria sair da receita corrente.
Ele deveria, ao longo de décadas, ter sido colocado em um fundo. Esses dois
bilhões e meio poderiam ser investidos em saúde, educação, estradas, água,
esgoto, mas temos que usá-los para pagar o salário dos aposentados.
Nós precisamos pensar junto ao governo federal uma solução para isso, e eu
também sou defensor de um novo pacto federativo entre União, estados e
municípios. Não é possível continuar, na minha opinião, com essa divisão do bolo
tributário onde estados e municípios recebem uma fatia muito pequena frente aos
desafios que têm que lidar diariamente. Entre eles a segurança pública e tantos
outros desafios. Com essa divisão tributária, não é possível os estados mais
pobres resolverem os seus problemas, exceto São Paulo, talvez Rio por causa do
petróleo. Os outros estados vivem uma dependência muito grande do governo
federal e mesmo os estados do Sul e Sudeste do país, como o Rio Grande do Sul,
vivem uma crise estrutural financeira muito grande. O governador do Rio Grande
do Sul fez um apelo ao governo federal que reestruture imediatamente a questão
do pacto federativo e ajude os estados para que possam ter um horizonte de longo
prazo e capacidade de investimento.
Tribuna: Além da questão previdenciária e da crise financeira
internacional, erros sucessivos na própria gestão da Secretaria da Fazenda podem
ter contribuído para o agravamento dessa crise?
Rui
Costa: Eu não acho que ocorreram erros na Fazenda que justificam a
crise. Você pode, eventualmente, analisar que aqui ou ali poderia ter ocorrido
uma maior arrecadação, mas a crise é estrutural e não pontual. Você pode dizer
que em determinado ano ficamos aquém da arrecadação em 100 milhões, em 200
milhões, em 300 milhões. O que, evidentemente, ajuda a fazer investimentos para
a arrecadação ser maior. Mas, não é esse o diferencial, por mais verdadeira que
seja a crítica que aqui ou ali poderia ter arrecadado um pouco mais. Não é
verdadeira do ponto de vista que seria a solução estrutural. A melhor forma de
você comprovar se isso que estou dizendo é verdade ou não é olhar os outros
estados. Não é possível que todos os 27 estados tenham errado juntos e por isso
todos estejam em crise. É como em uma sala de aula quando todos ficam para a
recuperação. Você se pergunta se o problema não é com o professor porque não é
possível que todos os alunos tenham problema. A mesma coisa com os estados. Se
todos, sem exceção, estão com problemas é porque, estruturalmente, tem algo que
precisa ser consertado.
Tribuna: Vamos falar agora de política. O senhor ainda é pouco
conhecido do eleitorado. Acredita que vai ter dificuldade para se viabilizar e o
que pretende fazer para se tornar um candidato
competitivo?
Rui Costa: Ao dizer que sou pouco
conhecido, existem dois lados, e eu prefiro sempre olhar as coisas pelo lado
bom. O lado bom disso é que os meus amigos dizem que as pessoas quando me
conhecem gostam de mim. Então, eu tenho um grande potencial, à medida que as
pessoas passem a me conhecer, passem a gostar. Portanto, isso se refletirá nos
próximos meses nas eventuais pesquisas. O inverso eu digo para quem é bastante
conhecido e tem grau de rejeição grande. Essas pessoas, sim, em minha opinião,
precisam se preocupar porque elas não têm uma imagem a ser apresentada, elas já
apresentaram sua imagem ao público e o público não gostou do que viu. Eu, pelo
menos, tenho o benefício da dúvida. As pessoas não me conhecem, vão passar a me
conhecer e eu tenho convicção de que, pela força do projeto, nós vamos nos
afirmar em 2014.
Tribuna: E o que fazer para se fortalecer, ganhar musculatura?
Rui Costa: É me tornar conhecido para
que as pessoas conheçam mais ainda o projeto de governo, que temos que
aperfeiçoar nessa reta final. Nós fizemos tudo, mas nem todas as pessoas
conhecem tudo, então temos que comunicar. Nós vamos rodar o Estado com os
partidos da base do governo preparando o programa de governo a partir do dia 13
de janeiro. Isso, em minha opinião, vai me tornar não só mais conhecido como
também o projeto que tocamos até aqui e o que pretendemos fazer a partir de
janeiro de 2015.
Tribuna: No último contato que nós tivemos, o senhor deixou claro de
que não só representa o novo como quer que os jovens participem dessa discussão
desse projeto de governo. É por aí, realmente, que pretende
seguir?
Rui Costa: Sim. Eu tenho essa convicção de
que ninguém será eleito fazendo apenas um histórico do que cada um fez. O
governador Jaques Wagner fez muito, mas a simbologia que eu faço é que ele
pavimentou uma estrada e é nessa estrada que nós vamos erguer a nova Bahia. Eu
quero renovar a política, me considero jovem e quero atrair a juventude para a
política. Quero mobilizar os diversos segmentos sociais do Estado, quero
incentivar que cada região debata durante 90 dias o desenvolvimento regional. Eu
vou percorrer o Estado em janeiro e fevereiro e propor que durante 90 dias, em
cada região, grupos de trabalho heterogêneos, formados por jovens, donas de
casa, empresários, professores, todos pensem no desenvolvimento regional. Quando
for abril e maio, eu vou voltar a essas regiões para coletar o que foi fruto do
trabalho dessas pessoas voluntárias, que nós vamos convidar e estimular para que
haja a maior participação possível. Vamos criar canais, também, pela internet.
Portanto, eu entendo que durante a pré-campanha, que é uma ação muito mais
partidária, de coleta de sugestões, e durante a campanha, nós queremos fazer
algo bastante interativo, participativo e ajustado com a modernidade. Hoje, a
juventude, a sociedade está extremamente conectada, o cidadão passou a ter um
papel central. Antigamente, só era permitido se organizar quem estava em
associações, sindicatos e entidades. Hoje não, qualquer cidadão, através da
internet, forma uma rede para debater qualquer assunto e instantaneamente
formam-se grupos de mil, duas mil, cinco mil, 10 mil, 500 mil pessoas para
debater determinado tema. Estas ferramentas, esse cidadão independente,
articulado, que quer ser protagonista deve ser chamado à cena e o governo deve,
de forma permanente, interagir com a população. Países do primeiro mundo já têm
feito uso dessas ferramentas para dialogarem de forma permanente com cada
cidadão que quer apresentar sugestões e críticas e, portanto, interferir nos
rumos do seu governo, seja estadual ou municipal
.
Tribuna: Geddel, Paulo Souto ou Aleluia? Qual deles lhe parece mais
fácil ou menos difícil vencer?
Rui Costa: Não tem
eleição ganha e nem adversário fácil ou difícil. Eu sempre gosto de comparar com
futebol porque fica mais fácil para as pessoas entenderem. De todas as seleções
brasileiras, a que eu gostei mais de ver jogar foi a de 1982. Foi uma seleção
cheia de craques que jogavam um futebol belíssimo e, em minha opinião, perdeu a
copa porque subestimou os adversários. Foi, de fato, talvez a melhor seleção que
o Brasil já montou que eu vi jogar, em minha opinião. Teve a que Pelé jogou, mas
aí eu tinha sete anos de idade e não tenho viva em minha memória.
Eleição é a mesma coisa. Não tem adversário fácil e nem difícil, não tem
eleição perdida e nem ganha. A eleição, assim como a Copa do Mundo, como a final
de campeonato, você ganha jogando os 90 minutos. E como diz o velho ditado, o
jogo só acaba quando o juiz apita após os 90 minutos. Até lá o jogo pode mudar,
portanto eu não subestimo adversários e não escolho adversários.
Evidente que, uma vez o candidato definido, é possível ajustar a comunicação,
o planejamento de campanha a depender do planejamento do adversário. Claro que
alguns têm características mais fortes do que outros e vice-versa. Coisas que
são pontos positivos em um, são negativos em outro. Então, não existe escolha de
adversários, o que vier nós vamos enfrentar e temos confiança da vitória pela
força do projeto.
Tribuna: De uma forma muito oportuna o senhor demonstra uma
preocupação com a comunicação e da maneira que vai se comunicar com o seu
eleitor. O senhor já começou a montar a sua estrutura de comunicação? Porque
2014 já chegou.
Rui Costa: Sim, já estou montando a
partir dos partidos da base do governo. A campanha só começa em junho, mas nós
já estamos montando uma rede a partir dos partidos. Eu acho que, seja em
campanha, seja em governo, o pilar central é a comunicação. Sempre foi em
qualquer época e hoje mais ainda porque as pessoas têm um acesso muito rápido à
informação, à comunicação. Houve evolução no sentido de que o cidadão não quer
mais ser plateia, ele quer ser protagonista, quer participar, quer dar opinião,
quer ser ouvido. Mais do que uma vontade, é uma obrigação de qualquer
governante, de qualquer candidato abrir espaço para ouvir as pessoas e abrir
canais onde as pessoas possam ser protagonistas. Sendo vencedor nas eleições, eu
vou buscar fazer disso realidade. A comunicação será o pilar central do governo
onde, não só se constituirá em uma mão única do governo para as pessoas, mas
também das pessoas para o governo. Será algo ativo, permanente. Evidente que não
vou fazer assembleias, mas as ferramentas disponíveis, hoje, permitem essa
interlocução e até a montagem de análises da contribuição de cada um. Existem
ferramentas para fazer filtros, agregar posições, estabelecer prioridades e
fazer avaliações das pessoas sobre aquilo que está sendo realizado. Portanto, a
comunicação não se restringe à publicidade, à propaganda do governo ficar
divulgando o que está fazendo, mas também a comunicação no sentido da população
para o governo. É isso que eu quero fazer e vou fazer utilizando as melhores
experiências existentes no mundo e, quem sabe, inovando algumas delas.
Tribuna: PP e PDT estão de olho na vice. Qual o critério para a
escolha do vice do senhor e quando será definido o
candidato?
Rui Costa: Até o final de fevereiro nós
queremos definir para entrar em março, logo após o Carnaval, com o nome
definido. Não tem um critério objetivo, nós vamos dialogar com o PP, com o PDT e
com os outros partidos. Vamos avaliar a opinião de todos, os prós, os contras e
tiraremos juntos uma posição, um consenso não só do partido, mas do nome que irá
ocupar a vaga de vice. Temos tempo para isso, os candidatos de oposição ainda
não fecharam as chapas e, portanto, não tem por que nos apressarmos para fechar
a nossa. A oposição ainda não definiu nem o candidato a governador, só tem a
candidatura do PSB colocada, que também não definiu a vice. Os outros não têm
nenhuma posição definida, então não tem por que ter pressa para essa
definição
.
Tribuna: Como o senhor vê a possibilidade de aproximação do PP ou do
PDT com a oposição, caso um dos dois fique de fora da sua
chapa?
Rui Costa: Eu não acredito nessa hipótese
porque o PP e o PDT são dois partidos da base do governo. O PDT, por exemplo, já
tem marcado no dia 17, inclusive, acertado com Marcelo Nilo, um ato em apoio à
nossa pré-candidatura, a exemplo do que fez o PSB em dezembro. Eu acredito que
nós vamos dialogar com o PP também, teremos a mesma manifestação. Portanto, eu
não acredito que vai haver deflexão de nenhum dos dois partidos da nossa base.
Não tenho dúvidas de afirmar que vamos compor com os dois partidos
.
Tribuna: O PSB deixa o governo do PT hoje. Lídice vai tirar votos do
senhor ou o senhor não sente nenhum tipo de ameaça em uma candidatura de Lídice
e Eliana Calmon?
Rui Costa: Nós vamos trabalhar
para que isso não aconteça. No evento em dezembro do PSD, o que nós vimos foi o
contrário. Eu vi muitos prefeitos do PSB presentes no ato de apoio à candidatura
de Otto e à minha pré-candidatura também. Eu acredito que haverá um movimento
inverso, até porque muitos não entendem e não aceitam o afastamento... Você faz
um projeto, ouvi muitos questionamentos sobre a nossa ida às cidades do interior
para pedir apoio para eleger a senadora, que fazia parte do mesmo projeto, e
agora nos abandona sem uma razão clara e específica. Não foi feito nada que
contrariasse o PSB, que afrontasse os seus princípios, os valores, os programas.
Por que isso? Então, é evidente que as pessoas sabem da necessidade do PSB em
ter palanques, uma vez que quer disputar a Presidência. Mas isso não é motivação
suficiente para levar diversas lideranças do Estado a dizer que vão romper. Não
é porque tem um membro do PSB que quer ser candidato a presidente que vai me
fazer mudar de posição no Estado. A percepção que eu estou tendo é inversa. É de
lideranças do PSB fazendo manifestação de apoio a nossa candidatura e a de
outro
.
Tribuna: O senhor acredita que o PMDB pode mudar os rumos se
desgarrar da oposição e ir, por exemplo, para um apoio à candidatura de Lídice
ou o senhor acredita que Geddel deve, realmente, marchar contra o
PT?
Rui Costa: É difícil fazer previsão sobre os
outros partidos. É melhor que eles próprios falem sobre isso. É difícil, hoje,
dar um prognóstico sobre o que cada partido da oposição vai fazer. Como eles
ainda não têm posição, então eu prefiro não dar palpite. Eu gosto de dar palpite
sobre os de casa. Os que fazem oposição eu deixo eles próprios seguirem seus
caminhos e darem a posição deles.
Tribuna: Definida a candidatura do PT. Há algum tipo de rusgas, de
mágoas por ter ficado fora do processo ou o partido está unificado em torno da
sua candidatura?
Rui Costa: O partido está unido,
nós vamos seguir trabalhando. Pinheiro e Gabrielli vão ajudar no programa de
governo e Caetano, que já é candidato a deputado federal, já está rodando pelo
Estado. Nós não temos dificuldade. O PT tem a característica de fazer debates
firmes, duros e, às vezes, publicizados. Mas, uma vez definida, o PT marcha
unido e eu não tenho dúvida que dessa vez vai ser a mesma coisa.
Tribuna: Qual a visão que o senhor tem do cenário nacional? Da
presidente Dilma, Marina Silva, Eduardo Campos, Aécio, qual o cenário que o
senhor vê e o impacto disso na campanha do senhor?
Rui
Costa: O cenário é positivo, de crescimento da presidente Dilma, as
pesquisas estão apontando para isso. O país vive, em minha opinião, um momento
extraordinário, e eu diria que há uma mudança completa de paradigma após o PT
governar durante 11 anos o país. Houve uma mudança significativa da mobilidade
social e não sou só eu que digo isso, o mundo inteiro enxerga assim. Esse
momento reflete a admiração das pessoas do mundo inteiro, cientistas políticos,
econômicos, que olham para o Brasil como a bola da vez, como a grande novidade,
como aquele que surgiu de onde ninguém esperava se reafirmando como nação
independente, como nação livre, democrática, como nação que ainda não resolveu
seus problemas, longe disso, mas que fez em pouco tempo, porque 10 anos é pouco
considerando o ponto de vista histórico, um processo grande de inclusão social,
de mudanças do seu mercado de consumo. O Brasil se transformou e passou a ser um
mercado, mesmo sob a lógica capitalista, desejado pelos investidores
internacionais, pelos grandes bancos, pelas grandes indústrias. Portanto, nós
ganhamos visibilidade, respeito e isso tudo foi feito com um processo de
inclusão social. Isso é o grande diferencial.
Eu cresci e vivi durante a minha infância e adolescência na ditadura militar.
Ouvi, muitas vezes, o discurso repetido do “vamos esperar o bolo crescer e
dividir”. O bolo crescia e nunca se dividia, e o Brasil nunca ganhou relevância
internacionalmente. Quando Lula chegou, isso foi invertido e ele disse: “O
Brasil só vai crescer, verdadeiramente, quando distribuir, porque vai criar uma
base de consumo lastro e mais amplo. Isso vai permitir que o país dê um salto”.
Foi o que aconteceu. Nesses 11 anos foi feito um processo de inclusão social que
aumentou a base de consumo, que criou uma força econômica para o país e,
portanto, eu acho que isso é muito sólido e ainda não se esgotou. Em minha
opinião, Dilma será reeleita e nós haveremos de continuar e concretizar esse
projeto que tanto está transformando o Brasil.
As manifestações de 2013 são frutos do otimismo do brasileiro, por mais que
pareça o contrário. Aí vale a máxima “em árvore que não dá fruto ninguém joga
pedra”. Se tem um governante ou um país onde ninguém espera nada, você não se
mobiliza porque sabe que não adianta fazer nada porque não vem nada, você torce
para que os dias passem rápido para acabar logo. É igual a um governo
pessimamente avaliado, tivemos alguns aqui, que ninguém nem criticava mais. As
pessoas só esperam entrar um novo governo. No nosso caso não, eu acho que a
população gostou do que foi feito, mas também querem mais, querem que as
mudanças sejam aceleradas.
Eu diria que as manifestações estão muito concentradas no aspecto da
política. Eu acho que...
Tribuna: Teremos manifestações em junho na visão do
senhor?
Rui Costa: Difícil prever. Grandes dessas
manifestações não dá para fazer previsões, é muito difícil. É um processo
social, que acontece, difícil de prever. Mas eu diria que foi muito mais uma
manifestação da sociedade dizendo para a política e para os políticos que o país
avançou e chega dessa brincadeira que vocês, às vezes, fazem. Queremos mais
seriedade no trato do dinheiro público, na condução do país. Muitas vezes, a
política e os políticos brincaram com a opinião pública e hoje em dia a
informação chega muita rápida e ninguém aceita mais isso. Todos têm que ter a
seguinte concepção: eu sou deputado federal, por exemplo, e não substituo a
vontade popular, eu represento a vontade popular, tenho que ter consciência
disso. Eu tenho que buscar uma média do que é o pensamento dos meus eleitores e
votar e me comportar como a média dos pensamentos dos meus eleitores, não sob a
minha vontade própria. A política tem que ser um espaço para as pessoas servirem
e não um espaço para as pessoas se servirem da política. É isso que a população
deu um recado bastante claro, não aceitando políticos que usam a política para
se servirem e não servirem ao próximo.
Tribuna: O senhor acredita que a dificuldade gerencial da presidente
Dilma em dar ritmo de mais celeridade às obras e a própria fadiga de poder do PT
vão ser levado em consideração na campanha nacional?
Rui
Costa: Eu acho que ela é uma pessoa de grande capacidade gerencial. O
que acho que está errado é o modelo. O modelo da transferência de recursos para
os estados e municípios tem que ser mudado. O modelo adotado hoje é o que se
desconfia fortemente e que estados e municípios vão executar corretamente as
obras e ações. Então, para isso você cria fiscalização. Temos hoje Controladoria
Geral da União, que tem a função de fiscalizar, o Tribunal de Contas da União,
que a função é fiscalizar, o Tribunal de Contas do Estado e do Município e, além
disso, temos um funil que, no repasse de recursos para os estados, está a Caixa
Econômica Federal. Todos os ministérios, os recursos que são transferidos para
estados e municípios passam pela Caixa Econômica Federal. Imagine a Bahia, todos
os municípios e todas as secretarias de Estado têm os projetos que passam pela
Caixa Econômica.
Tribuna: Esse gargalo poderia ser retirado?
Rui
Costa: Eu defendo que esse modelo tem que mudar radicalmente. Não se
pode atrasar as licitações. Os corredores, por exemplo, estão sendo licitados
agora, mas tem um ano tramitando junto à Caixa Econômica. Enquanto estou em
obras na Pinto de Aguiar, vou, praticamente, inaugurar obras que comecei com
recursos próprios. Os projetos de mobilidade ficaram prontos juntos com os
corredores. Os projetos que comecei com recursos próprios iniciei logo a obra.
Eu disse lá atrás: muito provavelmente no dia que eu tiver inaugurando as obras
com recursos próprios, estarei iniciando as obras com recursos federais. Esse
modelo, em minha opinião, atrasa o país, é ruim para a geração de emprego e o
país precisa ter rapidez. Nós temos tribunais de contas, União, estados e
municípios que repassam os recursos e cada um se responsabiliza. Se fez errado,
vai responder ao Tribunal de Contas e não atrasar o projeto um ou dois anos sob
a pretensão de que os técnicos da Caixa farão com que o projeto fique melhor.
Temos que mudar, responsabilizar governadores e prefeitos. Com certeza, a
maioria não vai errar, vai acertar, até porque o que já executamos com recursos
próprios já é fiscalizado pelo Tribunal de Contas do Estado e pelo Tribunal de
Contas dos Municípios. Portanto, eu acho que o nó que precisamos resolver junto
ao governo federal é: primeiro, o pacto federativo e, segundo, o modelo de
transferência, que, em minha opinião, não pode ter como funil a Caixa
Econômica.
Tribuna: Qual a mensagem que o senhor deixa para a população em 2014,
ano começando, campanha na rua?
Rui Costa: Eu tenho
certeza que 2014 vai ser melhor para todos. As pessoas vão ter ao longo do ano
as obras de mobilidade ficando prontas, o metrô funcionando e, portanto, as
pessoas vão gastar menos tempo para sair de casa e chegar no trabalho, menos
tempo para chegar na escola e voltar para casa, e no interior tivemos chuva
forte em dezembro e eu já posso dizer que teremos um 2014 de muita produção no
Estado, onde os agricultores familiares e os grande produtores iniciarão a
recuperação de três anos de seca, que foi a maior seca de todos os tempos na
Bahia, dentre outras ações.
Colaborou: Fernanda Chagas
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