A situação da seca no interior baiano não melhorou em nada. Pelo contrário. Fica visível a partir do levantamento feito pela Faeb – Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia – ao revelar prejuízos impactantes, em torno de R$4,6 bilhões, que nunca havia antes contabilizado. Mesmo assim o levantamento ainda não está completo. De acordo com o presidente da Federação, a seca é, hoje, “o assunto mais premente e mais grave do Estado, que impacta, profundamente, a produção, o meio ambiente e atinge mais de três milhões de habitantes”. Sobretudo, a população que se fixou na região do semiárido, e está a mercê da própria sorte. Segundo a Faeb, só não foram atingidas pelo flagelo da fome em razão “da rede de proteção social do governo federal”.
O presidente da Faeb, João Martins, reuniu-se, no auditório da Federação das indústrias, com diversas entidades para tratar do problema e, pelo menos, 25 delas, das mais importantes, fizeram um pacto de agir em conjunto, na medida em que com o flagelo, num Estado despreparado, comércio, indústrias e bancos, foram afetados, sem ser necessário citar os prejuízos causados aos criadores e agricultores. O encontro das entidades se deu em torno do Fórum Empresarial da Bahia, estabelecendo um pacto de união em defesa dos interesses da Bahia. Seus presidentes irão ao governador Jaques Wagner em defesa da Bahia.
A partir deste pacto, o fórum vai iniciar um processo de cobrança ao governo do Estado de ações mais efetivas, que, assim consideram, “vai demandar muita energia e vontade política” de sorte a criar programas de desenvolvimento do semiárido de curto, médio e longo prazos. É uma questão problemática porque, normalmente, a seca deverá ser minorada em novembro, época das chuvas, mas pode ir além, como aconteceu entre 2012 e 2013. De qualquer forma, dificilmente o longo período de estiagem e seus efeitos deixarão de ter efeitos políticos-eleitorais.
Como é do conhecimento, as outras unidades nordestinas, especialmente o Ceará, fizeram, nos últimos 20 anos, seu dever de casa, adotando medidas para minorar o espectro das secas, o que pouco aconteceu na Bahia ao longo deste mesmo período. Ainda em artigo publicado em A TARDE nesta semana que passou, o ex-governador Paulo Souto propôs um Plano Decenal do governo federal para dar combate ininterrupto ao flagelo.
João Martins disse que o prejuízo no semiárido é bem maior do que “a bilionária perda da lavoura e rebanhos”. Citou diversos pontos que considera graves em consequência da estiagem prolongada. Dentre eles,
“1-Grande queda no dinamismo do setor do comércio, com uma significativa redução de vendas e consumo;
2- Desaceleração das atividades ligadas ao setor de serviços (educação, saúde, logística) etc ;
3- Impactos no setor industrial, sobretudo nas agroindústrias, especialmente na fruticultura e laticínios (muitas empresas já fecharam e outras poderão deixar a região);
4 – Diminuição expressiva das operações financeiras (créditos, empréstimos, poupanças);
5 – Queda livre do valor das propriedades;
6 – Perda de emprego e renda, o que gera empobrecimento crônico, inadimplência, endividamento e êxodo rural;
7 – Gravíssima perda de capital natural (prejuízos incalculáveis do nosso patrimônio ambiental, com o desaparecimento de espécies nativas, agravando os riscos de uma futura desertificação);
8 –Destruição generalizada das pastagens, já que todas as reservas se esgotaram;
9 - Perdas significativas no Fundo de Participação dos Municípios, FPM.
Diante da situação acima o Forum requer que um grande volume de recursos seja solicitado ao governo federal para amenizar a crise e criar condições para recompor o desastre criado pela seca no sertão da Bahia. Dentre eles, recomenda-se a preparação de viveiros e replantio de mudas, já que tudo foi destruído. Repovoar grandes áreas com espécies nativas da caatinga; reposição do plantel de rebanhos, “com matizes geneticamente apropriados; e recursos para a recuperação das pastagens no lugar Onde, hoje, só se vê terras secas ou terras rachadas pelo sol.
De mais a mais, é necessário a construção de grandes e pequenas barragens, perenização dos rios e tudo que for tecnicamente necessário para gerar recursos hídricos definitivos. Há um grande desânimo, somando a prejuízos imensos sofridos pela população do semiárido.
Por fim, como o governo petista fracassou na transposição do Rio São Francisco para favorecer o nordeste e enterrou bilhões e bilhões nas obras abandonadas. É necessário que o governo baiano não se afaste da repetição da exigência do eixo sul, para favorecer a região baiana que sofre com a calamidade. Não um eixo construído com manilhas, mas também com calhas. Afinal, o São Francisco é um rio baiano. Nasce em Minas Gerais, mas corta o território baiano para desaguar entre Sergipe e Alagoas. Para que se tenha uma ideia, a 300 metros da margem do rio, a seca já se manifesta. Os governos baianos são responsáveis pelo sofrimento da grande população que habita, às vezes de forma esparsa, a grande área que compõe o território da Bahia.
*Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde deste domingo (9)
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