Em alguns casos, compra de R$ 10 feita no cartão de crédito que não for paga pelo consumidor pode se transformar em uma dívida de R$ 45 mil em apenas cinco anos
O Brasil sempre foi pródigo em criar jabuticabas financeiras, aquelas situações econômicas que beiram o surrealismo e ninguém consegue entender muito bem por que só acontecem por aqui.
Dono de um vasto repertório, como o overnight nos tempos de inflação galopante ou as atuais Letras Financeiras do Tesouro, o Brasil está agora novamente diante de um aparente paradoxo econômico.
Enquanto a taxa básica de juros, a Selic, que serve de referência para todo o mercado, cai para os menores níveis da história brasileira, as taxas cobradas pelos cartões de crédito não só se mantêm em três dígitos ao ano como, em alguns casos, chegam, até, a subir.
Apesar disso, é praticamente impossível encontrar no mercado brasileiro algum emissor de cartões que explique a razão desse descompasso ou mesmo quais são os componentes utilizados para determinar uma taxa de juros tão alta.
Os bancos brasileiros, os principais operadores dos cartões, recusam-se a explicar quais os critérios que utilizam para determinar que uma fatura em atraso seja reajustada a uma taxa de mais de 300% ao ano.
Já a Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços, a Abecs, afirma, oficialmente, que cabe aos bancos determinar que taxas irão cobrar de seus clientes.
Consumidor vive envolto à desinformação
Em meio a esse labirinto de desinformação, fica o consumidor brasileiro que, hoje, se deixar de pagar uma fatura de R$ 10 verá sua dívida chegar a incríveis R$ 45 mil em apenas cinco anos. Nas últimas semanas, a reportagem do iG procurou os principais bancos brasileiros para entender como a taxa de juros dos cartões de crédito é composta.
Por meio de suas assessorias de imprensa, Bradesco, Banco do Brasil e Santander disseram que, nos últimos dias, não tinham executivo ou técnico que pudesse explicar quais critérios são usados para formar a taxa de juros. HSBC e a Caixa Econômica Federal enviaram, por meio de notas, explicações evasivas.
Já o Itaú e o Banco do Brasil afirmaram que não se consideram as melhores fontes de informação para explicar a composição de suas taxas de juros. E recomendaram que a reportagem do iG procurasse a Abecs.
Abecs, por suas vez, devolveu a bola aos bancos. A entidade respondeu apenas que “as taxas de juros dos cartões são definidas a partir de diversos critérios específicos e individuais referentes à gestão comercial de cada emissor, seguindo a livre concorrência de mercado”.
Em média, os juros dos cartões brasileiros são de 323,14% ao ano, segundo pesquisa da Proteste – Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, mas podem superar os 400%.
Publicação de Tribuna da Bahia
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