Está na Folha desde 1991.
Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingo
Colunista Vinicius Torres Freire
Fonte:UOL
Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingo
Colunista Vinicius Torres Freire
Fonte:UOL
O salário mínimo não vai aumentar até 2018, pelo menos. Terá sido o
terceiro ano sem reajuste real. Na era de expectativas crescentes de melhoria
de vida, depois de 2002, o poder de compra do mínimo cresceu a quase 4% ao ano,
73% desde então até agora.
O que será da política arruinada do Brasil nesta época de expectativas
reduzidas por anos de recessão e limite estrito de gasto do governo,
"teto"?
Recorde-se que 23 milhões de pessoas recebem benefícios sociais que
valem um mínimo. O trabalho de outros 23 milhões rende no máximo um mínimo por
mês -trata-se de um quarto da gente que trabalha.
É apenas uma pincelada grossa no quadro do que deve ser o Brasil até a
eleição de 2018, que ficará bem borrado pela disparidade entre as esperanças
dos anos de melhoria e estes de estagnação com reformas pela goela abaixo.
A disparidade será sentida. Lembre-se do caso do avanço dos benefícios
para desvalidos de quase tudo, deficientes e idosos muito pobres e candidatos
ao Bolsa Família. Eram menos de 3 milhões de benefícios em 2002; mais de 18
milhões em 2014.
O gasto social direto do governo federal cresceu de 12,6% do PIB para
15,2% do PIB no período. Esse aumento quase todo foi para assistência social,
Previdência de quem ganha um mínimo, educação básica e moradia (quase não houve
aumento relativo do gasto em saúde).
Não está em questão aqui e agora se esse aumento de despesa era a melhor
alternativa, se tal crescimento era ou é "sustentável", se foi
financiado de modo adequado ou se prejudicou um balanço melhor entre
redistribuição e crescimento econômico, discussão decerto incontornável.
O problema é o que será feito dos conflitos de um país que terá ficado
estagnado entre 2013 e, com sorte, 2021, dado o colapso de projetos políticos,
para nem falar da ruína criminal.
Alguém poderia dizer, com sarcasmo sinistro, que os anos de melhorias
criaram gorduras bastantes para que o povo miúdo sofra quieto por algum tempo.
Não estamos nos anos 1980, de pobreza e desigualdade muito maiores, mas de
recessões tão grandes quanto a deste triênio desgraçado de 2014 a 2016.
Além de perverso, o comentário seria obtuso.
Para começar, os anos até 2014 foram, repita-se, de expectativa de
melhoria social crescente, associada por parte relevante do povo a uma mudança
de governo, goste-se ou não do governo (do PT) ou da mudança, de resto em país
mais educado e habituado à democracia. Esse país vai sofrer de súbita amnésia?
Para continuar, houve revolta séria em 2013. Os motivos eram variados ou
conflitantes, mas se gritava que, mesmo naquele Brasil melhorzinho, o serviço e
as mudanças oferecidas por lideranças políticas eram muito insuficientes.
Desde 2014, porém, a política desmorona. Não há nem algo parecido com a
alternativa tucana de 1994 ou a petista de 2002. Nos anos por vir, a
perspectiva é de desarticulação completa entre política convencional e
sociedade.
Não há sinal de projeto político que indique saída socialmente palatável
ou pactuada desse angu amargo em que estaremos metidos. Isto é, que dê sinal de
esperança ou sugira divisão mais justa dos custos do ajuste, para ficar apenas
no básico.
Durma-se com um silêncio destes
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