terça-feira, 3 de março de 2015

ARMANDO AVENA - A BAHIA E OS EIXOS FERROVIÁRIOS


A Bahia tem três eixos ferroviários fundamentais: a Ferrovia Centro Atlântica, que liga o estado com o Sudeste do país, a Ferrovia Juazeiro-Aratu, ligando o bi-polo Juazeiro/Petrolina ao Porto de Aratu, e a Fiol - Ferrovia Oeste-Leste, ligando Ilhéus a Caetité e Barreiras.  São trechos fundamentais que permitem o escoamento dos produtos baianos para o Sul e Sudeste do país, no primeiro caso, que viabiliza o transporte de minerais e da fruticultura irrigada, no segundo caso, e, no caso da Fiol, cria uma rota ideal para o minério de ferro e a produção de grãos do Oeste.

A Fiol está em processo de construção e, quando ultrapassar o Rio São Francisco, estará consolidado um importante corredor baiano de exportação de grãos. As outras duas ferrovias estão em funcionamento precário e precisam de investimentos, mas podem se viabilizar desde que otimizadas. O problema é que o governo federal  lançou em 2012 um tal de  Programa de Investimentos em Logística – PIL e anunciou vários investimentos ferroviários para a Bahia e o fim das concessões das atuais concessionárias dessas ferrovias. Depois, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) anunciou a desativação dos trechos que estavam funcionando, ainda que precariamente.

Assim, os empresários que usam a ferrovia ficaram no pior dos mundos: usando uma ferrovia que está se degradando e será desativada e sem que o governo federal tenha sequer   realizado  o leilão para a concessão dos novos trechos ferroviários. Mas o pior é que, nas atuais condições, se o governo fizer o leilão não vai aparecer nenhum interessado. O plano de ferrovias proposta para a Bahia é maravilhoso, mas delirante. Seria um investimento superior a R$ 11 bilhões, compreendendo 1.643 quilômetros de malha ferroviária, prevendo a construção de três trechos ferroviários: Belo Horizonte – Salvador, Salvador - Recife e Feira de Santana - Parnamirim no Rio Grande do Norte.

O problema é que não há estudos de viabilidade econômica para nenhum desses trechos e, o mais grave, os dois últimos trechos são inviáveis economicamente, não havendo carga nos próximos dez anos que possa viabilizá-los. O primeiro trecho, ligando a Bahia ao Sudeste, tem viabilidade, mas não há necessidade da construção de uma nova ferrovia, que custaria pelo menos R$ 7 bilhões, pelo simples motivo de que já existe uma ferrovia em pleno funcionamento e levando carga, ainda que de forma precária. O argumento para desativação dessa linha é que ela tem bitola estreita e opera a  20 km/h, enquanto a nova ferrovia teria bitola larga operando a uma velocidade de 80 km/h.

Tudo bem, a produtividade seria maior, mas, no quadro atual, não há carga, sequer nesse trecho, que viabilize sua construção. Muito mais racional seria recuperar a ferrovia existente, eliminado os gargalos e otimizando sua operação, mesmo com bitola estreita.  O que não parece reacional é  desativar o que está funcionando e tentar viabilizar, sabe Deus quando, uma nova ferrovia com investimento bilionário.

Felizmente, o governador Rui Costa parece que vai intervir propondo que a ferrovia existente continue operando e seja recuperada até que a nova ferrovia seja iniciada. Na verdade, em relação às ferrovias baianas, o ótimo é inimigo do bom, por isso basta terminar a construção da Ferrovia Oeste-Leste, recuperar a malha ferroviária que liga a Bahia a São Paulo e, se for economicamente viável, a que liga  Juazeiro-Salvador e a Bahia estará bem servida pelo menos nos próximos dez, quiça,vinte anos.
 

                   O GOVERNADOR ENTRA NO CIRCUITO

Ao anunciar o fim das concessões das atuais ferrovias baianas e a consequente desativação da  Ferrovia Centro-Atlântica para a construção de uma nova ferrovia, ligando Salvador - a Belo Horizonte, o governo federal criou um grande problema para a Bahia. Isso porque diversas empresas baianas, que usam essa ferrovia, ficaram com a pespectiva de sua  desativação a precariedade do serviço aumentou.

Os trechos que a ANTT anunciou que seriam desativados são usados por empresas como Ferbasa, BR Distribuidora e BSC, cortam dezenas de municípios e geram centenas de postos de trabalho. Essa situação trouxe incerteza para as empresas e tirou qualquer possibilidade de recuperação da ferrovia existente. Pois bem, esse problema pode estar em vias de ser resolvido. O governador Rui Costa e o secretário da Infraestrutura, Marcus Cavalcanti, solicitaram formalmente ao Ministro dos Transportes não só que a Ferrovia Centro-Atlântica permaneça funcionando até o início das obras previstas no PIL, mas também que sejam realizados investimentos pelo governo federal para recompor o traçado ferroviário atual e dar mais competitividade ao transporte de cargas da Bahia para o Sudeste.

Em conversa com este colunista, o secretário Marcus Cavalcanti mostrou que um investimento de R$ 1 bilhão na atual Ferrovia Centro-Atlântica bastaria para viabilizar o transporte de 10 milhões de toneladas, o que cobriria as necessidades do Estado pelo próximos dez anos. E esses investimentos poderiam ser realizados pela própria empresa que hoje detém a concessão que seria tomada pelo Estado. Isso porque a ANTT está cobrando dessa empresa uma multa indenizatória  no valor de R$ 760 milhões e bastaria apenas que fosse autorizado a relocação desse valor para realização de investimentos no próprio estado, e não em outros como está previsto, para que os recursos possam ser aplicados na Bahia.

                       LIQUIDA SALVADOR E A FRENTE PARLAMENTAR DO COMÉRCIO

Converso com Carlos Andrade, Presidente da Fecomércio-BA – Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia e ele me diz que está empenhado na criação no Congresso Nacional de uma Frente Parlamentar do Comércio, uma bancada que conheça os problemas e as necessidades do setor e que possa tornar coesa as reivindicações dos seus associados, especialmente os pequenos e médios empresários.

Andrade é um dos vice-presidentes da CNC – Confederação Nacional do Comércio e vai levar a proposta na próxima reunião da entidade. Se a agropecuária tem uma bancada rural no Congresso e a indústria também está representada, por que não o comércio e serviços não ter o mesmo tratamento? -  indaga Carlos Andrade. Percebendo o entusiasmo do Presidente na defesa dos interesses do comércio, peço que ele arrisque uma previsão sobre a Liquida Salvador, que começa nesta sexta-feira.

Andrade é otimista, elogia a realização do evento promovido pelo CDL Salvador, diz que é uma excelente oportunidade para o consumidor, que pode comprar produtos bem mais barato, e para o lojista, que pode desovar os estoques, mas termina dizendo que, num ano de inflação e juros altos, com as classes A, B e C com um pé na frente e outro atrás, se a Liquida vender o mesmo que no ano passado, já será um grande sucesso.
                                          
                                       A ORIGEM DO MUNDO

Ele entra num museu e olha impressionado para um quadro famoso. Depois, acredita que o que está retratado parece-se muito com sua mulher, se ela fosse retratada da mesma maneira. Então, aquele que era seu melhor amigo, e dela, aparece morto em seu apartamento e, entre os seus pertences, ele encontra uma foto de mulher na mesma posição do quadro. Basta isso, apenas isso, para desencadear um alucinante  thriller literário sobre o ciúme, o monstro de olhos verdes, como diria Shakespeare.

O personagem é um comunista, expulso do Chile por Pinochet e desiludido pelo que soube de Stálin e pelo que viu em Cuba; o quadro, que está no  Museu D'orsay  em Paris, é a Origem do Mundo, de Gustave Courbet e não aconselho meu o leitor, se pudico ele for, ir correndo ao Google para ver do que se trata; o livro, escrito pelo escritor chileno Jorge Edwards, tem o mesmo título do quadro  e é, no dizer de Mario Vargas Llosa, que escreve o posfácio,  ” uma história que, sob a aparência de leve diversão, é uma complexa alegoria do fracasso, da perda das ilusões políticas, do demônio do sexo e da ficção como complemento indispensável da vida”.

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