sábado, 12 de maio de 2012

A Copa em Salvador

Artigo do Ministro do Esporte, Aldo Rebelo, publicado no A Tarde (11/05/2012)


Quando voltou da Inglaterra com uma bola na mala e organizou uma pelada no Campo da Pólvora, no alvorecer do século XX, o bancário baiano Zuza Ferreira não apenas lançou as bases do futebol na Bahia: fundou uma nova paixão, de muitas crenças, como a dos orixás, e de vários blocos, como o Carnaval. Mesmo na imensidão do que é hoje o “País do Futebol”, há poucos lugares onde o jogo de bola seja embalado por tanta devoção como na Bahia, e Salvador em particular.

Era natural e justo, portanto, que a cidade fosse escolhida como uma das 12 sedes das seleções que vão disputar a Copa do Mundo. Em 1950, a capital baiana não pôde receber nenhuma partida porque o extinto campo da Graça era muito acanhado. A Fonte nova só foi inaugurada em 1951 e agora ressurge como um dos mais modernos estádios do Brasil.

Entre 13 de junho e 5 de julho, Salvador terá seis jogos da Copa – dois deles pelas quartas de final e no último, dependendo de uma série de combinações, poderá ver a Seleção Brasileira. O ritmo acelerado das obras não deixa dúvidas de que o antigo Estádio Octávio Mangabeira estará apto a receber já a Copa das Confederações em 2013 e, a julgar pela capacidade dos baianos de organizar grandes eventos, como um Carnaval de dois milhões de pessoas, é justo esperar que a etapa da Copa em Salvador seja uma das mais bem-sucedidas da edição de 2014.

Se a Copa do Mundo é o grande momento do futebol, a Bahia é o cenário perfeito. Impressiona o amor dos baianos pelo futebol, expresso, por exemplo, no comparecimento aos estádios. Ao contrário de alguns estados, onde a frequência está em queda, na Bahia os torcedores da Boa Terra são responsáveis por recordes que testemunham a paixão pelas suas agremiações. Os clássicos entre Bahia e Vitória – que neste domingo, 13 irão disputar mais um título – arrastam e emocionam, como os trios elétricos, milhares de pessoas de todos os cantos. Tradição que vem lá do final da década de 50 do século passado, quando, depois de derrotar duas vezes o Santos de Pelé, uma por 3 x 2, outra por 3 x 1, o Bahia sagrou-se o primeiro Campeão Brasileiro de Futebol.

A Copa da Fifa 2014, em Salvador associa perfeitamente as características principais desse torneio: promover a grande festa do futebol e deixar uma série de benefícios para a população dos locais onde é realizada. A agência Ernst & Young e a Fundação Getúlio Vargas estimam que entre 2010 e 2014 serão movimentados R$ 142,39 bilhões adicionais no Brasil. Levantamento da consultoria Value Partners mostra que os investimentos vão agregar R$ 183,2 bilhões ao PIB até o ano de 2019.

No caso de Salvador, além de ganhar um estádio moderno, a cidade receberá investimentos que eram necessários há muito tempo, mas enfim foram associados à Copa, o que significa melhorar os meios de mobilidade urbana, aumentar a rede hoteleira, multiplicar as alternativas de lazer. Enfim, Salvador tem tudo para fazer uma grande Copa e receber o legado social proporcionado pelo esporte que galvaniza sua população desde quando Zuza Ferreira voltou da Europa com uma bola na mala.

Os baianos talvez sintetizem com peculiaridades as observações do sociólogo Gilberto Freyre sobre o caráter dionisíaco do futebol no Brasil, quando o comparou à dança e à capoeira: “Isto pela influência, certamente, dos brasileiros de sangue africano, ou que são marcadamente africanos em sua cultura: eles são os que tendem a reduzir tudo à dança – trabalho ou jogo...” Eis o corpo e alma da Bahia, tanto no campo como na arquibancada.

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