quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Opinião sobre Salvador

  •  Samuel Celestino

Salvador começou a inflar – na verdade “inchar” – no final dos anos 60, início dos anos 70, e a partir daí não parou o processo de transformação desordenada que sofreu uma das mais belas capitais do País. Até então era uma cidade com limites que chegavam ao largo de Amaralina. Iniciava-se um processo de povoamento na Pituba, enquanto a região suburbana era habitada com tamanho sossego que era possível transformá-la em local de veraneio. Nesta época a população não chegava a 600 mil habitantes.

É desta época que se inicia o processo de crescimento depravado e desorganizado, sem dar tempo à prefeitura construir, urbanizando, novos bairros. Houve, na verdade, uma grande invasão migratória do interior para a Capital e de estados nordestinos pobres, como ainda são até hoje. A Bahia era o quarto estado brasileiro em termos de riqueza. Hoje é o oitavo. O que aconteceu deve-se ao governo, aos governantes que iniciaram uma campanha em que afirmava que a partir desta região e do Recôncavo, a Bahia seria um dos principais estados da Federação, enriquecendo-se de forma galopante impulsionada pelo CIA e pelo Polo Petroquímico. Uma quimera.

Antes, a receita estadual era oriunda da região sul, dos cacauais, que contribuíam com 60% da arrecadação da Fazenda estadual, que comumente atrasava os salários dos servidores. Tudo dependia do cacau. Vendeu-se, então, a falsa ilusão de que com o Centro Industrial de Aratu e com o Polo Petroquímico baiano o estado experimentaria um “boom” de crescimento com empregos fartos para quem entendesse mudar-se para a Capital.

A população anterior, pequena, já estava praticamente organizada, morando em bairros como Nazaré. Barris, Largo Dois de Julho e redondezas, Canela, Barra, Barra Avenida, Graça, Federação, Brotas, Rio Vermelho até Amaralina, Ribeira, Roma, Mont Serrat, toda a cidade baixa,  e mais a Liberdade, Pau Miúdo, Caixa D`água, Retiro, Cidade Nova, Cosme de Farias, Largo do Tanque, Calçada, enfim, bairros que agrupavam a população considerada rica,de classe média e a de menos poder aquisitivo. Os governantes, então, (retiro Roberto Santos, que governou na metade dos anos 70)  trombeteavam o novo paraíso baiano, porque paraíso já era antes, quando a cidade era denominada “a Boa Terra”, com belezas estonteantes, desde o colonial antigo à sua situação geográfica com a Baía de Todos os Santos de um lado e o Atlântico do outro. Não havia violência, a não ser praticada pelos chamados “ladrões de galinha” e por homicídios q ue passavam a ser o assunto de toda a cidade.

Vendiam-se ilusões para firmar a imagem do governante desenvolvimentista (tipo JK). A propaganda deu certo na atração de populações necessitadas de empregos, população que não tinha o menor preparo profissional para trabalhar em complexos como o petroquímico. A cidade de Salvador começou a inchar e como não tinha, ela própria, emprego, se transformou em cidade dormitório. A partir desta época, o crescimento populacional não parou de crescer, e hoje estamos com quase três milhões de habitante, enquanto Salvador se transformou numa cidade-problema, de encantos menores e problemas imensos. Até os sinos das igrejas, em outras épocas, bimbalhavam na hora a Ave Maria.

Depravada, virou a cidade do medo, das noites que já não existem, numa louca transformação pelo inchaço habitacional. O Centro Industrial de Aratu passou a ser um fracasso total, e nem esperou que os galpões das fábricas ficassem prontos. Hoje é local de desova de cadáveres.

Há cidades que incham e, de repente, entram em estagnação populacional e passam a reduzir o número dos seus habitantes. Como a velha Bahia á uma cidade-península, que não tem para onde crescer, os municípios das vizinhanças começaram um processo semelhante ao que aqui aconteceu. Lauro de Freiras, que seria uma solução para os soteropolitanos que pretendiam a paz, esta em acelerado processo de crescimento, como os mesmos problemas que aqui se encontram. E Camaçari, onde está o  Polo Petroquímico, recebeu a Ford e, nos últimos tempos começou a se transformar numa cidade industrial (Salvador é vocacionada ao setor de serviços), e nos últimos anos lá se instalaram três centenas de indústrias, a maioria pequenas e médias, que tendem a mudar o seu perfil. Ao mesmo tempo, o setor de incorporação imobiliária iniciou um processo acelerado de construção de moradias (espera-se que de forma ordenada) o que leva a crer que dentro d e 10 ou alguns anos além, seja uma cidade periférica com mais de um milhão de habitantes, como aconteceu com o ABC paulista. Feira de Santana, aqui perto, já está com 600 mil habitantes.

Assim posto, a população de Salvador parece ter estagnado e a tendência é que haja, palatinamente um retrocesso, em consequência do crescimento populacional dos municípios vizinhos. Espero que seja o inicio de um processo que devolva a Salvador a tranquilidade que merece perdida com o tempo por exclusiva culpa de governantes que imaginaram que nós viraríamos um Eldorado.

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