domingo, 22 de dezembro de 2013

Homenagem a João Goulart - por Antonio Risério - escritor

Conforme publicado no jornal A Tarde, edição de 23/11/ 2013,pelo aspecto histórico transcrevo a seguir na íntegra, sem nenhum comentário de nossa parte.

Sem meias palavras, sem floreios, João Goulart, Jango,foi o grande presidente que o Brasil teve. O presidente que abriu caminho. com as célebres "reformas de base", para todo o reformismo social brasileiro, que veio depois, de Fernando Henrique Cardoso, a Lula da Silva e Dilma Rousseff.

Estava tudo ali no projeto das "reformas de base": educação, bem estar social, a questão agrária, etc,etc. E tudo tocado por um democrata impecável e incorruptível, ao qual a história ainda há de fazer justiça.E um democrata que tinha,como ministro-chefe da Casa Civil, o antropólogo e educador Darcy Ribeiro, um dos maiores intelectuais que este país viu nascer.

Confesso que fiquei emocionado - chorei, na verdade - com a cerimonia  da chegada do corpo   de Jango a Brasília. Jango, foi recebido com honras militares(mas será que milicos golpistas vão aprender que a  história sempre os condenará ao subsolo da humanidadade?) Com a presença da presidente da República. Com o hino nacional brasileiro tocando. Era o nosso estadista recebendo a homenagem póstuma. E lá estava, envelhecida e com os cabelos pintados de louro, a nossa Maria Tereza Goulart, a mais bonita primeira dama que o Brasil conheceu.

Fiquei então pensando muito em nosso presidente, tão caluniado pela ditadura militar. Jango foi um presidente educado e ousado. Era estancieiro rico,elegante, capaz de atitudes mais gentis e de posturas firmes,desafiadoras até. Getúlio Vargas chegou a dizer certa vez,sobre a nossa classe dominante: quero ajudar esses burgueses burros e eles não entendem. A frase se aplica a Jango. Ele quis fazer de tudo para modernizar o capitalismo brasileiro. Mas, também, trazia suas preocupações sociais. Seu sonho de que o povo brasileiro conseguisse escapar da pobreza,superar a fome e a ignorância, viver razoavelmente bem.
Jogava entre a esquerda e a direita,como Fernando Henrique e Lula fariam posteriormente. Mas,naquela época ,as coisas eram mais complicadas. O Brasil não tinha amadurecido para nenhum tipo de social democracia,julgavam a burguesia e os militares. Como lidava com forças contrárias entre si, colocaram nele a pecha de hesitante, tímido, indeciso,etc. Bobagem. Paulo Francis, que o conheceu pessoalmente nessa época, ficou  impressionado de outra forma: Jango falava com firmeza encarava  seus interlocutores olho no olho, tinha ideias claras sobre o país. E teve a grandeza rara, que merece todo o nosso aplauso.
Quando os militares deflagaram o golpe, com o cretino do general Mourão Filho partindo de Minas, o país poderia ter reagido,como quis Brizola no Rio Grande do Sul. Jango se recusou ao tiroteio. Disse claramente que preferia abrir mão do poder e viajar para o exílio de que ver a população brasileira numa guerra civil, encharcando-se de sangue.
Tomou, assim o rumo do Uruguai (como Darcy Ribeiro, que se afirmou lá  como professor de antropologia). Montou sua fazenda. E não tirava os olhos do Brasil,sofrendo com o nosso destino. Os militares sabiam disso. Detestavam ele. E a suspeita é que trataram de matá-lo por envenenamento., disfarçando o crime em ataque cardíaco. Na época, ninguém  tinha como protestar. Hoje, no entanto, as cartas estão na mesa. A investigação vai mostrar a verdade.
Por hora , temos a verdade da história. Jango era queridissimo pelo povo brasileiro. Seria reeleito presidente, de forma absolutamente tranquila. Uma pesquisa do Ibope, feita pouco antes  do golpe militar de 1964, mostrava isso  de forma claríssima. Se fosse hoje, levaria fácil no primeiro turno.Um passeio.O Exército impediu a publicação da pesquisa. Só bem recentemente o ibope divulgou os números ( que não sei de cor). Almino Afonso fez um discurso no Senado sobre o assunto - discurso depois reproduzido em seu livro Palavras ao Vento.Mentirosos, os militares contrariaram o desejo popular dizendo que agiam em nome do povo. Cara de pau. Mas a historia desmente quem mente.Sempre. Mesmo que demore. Décio Pignatari gostava de dizer isso: a mentira é rápida - à verdade dá-se tempo.
Antônio Risério escreve no sábado quinzenalmente



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