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Leandro Prazeres
Do UOL, em Brasília Arte/UOL
O senador do PMDB Eunício Oliveira (à
esquerda) foi relator da primeira indicação de Rodrigo Janot à PGR
(Procuradoria Geral da República), em agosto de 2013
Quando o senador e principal candidato à
presidência do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), referendou a indicação de
Rodrigo Janot para seu primeiro mandato como procurador-geral da República, em
agosto de 2013, ele talvez não tivesse ideia de quanta coisa pudesse mudar
em pouco mais de três anos. Saiu Dilma Rousseff (PT), entrou Michel Temer
(PMDB) e, de relator da indicação de Janot, hoje ele é um dos citados em
delações premiadas da Operação Lava Jato, comandada pela PGR (Procuradoria
Geral da República).
A eleição para a presidência do Senado será
realizada nesta quarta-feira (1º). Eunício Oliveira é o candidato mais forte à
sucessão de Renan Calheiros (PMDB-AL) à presidência do Senado. Tesoureiro do
PMDB, ele é o atual líder do partido no Senado. Em sua trajetória na Casa, ele
se notabilizou por conseguir equilibrar vínculos tanto com Dilma, madrinha do
casamento de uma de suas filhas, quanto com Temer, de quem é aliado.
Relatório de Eunício exaltou serenidade de
Janot
As trajetórias de Janot e Eunício começaram a se
cruzar em agosto de 2013, quando a então presidente Dilma enviou ao Senado a
indicação do então sub-procurador geral da República para substituir o então
PGR Roberto Gurgel.
Os tempos no Senado eram tensos. O PT da presidente
Dilma ainda se recuperava do julgamento do caso mensalão, e o Senado ainda
assimilava a denúncia feita por Gurgel contra Renan, acusado de desvio de
recursos públicos e falsificação de documentos no caso que apurava a suspeita
de a empreiteira Mendes Júnior pagava despesas da jornalista Mônica Veloso, mãe
de um dos filhos do senador. Renan, que acabou se tornando réu neste caso apenas em 2016, nega as acusações.
E foi em meio a esse cenário conflituoso que
Eunício assumiu a relatoria da indicação de Janot. Para ser efetivado no cargo,
Janot precisava ainda ser sabatinado pela CCJ (Conselho de Constituição e
Justiça do Senado) e ter sua indicação aprovada pelo plenário do Senado. Uma
recomendação de Eunício, tesoureiro do PMDB e um dos principais interlocutores
viria a calhar. E veio.
Em um documento de cinco páginas enviado à CCJ,
Eunício teceu diversos elogios ao futuro PGR. "Rodrigo Janot Monteiro de
Barros é também admirado pela serenidade e equilíbrio no exercício
profissional, sendo ainda muito elogiada sua capacidade de diálogo", disse
parte do relatório de Eunício à CCJ.
"Certamente essas qualidades, reconhecidas
pelos Procuradores da República [...] mostram que Sua Excelência, se aprovada
sua indicação pelo Senado Federal, estará à altura dos desafios que o cargo
requer", completou o senador em seu relatório.
Janot passou com facilidade na sabatina da CCJ (22 votos a favor e dois
contra) e pela votação no Plenário do Senado (60 votos favoráveis e quatro contra).
Citado em 3 delações, Eunício rebate:
"desespero"
Coube à Operação Lava Jato entrelaçar as
trajetórias de Janot e Eunício novamente. Delatores da investigação comandada
por Janot citaram o senador como um dos beneficiados pelo esquema de corrupção
em que empreiteiras repassavam recursos de propina a políticos e partidos
- Eunício não é alvo de inquérito relacionado à Lava Jato.
O ex-senador Delcídio Amaral (ex-PT, hoje sem
partido) disse em sua delação que Eunício faria parte do grupo de parlamentares
do PMDB que exercia influência em diretorias da estatal em troca de propina. Delcídio ainda disse que Eunício colocava suas empresas de prestação de
serviços para operar junto à Petrobras e a diversos ministérios.
O ex-diretor da Hypermarcas e delator da Operação
Lava Jato Nelson Mello disse em depoimento que repassou R$ 5 milhões em caixa
dois para a campanha de Eunício ao governo do Ceará em 2014.
Outro delator, o ex-executivo da Odebrecht Cláudio
Melo Filho disse que Eunício recebeu R$ 2,1 milhões em propina para aprovar uma MP (medida
provisória) de interesse da companhia.
Em entrevista à Folha, Eunício se defendeu e disse
que, "no despero", delatores inventam estórias.
"As pessoas, numa hora dessas de desespero,
falam e ninguém pode impedir [...] As pessoas criam, inventam e até mentem para
obter o benefício da delação", afirmou. O senador disse também estar
tranquilo em relação às citações ao seu nome ao longo da Operação Lava Jato.
"Não sou investigado. Sei o que fiz e o que não fiz. Tenho tranquilidade
em relação a qualquer citação", disse.
Em setembro, em um despacho sobre as alegações
feitas por Nelson Mello em sua delação premiada, Janot alegou motivos de "foro íntimo" para alegar sua
"suspeição" em relação às declarações feitas por Mello.
"Afirmo suspeição, por motivo de foro íntimo,
quanto à investigação do ilustríssimo senador Eunício Oliveira", dizia um
trecho do documento. Janot, entretanto, não explicou a razão da suspeição.
Coube ao vice-procurador geral da República, José
Bonifácio de Andrada, analisar o caso. A assessoria de imprensa da PGR não
forneceu mais detalhes sobre o declaração de suspeição
Fonte:UOL
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