Embraer entrega nova proposta para licitação nos EUA
Empresa já havia ganho contrato de US$ 355 milhões para fornecer aviões de combate aos americanos, mas licitação foi cancelada
SILVANA MAUTONE - O Estado de S.Paulo
A fabricante de aviões brasileira Embraer entregou no último dia 18 a nova proposta para a venda de seu avião Super Tucano à Força Aérea dos Estados Unidos. "Continuamos acreditando que temos o melhor avião. Mas agora temos de esperar", disse o presidente da Embraer Defesa e Segurança, Luiz Carlos Aguiar, durante evento em São Paulo no qual anunciou parceria com a Boeing para desenvolvimento do cargueiro militar KC-390.
A expectativa da empresa brasileira é de que o resultado da concorrência seja anunciado em janeiro do próximo ano. Segundo Aguiar, duas empresas entregaram as propostas: a Embraer e a americana Hawker Beechcraft, que está em concordata desde maio. A concorrência refere-se à compra de 20 aviões de combate leve para uso no Afeganistão, um contrato de US$ 355 milhões, que pode com o tempo ser ampliado.
Em dezembro do ano passado, a Embraer e sua parceira americana Sierra Nevada Corporation foram consideradas vitoriosas na licitação, com o avião Super Tucano, mas a decisão foi suspensa em janeiro e anulada em março, sob o argumento de que havia problemas com a documentação.
O recuo do governo americano em conceder o contrato a uma empresa brasileira, em ano eleitoral, se deu sob pressão da Hawker Beechcraft, que havia sido desclassificada da disputa, por causa das condições técnicas de sua aeronave.
Um dos principais problemas do AT-6, o avião da Hawker Beechcraft que estava na disputa com o Super Tucano, era o fato de ainda estar em desenvolvimento, o que seria vedado pelo edital da Força Aérea americana. O avião acabou sendo desclassificado, abrindo as portas para a Embraer vencer a licitação, posteriormente cancelada.
Requisitos. Segundo o executivo da Embraer, o governo americano manteve a exigência dos mesmos requisitos, mas agora não será mais necessária a demonstração de voo, o que na opinião dele, beneficiaria a Hawker, já que o produto da empresa continua em desenvolvimento. Por outro lado, disseque agora foi pedida a opinião de clientes, o que ele acredita que pode contar a favor da empresa brasileira. "O avião do concorrente está pronto apenas para treinamento, enquanto o nosso já pode ser usado para treinamento e operações de contrainsurgência", disse.
Vencer essa concorrência pode significar muito mais para a Embraer que o contrato de US$ 355 milhões. O maior benefício seria a certificação dos Estados Unidos para um produto brasileiro de considerável valor agregado e de emprego militar. O mercado internacional para essa classe de equipamento é avaliado em US$ 3,5 bilhões, envolvendo 300 aeronaves a serem adquiridas até 2020.
Disputa
20 aviões de combate leve, no valor de US$ 355 milhões, é o tamanho da licitação aberta pela Força Aérea americana
US$ 3,5 bi até 2020 é o valor estimado desse mercado no mundo
ANÁLISE
Os desdobramentos do acordo entre Embraer e Boeing
Roberto Godoy
O acordo entre a Embraer e a Boeing é um feito e tanto. Terá efeitos importantes de curto prazo em duas vertentes, apenas uma das quais - a dos benefícios diretos para o programa do cargueiro militare avião tanque KC-390 - foi admitida durante a conferência de imprensa. A outra, mais delicada, é a da influência que o compromisso entre as empresas americana e brasileira possa vir a ter na escolha F-X2, a aquisição do novo caça de alta tecnologia e múltiplo emprego, negócio que a presidência da República encaminha para a fase de definição final. Não por acaso, na reunião de ontem a Boeing estava representada por Dennis Muilenburg, presidente e CEO da unidade de negócios do grupo voltada para
os mercados de Defesa, Espaço e Segurança.
A corporação americana participa do processo com o F-18E/F Super Hornet. Os outros dois finalistas são o francês Rafale, da Dassault, e o sueco Gripen NG, da Saab. A encomenda de 36 aviões,mais armamento, peças, componentes, documentação técnica, treinamento e custo da ampla tecnologia que o governo fixou como condicionante na seleção, tem valor estimada em cerca de R$ 10 bilhões - em
regime de longo financiamento. A presidente Dilma Rousseff quer encerrar até dezembro a pendência que se arrasta por 16 anos. O ministro da Defesa, Celso Amorim, disse em várias ocasiões que esperava revelar o resultado em junho. O mês, porém, tem apenas mais dois dias úteis.
A cooperação entre as duas maiores indústrias aeronáuticas das Américas é objetiva. Muilenburg e Luiz Carlos Aguiar, presidente da Embraer Defesa e Segurança (EDS), destacaram que o procedimento será mantido qualquer que seja o resultado da F-X2. O compromisso abrange o compartilhamento de conhecimento tecnológico e avaliação conjunta de mercados. É um bom modelo. A Boeing produz transportadores de carga e reabastecedores em voo há não menos de 45 anos.
A Embraer é inovadora e imbatível em redução de custos.
Mais do que isso: segundo Aguiar, a análise dos mercados potenciais incluirá clientes que não haviam sido considerados nas projeções iniciais para o KC-390. É uma forma cuidadosa de dizer que os alvos passam a incluir países como a Itália e mesmo os Estados Unidos, excluídos anteriormente por disporem nos portfólios de sua indústria de produtos semelhantes. Não há como negar que, mesmo diante dessa circunstância, a chegada à mesa de discussões com a chancela dupla da Boeing e da
Embraer faz diferença. A demanda mundial por aeronaves de médio porte, com capacidade na faixa das 24 toneladas, pode chegar a 700 unidades. Até agora, o KC-390 acumula pouco mais de 32 intenções de compra vindas de fora do Brasil e mais 28 que podem ser consideradas pedidos firmes, feitas pela Força Aérea Brasileira (FAB). O primeiro avião, será entregue em 2015. A EDS vai produzir o grande jato na fábrica de Gavião Peixoto, região de Araraquara, a 300 km de São Paulo.
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