Fonte:MSN
2 / 34
Silvano
Mendes 9 horas atrás
Quando assumiu a presidência interina da República, Michel Temer já
havia formado seu governo há alguns dias. Mesmo se a lista de ministros não era
mais surpresa, nesta quinta-feira (12) a falta de diversidade de gênero chamou
a atenção e se tornou alvo de críticas.
Enviado especial à Brasília
A imagem de Dilma Rousseff durante seu discurso ao deixar o cargo,
cercada de colaboradores, boa parte deles mulheres, destoa do governo que tomou
posse poucas horas mais tarde. A foto que ilustra a equipe de Michel Temer
revela que todos os 21 ministros nomeados pelo presidente são homens, em uma
configuração que não era vista no Brasil desde o governo de Ernerso Geisel, nos
anos 1970.
“É bastante simbólico. Com o lema ‘Ordem e Progresso’, que poderia ser
chamado de ‘Ordem e Regresso’, esse governo é um verdadeiro retrocesso”,
ironiza a professora de direito econômico da FMU e membro da associação Artemis
para o direito das mulheres. “Não ter ministras é como fechar as portas para
aquilo que lutamos desde os anos 1970”, comenta a advogada, que também nota a
falta de diversidade étnica em um governo que, segundo ela, “não representa o
Brasil”.
Dilma sofreu o que um homem não
sofreria em seu lugar
A questão da presença de mulheres na política brasileira e o sexismo camuflado por essa
ausência não é novidade no país. No entanto, o tema vem sendo levantado com
mais frequência por militantes desde a eleição de Dilma Rousseff, antes mesmo
do processo de impeachment. “Desde o começo do mandato ou até durante a
campanha ela sofreu agressões que um homem não sofreria no lugar dela”, afirma
Luise Bello, gerente de conteúdo da ONG Think Olga, uma organização pelo
empoderamento feminino por meio da informação.
Para ela, esse não é um fenômeno que começou por causa do processo de
impeachment, mais foi potencializado por ele. “Dilma foi vítima de ofensas que são
pessoais e com uma ironia muito forte”, ressalta a militante,
lembrando o episódio de uma capa da revista Isto É, ilustrada com imagem de uma
presidente aparentemente nervosa. “A matéria dizia basicamente que ela é uma
pessoa descontrolada, que tem acessos de fúria e ataques de raiva, algo típico
do princípio conhecido como Gaslighting, que consiste em afirmar que as
mulheres são loucas, muito passionais, emocionais ou fora de controle”, explica
a jovem. Mas no caso de Dilma, por trás dessa ironia, segundo a militante, a
mídia de oposição faz uso de estratégias machistas para atingir a presidente.
Parlamentares e organizações
internacional se mobilizaram
O tema chegou a ser lembrado durante o voto do processo de impeachment
na Câmara dos Deputados. A ex-preifeita de São Paulo, Luiza Erundina, do PT,
disse que era contra a destituição “pelo empoderamento das mulheres”. Já Jean Wyllys, do PSOL,
qualificou o processo de “farça sexista”. Para Louise, as declarações são
carregadas de simbolismo, “principalmente em um momento em que olhamos para uma
Câmara tomada por homens. As mulheres e outras minorias não encontram espaço
nesses lugares”. O problema, de acordo com a militante, é que “há uma negação
com relação ao machismo no Brasil. Acham
sempre que é exagero e que, se fosse um homem, seria a mesma coisa”.
No caso dos ataques visando Dilma, a virulência dos comentários chocou
inclusive organizações internacionais, como as Nações Unidas. Em março, a ONU
Mulheres no Brasil divulgou uma nota na qual condenou os ofensas de
ordem sexista contra a chefe de Estado. "Nenhuma discordância política ou
protesto pode abrir margem ou justificar a banalização da violência de
gênero", explicou à RFI a representante da entidade em Brasília, Nadine
Gasman. “Identificamos coisas extremamente agressivas nas redes sociais, que
mostravam um grau muito importante de misoginia. Isso para todas as mulheres uma
mensagem de que é arriscado estar em uma posição de poder”, analisa.
“A sociedade tem ainda que trabalhar e evoluir para olhar as mulheres
como iguais em todos os âmbitos, incluindo a política”, finaliza a
representante das Nações Unidas. Mas enquanto isso não acontece, a foto do novo
governo brasileiro continua sendo um desfile de ternos cinzas e muita
testosterona.
Nenhum comentário:
Postar um comentário