Folha de São
Paulo/UOL – Bernardo Melo Franco
15/05/2016 02h00
BRASÍLIA - As manifestações a
favor do impeachment usaram dois símbolos além do verde e amarelo da bandeira:
as panelas, batidas em protesto contra a corrupção, e o pato da Fiesp, mascote
da campanha pela redução dos impostos.
Se este era o sentido
das ruas, Michel Temer começou o governo interino dirigindo na contramão. Nos
primeiros dias de presidente, ele nomeou políticos
sob suspeita e indicou que vai elevar a carga tributária.
A nova Esplanada tem
ao menos três ministros citados na Lava Jato. O titular do Planejamento, Romero
Jucá, responde a dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal. Ele é suspeito de
receber propina em obras da Petrobras e da Eletronuclear.
O ministro do
Turismo, Henrique Eduardo Alves, é alvo de dois pedidos de inquérito que ainda
não foram analisados pelo STF. Seu nome circula nos papéis da OAS. Léo
Pinheiro, o falante ex-presidente da empreiteira, já fez acordo de delação.
A OAS também liga a
Lava Jato ao novo ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima. O
ex-deputado é citado em mensagens sobre a liberação de empréstimos da Caixa, da
qual foi vice-presidente.
Os três peemedebistas
negam ter se beneficiado do petrolão e poderão se defender no Supremo, longe de
Curitiba. Jucá já tinha foro privilegiado por ser senador. Alves e Geddel
ganharam a proteção agora, ao serem nomeados ministros.
Temer também pegou a
contramão da rua ao sugerir, pela voz do novo chefe da Fazenda, que elevará impostos
para reequilibrar as contas públicas. "Caso seja necessário um tributo,
ele será aplicado", prescreveu o doutor Henrique Meirelles. O remédio
escolhido deve ser a velha CPMF, alvo da campanha da Fiesp.
As próximas semanas
permitirão saber se a indignação contra a corrupção e os impostos era mesmo
apartidária. Na outra hipótese, ela se limitava à corrupção e aos impostos
patrocinados pelo PT. Até aqui, o pato e as panelas não se manifestaram.
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