sábado, 21 de maio de 2016

Acertar nos perdedores

fernando canzian
fernando canzian




É repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de política, do "Painel" e correspondente da Folha em NY e Washington. Vencedor de quatro prêmios Esso.
Escreve às quintas
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Michel Temer e o Congresso que o colocou na Presidência têm pela frente a enorme tarefa de ajustar as contas públicas. Parcelas da sociedade terão de pagar por isso. Como haverá perdedores, é melhor eles sejam as pessoas certas.
A concentração de renda no Brasil é horrível não apenas por ter começado lá atrás, mas por ser reforçada há décadas.
Os deputados e senadores que agora terão o poder de votar a perda de privilégios de alguns não o fizeram antes mais em função da influência de grupos organizados do que para proteger a maioria dos eleitores, que é pobre.
No Brasil, é bom lembrar, só 6% das famílias têm renda superior a R$ 8.000 por mês. Mais de 60% vivem com menos de R$ 2.500, segundo estratificação do Datafolha.
Os mais pobres gastam quase tudo o que ganham em transporte e sobretudo alimentos, onde já incide uma carga tributária média de 30%.
Ainda assim, eles deveriam dar sua cota de sacrifício neste ajuste. Não podendo se aposentar aos 55 anos, por exemplo, quando essa média nos países da OCDE é 65 anos.
Entre outras, esta é uma das razões pelas quais a Previdência Social fechou 2015 com um rombo de R$ 86 bilhões (1,5% do PIB). Por trás desse deficit há quase 30 milhões de brasileiros beneficiados por um dinheiro que alguém terá de pagar no futuro.
Mas o rombo provocado por esses 30 milhões não é muito maior do que o de R$ 73 bilhões (1,2% do PIB) de apenas 1 milhão de servidores federais civis e militares que estão na previdência do setor público.
Lula e Dilma tomaram algumas medidas para reduzir esse absurdo, mas a questão demandaria ainda uma nova rodada de perdas entre os eles.
Ao assumir o Ministério da Fazenda, Henrique Meirelles disse que o mais importante neste momento é começar a dizer a verdade sobre as contas públicas.
Se é verdade que os governos Dilma e Lula promoveram uma inédita distribuição de renda em 13 anos de PT, também o é o fato de terem patrocinado uma enorme concentração de riqueza na outra ponta. Só em subsídios via créditos do BNDES a empresas foram mais de R$ 120 bilhões em oito anos.
O "time dos sonhos" que Meirelles montou na economia parece saber quem deve perder mais neste ajuste. A dúvida é se terá sustentação do entorno político e fisiológico que ungiu Temer no momento em que a conta for apresentada.

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