Michel Temer, o presidente sem voto – Foto Kleyton Amorim/UOL
 
Daqui a algumas horas, um pouco mais, um pouco menos, Michel Miguel Elias Temer Lulia assumirá a Presidência da República.
A pouco mais de quatro meses de festejar seus 76 anos, o paulista ocupará o Planalto sem ter recebido um mísero voto para o cargo.
Em 2014, os eleitores o sufragaram como vice. A ascensão seria protocolar em casos como o de João Goulart, em 1961, e Itamar Franco, em 1992.
Jango substituiu o renunciante Jânio Quadros.
Itamar ocupou o lugar de Fernando Collor de Mello, escanteado por justo impeachment, decorrente de crime cometido pelo presidente.
Michel Temer será promovido ao menos por 180 dias em virtude do afastamento da presidente constitucional Dilma Rousseff.
Foi ela, e não ele, que em 2014 foi reconduzida ao Planalto por 54.501.118 cidadãos.
O Senado acaba de aprovar o cartão amarelo salpicado de vermelho para Dilma, que só em hipótese remota regressará ao posto para o qual foi eleita.
Numerosos senadores e deputados suspeitos e denunciados pelos crimes mais cabeludos depuseram a governante contra quem inexiste suspeita ou acusação de crime.
Pedaladas fiscais, empréstimos, créditos _tudo isso não constitui apropriação indébita de recursos públicos.
Foram pretextos vulgares para derrubar quem tinha (e tem) direito de cumprir o mandato até dezembro de 2018, se prevalecesse a soberania do voto popular.
O vice que vai virar titular seria hoje humilhado, com raquíticos 2% dos votos, em eleição direta para presidente.
Ele só chegará lá empurrado por um golpe de Estado que a história um dia destrinchará, quando a serenidade prevalecer.
Presidente ungido pelo tapetão.
Usurpando o mandato que os brasileiros não lhe conferiram.
Levando consigo ao poder iminente muitos ministros eminentes por serem investigados em episódios de bandalheira.
Temer será um presidente ilegítimo.
Cujos sócios e aliados se empenharam em conflagrar o Brasil.
Promoveram intolerância e ódio que não serão cicatrizados no tempo de uma geração.
O mais talentoso malabarismo verbal não redimirá o governo Temer de sua condição ilegítima já de nascença.
Na democracia, presidente se elege no voto. No voto popular.