Paulo Martins – Escritor –
Publicação A Tarde de16/05/2015
O facilitário que tomou posse de
mentes descomprometidas com qualquer profundidade em relação á corrupção a
reduziu a um simplismo: “corrupção é o PT; é só tirá-lo do governo que ela
acaba”.
Claro que não será assim. A
corrupção está encastelada em todo o estado brasileiro há décadas. Na maioria
das prefeituras, dirigidas por políticos de todos os partidos, tornou-se endêmica.
No que tange ao desvio de
dinheiro público nos altos escalões do governo e empresas estatais, não há como
não enxergar os êxitos que estamos obtendo no seu combate. Que o diga a
Operação Lava Jato, que apura os desvios da Petrobrás.
Mas existe um outro tipo de
corrupção, mais disseminado ainda na sociedade, que não tem merecido nenhuma
atenção por parte de quem deveria combate-lo, nem dos cidadãos de um modo geral.
O aspecto mais curioso dessa
variedade de corrupção a que me refiro é sua base cultural. O saudoso João
Ubaldo Ribeiro, em um dos seus artigos, “Nós, os desordeiros”, dá uma
extraordinária lição sobre o tema. Retomou-o noutro artigo contundente, ”Precisa-se
de matéria prima para construir um país”.
Ele demonstra como a corrupção
tornou-se parte de nossa cultura de cima a baixo da sociedade. Quem não a pratica,
seja civil ou militar, pobre ou rico é um bobo.
Está de tal forma arraigada no
nosso comportamento cotidiano que nos condena coletivamente.
Todos somos mais ou menos
corruptos. “Nesse instante – diz ele – centenas ou milhares de policiais pelo
país afora, estão embolsando o agrado que lhes dão os motoristas, para evitar
uma multa. Também todos os dias, centenas de milhares de pessoas, ou até
milhões, pagam meia-entrada com carteiras de estudantes falsificadas.”
Enfim, vivemos imersos num mar de
pequenas delinquências cotidianas que achamos “fazerem parte natural e
inevitável da vida.”.
Dan Ariely, da Universidade de
Duke, em artigo no Le Monde Diplomatique, criou a metáfora “vírus da
imoralidade” para traduzir tais delinquências. Diz ele: “Muitas pessoas boas
enganam só um pouquinho aqui e ali, aumentando para cima as horas faturáveis, declarando
perdas superiores em suas reclamações ao seguro, recomendando tratamentos
desnecessários”.
E enumera uma série de formas de
enganar praticadas pelas empresas em geral, coisa corriqueira no Brasil.
Por exemplo: em alguns países da
Europa a não emissão de nota fiscal na venda de qualquer produto é crime. No Brasil
é apenas uma esperteza para diminuir o imposto incidente. Um assombro.
Está na hora de verificarmos se a
desonestidade que se propaga de forma sistemática em nosso organismo social já
nos provocou séria infecção; e de descobrimos se o contágio se dá por simples
observação ou por contato direto. Do contrário, não criaremos condições para
combatê-lo.
Meditemos sobre o assunto!
Busquemos um pouco em nós mesmos a culpa pelo que se espalhou! Então tudo é
eles, eles os políticos e os dirigentes, e não sobra nenhuma responsabilidade
para nós?
Pelo amor de Deus, amigos, leiamos
João Ubaldo Ribeiro.
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