Era 1998
quando Ubiratan Moura deixou Salvador e voltou a Maracás (BA), sua
cidade natal, movido pela esperança de trabalhar em uma mina que,
contava seu pai, seria aberta ali.
O projeto
demorou a vingar e Moura passou os anos seguintes ganhando a vida como
transportador de melancias até que, em 2010, a Vanádio de Maracás
começou a sair do papel. A companhia vai investir na produção de
vanádio, minério com alta resistência a choques e à corrosão.
"Há muito
tempo se ouvia falar no projeto de uma mina. Descobriram o minério nos
anos 70 e meu pai trabalhou na geofísica e sempre falava que um dia as
coisas iam acontecer", afirma Moura, que hoje trabalha o laboratório da
Vanádio de Maracás. "Muita gente desistiu, mas deu certo."
Controlada
pela canadense Largo Resources, a Vanádio de Maracás foi erguida a
partir de uma estrutura de financiamento complexa e pouco comum no
Brasil: o project finance "puro". Nessa modalidade, os riscos de
implantação são isolados no projeto e, em caso de inadimplência ou não
conclusão das obras, não se pode recorrer aos acionistas.
A essência
do project finance - modelo de financiamento usado para viabilizar
obras de infraestrutura - é que o pagamento da dívida venha do fluxo de
caixa futuro do projeto em construção. A ideia é que os riscos fiquem
limitados à sociedade de propósito específico criada para abrigar a
operação. Na prática, porém, o que se vê no mercado brasileiro é um
modelo híbrido, em que os acionistas oferecem garantias bancárias de
forma a reduzir custos.
Estruturas
como a da Vanádio de Maracás, sem possibilidade de recurso aos
acionistas, representam menos de 10% do total de operações de project
finance no Brasil, estimam executivos de bancos que atuam na área. A
expectativa, porém, é que a prática se torne mais frequente à medida que
se esgotarem as fontes tradicionais de financiamento ao setor.
Embora
seja mais caro, o grande atrativo desse modelo é que ele não afeta os
limites de crédito das companhias. Num momento em que grandes grupos têm
investido em vários projetos de infraestrutura, limitar riscos e
evitar dívidas adicionais podem ser medidas necessárias.
No caso da
mineradora, o que permitiu que a operação fosse fechada dessa forma
foi um colchão de garantias que permite o acesso dos credores aos
recursos oriundos da operação.
"Se não
fossem as garantias oferecidas aos bancos e se o projeto da empresa não
estivesse bem elaborado, esse modelo não teria sido possível", diz
Gabriela Denadai, superintendente de project finance do Itaú BBA para
mineração e indústria.
A
instituição foi responsável por estruturar a transação, que partiu
praticamente do zero para levantar os US$ 275 milhões necessários ao
projeto. A Largo Resources, fundada em meados 2000 pelo canadense Mark
Brennan, não tinha capital para bancá-lo. Listada como companhia
pré-operacional, havia investido na compra de direitos minerários ao
redor do mundo - inclusive em Maracás - os US$ 20 milhões captados na
Bolsa de Valores de Toronto.
Para
contornar a limitação, a Largo costurou um aporte de fundos de
investimento, que lhe permitiu entrar com US$ 110 milhões de capital
próprio no projeto. Os US$ 165 milhões restantes vieram de empréstimos
tomados sobretudo junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) e garantidos por Itaú BBA, Banco Votorantim e Bradesco
BBI.
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