Preocupado em não incorrer nos mesmos erros observados nos jogos Pan- Americanos de 2007, no Rio de Janeiro, quando as obras representam um pesadelo para os cofres do Estado em função do alto custo de manutenção frente à baixa utilização, os chamados Elefantes Brancos, o Comitê Organizador Local da Copa mudou a estratégia e está apostando em um novo modelo de gestão: a Parceria Público Privada (PPP).
Uma modalidade de concessão administrativa, compartilhada, em que os investimentos e o custeio das obras ficam a cargo da empresa concessionária. Como exige pouca verba governamental, o modelo tem sido utilizado por arenas brasileiras para viabilizar projetos de reformas que contemplam espaços mais amplos e um novo conceito: a multifuncionalidade.
Em Salvador, por exemplo, o grupo responsável pela reconstrução do Estádio da Fonte Nova é formado pelo Consórcio OAS / Odebrecht. O projeto, que está sendo tocado em parceria com a ArenA do Brasil, subsidiária brasileira do grupo holandês Amsterdam ArenA, uma das maiores operadores de arenas multiusos do mundo, casa do AFC Ájax (Holanda), prevê a conversão do antigo espaço em uma arena multiuso, com capacidade para 52 mil torcedores, restaurante, museu, lojas e um centro de negócios que funcionará independentemente dos jogos, além de abrigas shows, congressos e encontros de negócios.
A ideia é tornar a Arena Fonte Nova um projeto rentável que promova o desenvolvimento sustentável da região, uma versão tupiniquim da Amsterdam ArenA Holandesa, primeiro estádio multiuso da Europa, que promove mais de 90 eventos de grande porte no local.
Para Henk Markerink, presidente do grupo Amsterdam Arena, um estádio é muito mais do que apenas um simples edifício composto de toneladas de concreto. “Na verdade, os estádios representam nos dias atuais, o que eram as catedrais no século XVIII: um lugar onde os habitantes se reuniam para descansar de seus afazeres e compartilhar suas experiências” define. No Brasil, o grupo opera através da subsidiária ArenA do Brasil que tem como sócio o empresário João Gilberto Vaz. Neste rápido bate-papo, Vaz explica as principais vantagens dessa PPP.
Revista 2014 – Além do vantajoso aspecto financeiro, esse formato de parceria beneficia também a condição socioeconômica do local. Que outras vantagens podemos citar?
JGV – Esse formato PPP é muito vantajoso quando se trata de um projeto de longo tempo de maturação como é o caso das arenas multiuso. Com uma parceria com o Governo, o operador poderá trazer novos negócios voltados ao segmento de catering, eventos, entretenimento em geral e treinamento, assim como a criação de vários postos de trabalho diretamente ligados à operação contínua da arena multiuso. Além do fato de que estamos participando efetivamente do processo da construção e das revisões do desenho do projeto, o que traz uma enorme vantagem no que se refere a criar desde o início uma arena multiuso. O envolvimento da ArenA do Brasil traz também um enorme benefício no sentido de transformar a nova arena em um centro de negócios da cidade, referindo ao que diz sempre o nosso CEO, Sr. Henk Markerink, que o estádio passa a ser o ponto principal de turismo e atração da cidade.
Revista 2014 – Como funciona a parceria no caso específico da Fonte Nova?
JGV – No caso específico da Fonte Nova, a nossa empresa, a ArenA do Brasil, assumirá toda a operação do complexo após o término da construção e seremos os operadores no tempo da duração da concessão, nesse caso, 35 anos. Como Salvador é a primeira cidade que nos confiou a responsabilidade pela operação da nova arena, faremos o melhor possível para que tenhamos em Salvador um dos melhores estádios para a Copa do Mundo de 2014 e um grande centro de entretenimento e negócios.
Revista 2014 – Que outros estádios ou projetos o grupo opera no Brasil?
JGV – No momento temos contrato assinado para operar a nova arena Fonte Nova. Estamos em tratativas com várias cidades do Brasil e temos o interesse absoluto de operar pelo menos três novas arenas. Em menos de dois anos, já recebemos mais de 165 pessoas do Brasil na Amsterdam ArenA. Pessoas que visitaram e conheceram nossa operação. O nosso objetivo é de operar poucos estádios no Brasil. Mas também de transformar esses poucos em verdadeiros templos de conforto e segurança. Afinal, viemos para ficar!
Revista 2014 – Como o senhor avalia a importância dessa parceria com empresas brasileiras?
JGV – O nosso objetivo no Brasil é operar e gerenciar estádios e arenas multiuso em sólida parceria com empresas locais. No caso da Bahia, por exemplo, somos parceiros junto à Sociedade de Propósito Específico que foi criada pela Odebrecht e OAS. Recentemente administramos no Brasil o primeiro Curso de Treinamento de Comissários de Estádios (Stewards), concebido em parceria com a Secretaria de Esporte/SP e a Federação Paulista de Futebol. Em breve devemos anunciar uma sólida parceria com uma empresa multinacional japonesa que está presente no Brasil por décadas.Outro passo significativo para que possamos oferecer, além dos nossos conhecimentos operacionais, um pacote completo de integração tecnológica nos estádios e áreas vizinhas. Finalmente, o nosso compromisso de parceria no Brasil fica claro com o fato de que sou sócio da ArenA do Brasil e isso comprova o comprometimento do grupo Amsterdam ArenA de estar presente no Brasil com uma empresa brasileira que opera no cenário local obedecendo as regras locais e com parceiros locais.
Revista 2014 – Quais as expectativas?
JGV – No caso de Salvador temos grandes expectativas devido ao fato de que será, com certeza, um centro de entretenimento e negócios. A Bahia é um destino nacional e internacional com um rico conteúdo de música, cultura em um ambiente multi-racial. Tenho a certeza de que vamos transformar a nova arena em um dos ícones brasileiros para eventos. Já temos projetos de trazer grandes grupos musicais para Salvador, e em breve poderemos anunciar a presença, por exemplo, de Andre Rieu, um famoso violinista holandês, conhecido mundialmente por seus concertos em castelos montados em estádios de futebol. O Brasil é um mercado, um país em ampla expansão econômica, com um poder de compra emergente. Para se ter uma ideia, o valor do ingresso do show de Madonna no Brasil custou o triplo do que nós vendemos na Amsterdam ArenA. Enxergamos, dessa forma, uma real possibilidade de implantarmos um centro de entretenimento, que será reconhecido como um ícone de operação profissional, confiabilidade e com produtos e serviços exclusivos e diferenciados no mercado.
Revista 2014 – A cultura e o modus operandi da Europa diferem bastante do modelo brasileiro. Isso pode ser considerado um obstáculo ou uma dificuldade?
JGV – De maneira alguma. Ao contrário! Vamos aprender ainda mais sobre as maneiras, costumes e até mesmo de implementar nosso profissionalismo juntamente com a hospitalidade típica do brasileiro de receber as pessoas que é muito mais amável do que muitos países. Pretendemos implantar aqui um processo de operação profissional devidamente organizado para atender o processo antes, durante e após a Copa do Mundo da FIFA de 2014. Como um bom exemplo, podemos citar a violência e os banheiros sujos são dois fatores que afastam, no Brasil, as famílias dos estádios. Vamos mudar isso. Nossa filosofia é clara e está baseada no princípio da igualdade, onde o torcedor, independente do bilhete (cadeira especial, camarote, arquibancada ou geral), tem o mesmo direito de não enfrentar longas filas ou banheiros sujos. Vamos implantar a filosofia de colocar no estádio, ao invés de polícia armada, os nossos comissáriso (stewards) que farão uma abordagem mais cordial com um alto nível profissional. Essa é a fórmula que acreditamos para obter um lucro substancial com uma operação profissional, enxuta e planejada com eventos adequados.
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