sexta-feira, 18 de março de 2011

Brasil vai avaliar usinas nucleares, diz Lobão
Sexta-feira, 18 de Março de 2011



Governo acompanha de perto tragédia no Japão e pretende fazer uma avaliação da segurança nas usinas nucleares brasileiras



Diante do agravamento da crise nuclear no Japão, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, adotou um discurso mais cauteloso e disse ontem que o governo vai fazer uma avaliação da segurança nas usinas brasileiras.

No início da semana, Lobão havia dito que elas foram construídas com a melhor tecnologia existente e que as falhas registradas nas usinas japonesas em função do terremoto e da tsunami que devastaram parte do país não teriam chance de ocorrer no Brasil.

- Eu estou recomendando uma avaliação. Vamos fazê-la tendo em vista a segurança do povo brasileiro. Vários países do mundo estão fazendo isso e nós não queremos ficar na contramão de nada.
Temos consciência de que o episódio no Japão foi grave e não queremos jamais que isso se repita - afirmou o ministro.

Lobão evitou dizer se o Brasil vai mudar o cronograma de execução de obras como a construção da usina de Angra 3, mas adiantou que ela não será paralisada:

- Vamos ter um cuidado especial com a política nuclear. Nosso objetivo (com a avaliação) é testar a nossa segurança, mas isso não significa que é preciso parar Angra 3.

Já o ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, afirmou ontem que a tendência é que os protocolos internacionais relativos ao uso de energia nuclear fiquem mais rigorosos após o acidente no Japão e frisou que o Brasil seguirá as recomendações da comunidade científica.
Segundo ele, ainda é cedo para tomar qualquer decisão que altere o programa nuclear brasileiro.


- Estamos diante de uma paradigma. Por um lado, uma fonte de energia que ajuda a mitigar o aquecimento global. Por outro lado, tem um risco, que é absolutamente dramático quando ocorre um acidente.
O Brasil vai acompanhar essa reflexão. Vamos aplicar imediatamente todos os protocolos internacionais tanto nas usinas que já temos, como eventualmente para a continuidade do programa (nuclear). Seguramente (os protocolos) serão mais rigorosos.

Mercadante lembrou ainda que a presidente Dilma Rousseff foi ministra de Minas e Energia e que, por isso, "conhece profundamente o setor e tem competência técnica para tomar as decisões".


Prazo para construção de 4 centrais termina em 2030


- Alguns países europeus falaram que vão paralisar novos projetos (de usinas nucleares), mas a a matriz energética da Europa é determinantemente subordinada à energia nuclear. (...) O que é importante é não tomarmos medidas sem uma análise aprofundada e rigorosa de todas as implicações - disse ele em evento no Rio em que foi firmado um acordo entre BNDES e Finep para financiar projetos de inovação no setor sucroalcooleiro.
 Será destinado R$1 bilhão para o setor até 2014 no âmbito desta iniciativa.


Em outro evento na cidade, para a inauguração do laboratório de pesquisas da IBM, ontem à tarde, Mercadante lembrou que o plano de construção de mais quatro usinas nucleares no país tem como prazo o ano de 2030.

- Nesse intervalo, em decorrência dos problemas ocorridos no Japão, serão repensados várias vezes os processos atuais de produção de energia nuclear, especialmente os procedimentos de segurança e backup dos sistemas de contingência para um cenário de crise - disse. - O Brasil, apesar de estar situado no meio de uma placa tectônica e não na borda, como o Japão, vai acompanhar atentamente e participar da discussão em torno dos melhoramentos tecnológicos que advirão das lições aprendidas com a tragédia em andamento no Japão.

O ministro de Ciência e Tecnologia lembrou que existem 440 usinas nucleares em funcionamento no mundo, sendo responsáveis por 17% do fornecimento de energia elétrica no planeta.

- Cerca de um bilhão de pessoas vivem dessa fonte de energia, em seu padrão de vida e consumo - afirmou. - A crise no Japão, que está chegando ao seu ponto decisivo nas próximas horas, pode ter dois desdobramentos. Ou continuará havendo apenas uma emissão controlada de radiação, ou, no caso do derretimento do núcleo, pode-se transformar numa emissão descontrolada. E, neste caso, as repercussões serão muito mais dramáticas.


Autor(es): Agência O Globo: Martha Beck, Danielle Nogueira e Carlos Alberto Teixeira
O Globo - 18/03/2011.

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