Alstom investe para tornar térmicas menos poluentes
Energia limpa: Já é possível captar até 90% do gás carbônico das usinas termelétricas, que iriam diretamente para a atmosfera, e injetar no solo a profundidades que podem chegar a quatro mil metros
Será um dia possível produzir energia tão limpa quanto a eólica a partir de carvão e gás natural, hoje combustíveis dos mais poluentes?
Não só há quem acredite que sim, como pesquisas já comprovaram que é possível captar até 90% do gás carbônico das usinas termelétricas, que iriam diretamente para a atmosfera, e injetar no solo a profundidades que podem chegar a quatro mil metros.
Os estudos pelo mundo estão avançados e prontos para serem implantados em larga escala. Neste ano governos da Europa, Estados Unidos e Canadá vão investir mais de € 10 bilhões para dar início ao que será uma tentativa de limpar a energia hoje dominante nestes países.
A Alstom investiu algumas centenas de milhões de euros para desenvolver essas tecnologias e patenteou mais de 200 equipamentos que podem transformar as usinas. O custo da energia dessas usinas aumenta em 50%. A vantagem é que além de se tornarem mais limpas, podem render faturamento com a comercialização de certificados de CO2 e ainda terão custos parecidos com o de parques eólicos. O mercado potencial é de milhares de usinas espalhadas pelo mundo que geram quase 3.500 gigawatts (ou 3,5 milhões de MW).
Nesse momento em que a Europa, Estados Unidos e China estão revendo seus programas nucleares, por causa do desastre do Japão, é possível que esse mercado seja beneficiado. A energia nuclear, apesar do perigo de acidentes, é a mais limpa de toda a matriz energética mundial. "Ainda não sabemos como o incidente nuclear do Japão irá afetar nossos negócios, mas é fato que o desenvolvimento da energia nuclear vai caminhar mais devagar", diz o diretor de desenvolvimento de negócios de CO2 da Alstom, Philippe Paelinck.
Os investimentos nessas tecnologias vieram na esteira do Protocolo de Kyoto e da obrigação imposta para redução da emissão dos gases que causam o efeito estufa. Mas a crise financeira internacional acabou por impactar o negócio, pois o financiamento é possível com a venda de certificados de redução de CO2.
Hoje esses certificados estão cotados a € 15 por tonelada, quando o ideal seria que estivessem entre 60 e 90 por tonelada. O mercado de carbono em baixa é o que mais preocupa, já que o custo dessa energia ficaria parecido com o da eólica. Mas é preciso que haja um acordo mundial sobre redução de emissão de gases de efeito estufa para que esse mercado se recupere, já que Kyoto expira no ano que vem.
Os países que estão cobrando taxas de emissões de gás carbônico são os que mais interessam a esses desenvolvedores da tecnologia de captura de carbono. Um dos principais mercados seria o da China. Dos 12 gigatons de gás carbônico que serão lançados na atmosfera até 2030, um terço virá da China.
O cenário mundial mostra hoje que, apesar de o mundo estar seguindo para o incentivo de energias renováveis, elas não serão suficientes para suprir a demanda por eletricidade. A Alstom investiu neste segmento pois entende que, mesmo em um cenário de desenvolvimento agressivo de tecnologias para energia renováveis, o carvão e o gás ainda vão representar mais de 50% da produção de eletricidade em 2035. Além disso, o carvão está disponível em grande quantidade, com mais de 160 anos de reservas, segundo dados da Alstom, quase três vezes superiores aos do gás natural.
Existem várias tecnologias sendo desenvolvidas pelo mundo. A Alstom escolheu duas: a de pós-combustão e oxi-combustão. Na primeira, a remoção do CO2 a partir dos gases de escape por meio de solventes, como amina ou amônia. O segundo tipo envolve uma queima do combustível em oxigênio para obter um fluxo de CO2. Depois esses gases são bombeados sob pressão por tubulações para o subsolo e ficam presos em uma parede impermeável de rochas já próximo a aquíferos salinas. O gás carbônico migra então para os poros da rocha até estas águas onde se dissolve e se transforma em carboneto e mais tarde se mineraliza e se transforma em rocha.
O problema é que muitas usinas já instaladas estão localizadas em regiões onde o solo não possui as camadas de aquíferos salinas, então precisam ser transportadas por um longo caminho. Além disso, os estudos dos impactos dessa reinjeção de CO2 no solo começaram em 1996, na Noruega, onde se injetou 1 milhão de toneladas de CO2 por ano. Até agora, nenhuma alteração do ambiente foi percebida.
Até 2015, a Alstom tem expectativa de estar com seus equipamentos de captura de carbono operando em seis grandes usinas de carvão. A empresa tem acordo comercial com usinas da Inglaterra, Alemanha, Canadá, Polônia, Estados Unidos e Romênia, que juntas são capazes de gerar mais de 1.600 MW de energia. Por enquanto, como parte do projeto piloto apenas algumas pequenas usinas estão em operação já capturando carbono.
Dois projetos estão em execução e um deles começa a operar neste ano por meio do processo pós combustão com uso de amônia. O projeto foi feito em parceria com a TransAlta que está instalando uma usina de carvão no Canadá, onde foram investidos € 779 milhões com financiamento do governo de Alberta, do Canadá.
Autor(es): Josette Goulart
De Paris
A repórter viajou a convite da Alstom.
Valor Econômico - 18/03/2011.
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