terça-feira, 24 de agosto de 2010

Turismo e a Copa de 2014


Fonte: Valor Econômico
A classe média emergente da América do Sul é uma das principais apostas do governo brasileiro para alcançar a meta de atrair 7,5 milhões de turistas estrangeiros ao país, em 2014, ano da Copa do Mundo. Para não depender excessivamente do fluxo de visitantes de países ricos, que se veem às voltas com crises financeiras e índices elevados de desemprego, a aposta na vizinhança foi reforçada e os recursos destinados a ações publicitárias na região aumentaram para US$ 4,5 milhões neste ano, acréscimo de 600% sobre 2009.
A Argentina, maior país emissor de turistas ao Brasil, tem visto na televisão a cabo e nos cinemas um vídeo produzido pelo cineasta Fernando Meirelles.
O filme será veiculado nos meses de agosto e setembro. Outra inserção comercial, na TV aberta, já havia sido transmitida, por uma semana, logo após o apito final da Copa da África. Ambos fazem parte da campanha intitulada "O Brasil te chama, celebre a vida aqui".
De acordo com o Ministério do Turismo, o objetivo é aproveitar a realização da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016 para "emocionar, impactar e motivar" os argentinos a fazer suas viagens, de lazer ou de negócios, ao Brasil, independentemente dos eventos esportivos, usados apenas como "ganchos".
Nas ruas, a campanha estará em outdoors, painéis em aeroportos e outros tipos de mídia externa. Na mídia impressa, os anúncios serão publicados em veículos especializados e em revistas voltadas ao público final. Anúncios em mídia on-line vão representar 20% dos investimentos. "A premissa fundamental é que temos que apostar fortemente no mercado sul-americano.
No México, 90% dos turistas estrangeiros vêm dos EUA. Na Europa, boa parte do turismo se dá entre países vizinhos. Se essa máxima é verdadeira para eles, deve ser para a gente também", afirmou ao Valor o ministro do Turismo, Luiz Barretto. Ele inicia hoje visita a Buenos Aires para lançar oficialmente a campanha e reunir-se com autoridades argentinas. "Além de batalhar para crescer nos mercados de longo alcance, temos uma imensa avenida a ser percorrida na América do Sul, onde as condições econômicas são bem melhores do que há dez anos.
" O ministro já tem em mãos os resultados de pesquisa feita pela FGV Projetos, com 4.835 pessoas, na África do Sul. O levantamento detectou que o perfil dos visitantes à Copa do Mundo foi de homens, solteiros, com ensino superior, de 25 a 34 anos, viajando com amigos e teve 17,6 noites de estada no país.
Quase metade dos turistas (47%) havia feito pela primeira vez uma viagem de "longo alcance" - com voo superior a cinco horas de duração. Para 70% dos entrevistados, o fato de o Brasil ser a próxima sede "pesará positivamente" na decisão de assistir à Copa.
Para argentinos e uruguaios, a proporção sobe para 75% e 78%, respectivamente. A pesquisa da FGV indica ainda que, para 75% dos consultados, o idioma não é uma barreira para vir ao país.
A beleza e a diversidade natural, assim como o interesse por conhecer o Brasil, são apontados como razões para comprar uma passagem em 2014. Mas o principal fator, para 42% do total, é a Copa -- assistir às partidas e apoiar a seleção de seu próprio país. Para o ministro Barretto, isso mostra que o governo não deve descuidar das ações publicitárias em lugares mais distantes, mas também aproveitar o crescimento dos vizinhos para reforçar a imagem de uma "Copa da América do Sul". Ele nota que a África do Sul atraiu poucos visitantes da região, porque os países próximos têm baixíssima renda per capita e pouca tradição no futebol. Aqui, diz Barretto, a situação é de fanatismo pela bola e renda em expansão, com o desejo de viajar mais. Há três anos, o número de turistas estrangeiros se mantém estabilizado em torno de 5 milhões de pessoas, embora eles tenham aumentado os gastos no Brasil para cerca de US$ 6 bilhões - eram US$ 2,3 bilhões em 2003.
O objetivo é elevar o número em 10% ao ano e chegar a 7,5 milhões de turistas em 2014. Segundo o ministro, a experiência de países que sediaram eventos de grande porte é que, depois de um pico em ano de Copa ou Olimpíada, o volume de turistas recua. "Mas nunca ao patamar anterior".

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