quinta-feira, 29 de julho de 2010

Tecnologia, uma opção inteligente para melhorar a vida urbana
A revolução tecnológica está nivelando o campo de atuação da economia global, permitindo que pessoas em todo o planeta possam conectar-se, colaborar e competir entre si. Vivemos em um mundo em que a tecnologia aumentou a produtividade, criou novos produtos e fez surgir empresas inovadoras, que criaram novos modelos de negócio.
Podemos hoje participar de um mercado global, comprando e vendendo produtos e serviços para qualquer lugar do mundo. Vemos também a ascensão econômica de milhões de pessoas, que estão subindo as paredes da pirâmide econômica, recebendo salários e entrando no mercado consumidor.
A ascensão econômica da classe C no Brasil é um retrato desta situação. O mesmo está acontecendo na Índia, China, Indonésia, Filipinas e em dezenas de outros países.
Mas, ao mesmo tempo enfrentamos dois grandes desafios que, ao lado da globalização, estão mudando nosso planeta e nossas vidas: o crescimento populacional (com subsequente aumento explosivo da população nas cidades) e o aquecimento global.

Vemos a aceleração da migração de populações para as cidades. A cidade moderna, uma das maiores invenções coletivas da humanidade, permitiu a criação de uma economia em escala, o que seria impensável em um mundo agrícola. Com sua aglomeração de processos complexos, a cidade torna possível a civilização contemporânea.

Em 1800, a maior cidade do mundo era Londres, na Inglaterra, com cerca de um milhão de habitantes. Em 1960, o planeta tinha 111 cidades com mais de um milhão de pessoas. Em 1985 já eram 280 e hoje mais de 300, das quais 13 estão no Brasil. O número de megacidades (com 10 ou mais milhões de habitantes) subiu de cinco em 1975 para 14 em 1995. Ou seja, em apenas 20 anos mais que dobrou o número de megacidades.

A cada ano, mais de 60 milhões de pessoas em todo o mundo migram para as cidades. Em 2008, mais da metade da população da Terra já estava morando em cidades. Estima-se que em 2050 pelo menos 70% da população do mundo estará concentrada nas cidades e megacidades.
Algumas análises mostram que as áreas urbanas já são responsáveis por mais de 80% das emissões de carbono e 60% do consumo de água potável do planeta. As cidades, que não ocupam mais que 3 a 5% do espaço do mundo, consomem mais de 75% dos recursos naturais.
No Brasil a situação também é bastante grave. Em 1975, 61,8% dos brasileiros viviam em cidades. Em 2000 já eram 81,2% e em 2015 serão 87,7%. Na verdade, em duas gerações deixamos de ser um país rural para ser um país urbano. Nossas cidades tiveram que acomodar entre 1950 e 2000 aproximadamente 120 milhões de brasileiros, provenientes do crescimento vegetativo e de correntes migratórias do mundo rural para o urbano.
No caso brasileiro, as cidades médias também apresentam maior crescimento populacional que as grandes cidades, com um percentual em torno de 2% ao ano, acima da média nacional. Esta migração acontece pelo simples fato de que a humanidade procura as cidades porque as oportunidades de desenvolvimento humano, econômico e social tornam-se realizáveis dentro das condições de economia de escala, proporcionadas pelos aglomerados urbanos.

É nesse contexto que devemos ver as duas grandes oportunidades que temos à frente de modernizar nossa infraestrutura: a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. A Fifa, organizadora da Copa, fixa prazos para várias mudanças, que envolvem: construção e remodelação de estádios, modernização de aeroportos, sistemas viários e hotelaria, além da reurbanização das doze cidades-sede do Mundial de 2014.
Estima-se que cerca de 155 bilhões de reais serão injetados na economia brasileira até o último dia da competição.
Congestionamento e poluição
Dos graves problemas de infraestrutura de nossas cidades, vamos exemplificar analisando um dos principais, que atinge as grandes cidades, que é o trânsito e seus congestionamentos crônicos.
Historicamente, a explicação para a complexa situação do trânsito nas cidades brasileiras é o desenvolvimento urbano, que após a Segunda Guerra viveu uma explosão gigantesca.
Na Europa, com cidades muito mais antigas que as americanas, as ações se concentraram na reconstrução urbana, privilegiando revitalizar, recuperar e reciclar áreas urbanas decadentes. Diferente dos Estados Unidos, onde o crescimento se deu pela suburbanização, numa visão de desenvolvimento urbano que privilegiou a expansão rumo a novos territórios. O acesso aos subúrbios americanos se deu por automóveis, via highways. Os subúrbios se desenvolveram atraindo condomínios e malls.
O Brasil foi muito influenciado por esse modelo americano. Começou a ganhar corpo por aqui a proposta de se oferecer casas e condomínios distantes das áreas centrais. Assim, foram nascendo bairros como Alphaville em São Paulo e Barra da Tijuca no Rio de Janeiro. A opção de promover a mobilidade urbana pelo automóvel gerou o crescimento exponencial da frota, transformando as cidades em áreas sujeitas a congestionamentos crônicos.
O transporte público de massa foi praticamente negligenciado.
"Cidade inteligente é a que otimiza a capacidade da infraestrutura já existente. Com o uso inteligente de tecnologias, o mesmo número de ruas suporta muito mais automóveis, ônibus ou VLTs, além de veículos limpos, como as bicicletas e outras opções leves de transporte.
"A contrapartida pela opção no uso intenso do automóvel como meio de locomoção é o congestionamento e a poluição, como sabemos. A cronificação dos congestionamentos afeta negativamente a qualidade de vida e a produtividade das cidades. Os problemas de congestionamento não irão se resolver colocando-se mais lombadas e mais semáforos. Nem abrindo mais ruas e construindo-se mais viadutos. Aliás, o poder público não tem mais espaço, dinheiro e nem tempo para abrir novas vias nas grandes cidades.
Mas a tecnologia nos permite construir sistemas de controle que previnam congestionamentos. Ou que disciplinem o acesso a regiões centrais, por meio de sistemas automáticos de pedágios urbanos. Estes poucos exemplos simbolizam que podemos pensar em substituir matéria-prima por conhecimento.Embora não seja possível construir um prédio com bits, podemos usar os bits para criar materiais e projetos mais inteligentes, construindo prédios com menos tijolos e cimento e mais sustentáveis ecologicamente.
As grandes cidades estão diante de grandes desafios. A tecnologia está cada vez mais barata e acessível. Existem bilhões de sensores, redes de comunicação e capacidade computacional suficientes para processar informações em quantidades incomensuráveis. Redes wireless podem ser usadas não apenas para conectar notebooks, mas também para conectar sensores.
Uma cidade inteligente é a que otimiza a capacidade da infraestrutura já existente.
Com o uso inteligente de tecnologias, o mesmo número de ruas suporta muito mais automóveis, ônibus ou VLTs, além de veículos limpos, como as bicicletas e outras opções leves de transporte. Também é menor o consumo de recursos como água e energia, diminuindo-se o seu desperdício. Não bastasse, muitas vezes os investimentos em tecnologia tendem a ser bem menores do que investimentos em obras físicas. Infelizmente, nossas cidades ainda estão no mundo analógico... Mas a oportunidade é agora.
*Cezar Taurion é economista, mestre em Ciências da Computação e gerente de Novas Tecnologias da IBM
Fonte:Portal2014org

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