sexta-feira, 12 de junho de 2015

ARMANDO AVENA: A BAHIA, A FIOL E A FERROVIA BIOCÊANICA



A Ferrovia Oeste-Leste é o mais importante projeto de infraestrutura da Bahia e será nosso grande corredor de exportação. Por isso, no momento em que ela está sendo construída, é fundamental discutir seu traçado final, para assim ampliar sua competitividade. Isso é importante, pois a Fiol, como é chamada, não pode sustentar sua viabilidade econômica apenas no transporte de minério de ferro e ficar na dependência das variações de preços das commodities internacionais, a exemplo do que vem acontecendo agora em que o aviltamento do preço do ferro está em baixa e a Bamin Mineração passa a ter problemas na sua engenharia financeira.
Além disso, a Presidente Dilma Rousseff anunciou esta semana, no lançamento do programa de concessões, a construção da ferrovia Bioceânica, ao custo de  R$ 40 bilhões, ligando o oceano Atlântico ao Pacífico.  Apesar dos anúncios da Presidente nem sempre resultarem em realizações, a ferrovia proposta tem tudo a ver com a Bahia e pode fortalecer ou  enfraquecer a Ferrovia Oeste-Leste. O traçado da ferrovia Biocêanica, previsto no plano de Concessões,  parte da Ferrovia Norte Sul, em Campinorte, em Goiás,  em direção ao Peru e depois ao Oceano Pacifico.
Sendo assim é fundamental que a nossa Ferrovia Oeste-Leste se entronque com a Ferrovia Norte-Sul nesse mesmo eixo em Campinorte, os invés de entroncar-se na localidade de Figuerópolis, no Tocantins, como está previsto no projeto. Se isso for feito, a ligação do Atlântico ao Pacifico passará pela Bahia formando um  corredor de exportação de grande porte. Na verdade,  essa reivindicação deve ser também do Nordeste que precisa igualmente que a Ferrovia Transnordestina também entronque com a Norte-Sul no mesmo eixo, criando um corredor regional de exportação com duas ferrovias, e resgatando a dimensão regional no sistema ferroviário brasileiro como, aliás, bem colocou o ex-senador Waldeck Ornelas em artigo recente no Correio.
A mobilização regional nesse sentido é urgente, pois o estado do Rio de Janeiro já se mobiliza para que ferrovia Bioceânica tenha como destino o Porto do Açu, no Rio. Felizmente, a ideia já foi encampada pelo governo do Estado que já apresentou a proposta ao Ministério dos Transportes. Aliás,  a bem da verdade, a ideia foi inicialmente levantada pelo senador Otto Alencar,  quando ainda era vice-governador e Secretário de Infraestrutura. Com esse traçado, a Fiol também se entroncará com a FICO – Ferrovia de Integração Centro-Oeste, por onde escoará o grosso da produção brasileira de grãos, colhida nos estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e estimada em mais de 60 milhões de toneladas.

Mas  sem a conexão em Campinorte, a tendência é que essa produção de grãos seja escoada pelos portos do Sudeste especialmente o Porto de Açu, no Rio de Janeiro, ou  o Porto de Santos. A mudança do traçado final da Fiol é fundamental e precisa de ações para que o trecho que vai até Barreiras, que só tem 6% construído, seja retomado, bem como aquele que liga a Fiol até Campinorte.   Esses é um projeto para o futuro da Bahia, é hora, portanto, das lideranças regionais se unirem para colocá-lo urgentemente entre as prioridades do governo federal.
                       WAGNER E A FERROVIAOESTE-LESTE
Ao criticar ausência da  Fiol – Ferrovia de Integração Oeste-Leste no Programa de Concessão lançado pela Presidente Dilma Rousseff esta semana, o ex-governador e atual Ministro da Defesa, Jaques Wagner, errou duas vezes. Na primeira porque, no atual contexto, a Fiol não tem qualquer viabilidade econômica e financeira que possa atrair investidores privados. Pelo contrário, a Bamin Mineração,  empresa que vai transportar as 20 milhões de toneladas de minério de ferro por ano – única carga que garante taxa de retorno positiva a ferrovia – está com problemas por conta do baixo preço da commodities no mercado internacional, e não se sabe quando entrará em operação plena.

Talvez, no futuro, como se disse acima, a Fiol possa ter viabilidade econômica, transportando a produção de grãos do Centro-Oeste. O outro erro de Wagner foi chamar a atenção para o projeto errado, afinal, quem deveria estar no programa de concessões era a Ferrovia Centro Atlântica, esta sim poderia interessar aos investidores se houvesse recursos para sua modernização, com financiamentos do BNDES. Como se não bastasse, a declaração do ex-governador expôs o que todo mundo já sabia:  os recursos para a construção da ferrovia, que deveriam estar previstos no PAC e por isso não precisariam entrar no programa de concessões, foram atropelados pelo ajuste fiscal.  Assim, ao que parece, o primeiro trecho da obra, ligando a Caetité a Ilhéus, previsto para estar pronto em 2017, vai atrasar novamente.
                A INDÚSTRIA BAIANA E A OPERAÇÃO LAVA-JATO A produção industrial na Bahia caiu 12,3% entre janeiro e abril deste ano. A indústria está caindo em toda a parte, mas a Bahia apresentou o 3º pior desempenho do país.  A indústria está caindo mais na Bahia, porque a produção aqui é fortemente concentrada no ramo de petróleo que responde por 26% da produção industrial baiana. E agregando a petroquímica esse percentual chega a 40%.

No primeiro quadrimestre do ano, a produção de derivados do petróleo e biocombustíveis caiu 35,1%, com reflexos na produção industrial e na arrecadação de ICMS do estado, já que o setor é o que mais contribui com esse imposto.  A situação reflete o quadro conjuntural, mas reflete também o impacto da operação Lava-Jato na Petrobras, que reduziu investimentos e  desestruturou toda uma cadeia de produção que vivia em torno da estatal, inclusive o estaleiro de Maragogipe. E é fundamental que o corte de investimentos no Plano de Negócios da Petrobras, que vai ser anunciado em breve, não foque na Bahia, pois senão a situação vai piorar.
                            UMA NOVA GERAÇÃO DE POLÍTICOS

Uma nova geração de novos políticos está tomando a cena da política baiana. São políticos jovens, que colocam a gestão acima da política e que convivem bem com crítica e a diversidade. O governador Rui Costa e o Prefeito ACM Neto são os maiores expoentes dessa nova safra de políticos e, quando o assunto é o interesse do Estado, eles buscam o acordo e a união. Foi assim com a questão do metrô e com as chuvas na cidade. Aliás, quando se diz, por exemplo, que o governador Rui Costa dá muita atenção a gestão e pouca atenção a política, isso é um elogio.

Tanto ACM Neto quanto Costa se mostram dispostos a negociação e aceitam críticas. Um exemplo:  recentemente, em uma solenidade, o Prefeito ACM Neto deparou-se com uma manifestação de protesto e, longe de tentar intimidá-la, ofereceu o microfone à liderança do grupo para que ela pudesse se manifestar, para só então expor suas ideias. Esse é o comportamento da nova geração de políticos que está surgindo.

É verdade que em volta deles ainda existem aqueles que querem coibir a imprensa ou culpa-la pela crise e outros que desejam apenas o elogio, a bajulação ou, ao contrário, a perseguição, mas esses são o passado.  É verdade também, que no momento da eleição as diferenças, especialmente no campo das propostas e da ação se estabelecerão, mas aí será, efetivamente, o momento adequado para aparecerem. No mais é saudar uma nova forma de fazer política, na qual o eleitor, é mais importante do que o eleito e o povo é mais importante do que o político.

 

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