Folha de São Paulo/UOL - Jânio de Freitas
15/05/2016 02h00
A rapidez e a facilidade com que Câmara e Senado levaram ao processo
de impeachment não foram naturais, nem espontâneas. No Conselho de Ética da
Câmara, a batalha em torno da cassação de Eduardo Cunha reflete muito melhor as
lutas pelo poder político nos parlamentos.
Poder que, sobretudo
no Brasil, vem a ser também material, com influência em altos valores públicos
e privados, possíveis manipulações de projetos e outras no interesse de grandes
grupos econômicos, e ainda favorecimentos em nomeações ou eleitorais. As
aparências públicas sugerem a luta em torno de um mandato, mas, se não for um
deputado chinfrim, o mandato propriamente é o de menos.
Com mais razão, e com
seu poder disseminado sobre uma infinidade de interesses privados e públicos,
passa-se o mesmo em torno de uma presidência suscetível de assédio. O exemplo
do que ocorreu com Getúlio, no seu criativo e ótimo governo presidencial nos
primeiros anos 1950, é para se tornar clássico na história da luta entre a
força de interesses e o poder governamental. No Brasil, até hoje, sempre com o
mesmo vencedor.
Foram várias as
forças a impulsionar as ações e o ambiente nacional pelo impeachment de Dilma
Rousseff. Os políticos, por exemplo, estão conhecidos em seu papel. Imprensa e
TV, mais ainda, talvez na culminância dos seus surtos de antijornalismo
político (nem a visita e as palavras institucionais e democráticas do
secretário-geral da OEA, Luis Almagro, foram divulgados). Mas há os impulsos
pouco ou nada conhecidos, o que já lhes indica a força e a dimensão do
interesse.
Petróleo. Pré-sal.
Petrobras. Os boicotes tramados contra o sistema de concessões e participações
no pré-sal foram frustrados, e isso resultou em que as petroleiras boicotadoras
ficaram de fora. Indignadas e sedentas. O competente corpo técnico da Petrobras
superou os problemas para exploração no pré-sal, com os quais as boicotadoras
poderiam contar para dificuldades que lhes abrissem nova oportunidade. Os
percalços de uma ou outra empresa associada à exploração foram insignificantes
no êxito geral.
Retirar da legislação
das concessões a obrigatória participação e operação da Petrobras, na
exploração mesmo por empresa privada, é a primeira fórmula proposta para quebra
do sistema vigente, aproveitando-se da crise financeira da estatal e do seu
desgaste político e na opinião pública. Surgiu ainda sob improbabilidade do
impeachment: José Serra apresentou o projeto no Senado.
Logo se iniciou o
trabalho sobre e dentro da imprensa, em pouco tempo aparecendo páginas inteiras
de assuntos correlatos mas incidentes na abertura do pré-sal. A possibilidade
do negócio foi levantada por alguns até no próprio governo de Dilma.
Dois nomes
tornaram-se citados na articulação, política e comercial, dos interesses
dirigidos ao pré-sal. Daniel Dantas, dono do banco de investimentos
Opportunity, notabilizado por negócios grandiosos e vários deles rumorosos; e
Eduardo Cunha, íntimo conhecedor da área estatal e controlador de grande parte
da Câmara.
É a estarem ambos no
assunto petróleo que se atribui a proximidade de Serra e Cunha, até que o
desgaste forte do presidente da Câmara retraísse o senador, para efeitos
públicos.
Michel Temer entregou
o programa de concessões a Moreira Franco, de histórico notório. Para ter tal
encargo, Moreira abriu mão até de ser ministro. Há várias semanas, já dizia a
jornalistas: "Tudo que for privatizável vai ser privatizado". Toda
estatal é privatizável. E Michel Temer fala em concessões como parte importante
de suas intenções.
O preço baixíssimo do
petróleo torna a ocasião muito propícia para a compra de pré-sal da Petrobras.
O custo alto da exploração não é empecilho. Por certo, em algum tempo o preço
voltará a subir. Não é preciso dizer mais sobre uma das forças pouco ou nada
mencionadas que agitam o Brasil e, entre outros feitos, impulsionam o
impeachment –você sabe como.
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