quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Coluna A Tarde: Boa sorte, Salvador


Saiu João Henrique deixando uma mensagem irônica para a população da cidade - “diga que valeu”- e entrou a esperança de mudanças para uma Salvador melhor. Antecipo que se Pelegrino se elegesse seria de igual modo uma esperança. É essa esperança que passou a ser a expectativa que se formou em torno de ACM Neto. O novo prefeito assumiu o cargo lastreando-o de informações de como comandará a prefeitura: sem “toma lá dá cá”, com metas previamente estabelecidas, com a exigência de cumprimento pela equipe que recrutou dos novos parâmetros traduzidos pelas metas que logo, logo serão conhecidas, sem complacência e com inapelável demissão se ocorrer incompetências. Já havia dito, em análise, quando Neto anunciou o seu secretariado, que escolheu a dedo nomes destacados. Dentre eles citei José Carlos Aleluia e José Antônio Rodrigues Alves. Agora, acrescento Albérico Mascarenhas, que foi incluído no final da composição do secretariado.
       
O discurso de Neto, pronunciado na Praça Municipal para o público, e não para quem estava na solenidade de transmissão do cargo, é importante exatamente porque passou a ser um compromisso público aberto, mas nada que tenha surpreendido. Disse o que já dissera, portanto o que já era do conhecimento. A rota da sua gestão tem evidentemente um toque próprio do carlismo, porque assim foi dito por ele, e é marca da escola de onde o prefeito é oriundo, daquilo o que ouviu – e repetiu - desde quando ele presidia o PFL Jovem, o que aconteceu quando ainda era adolescente.
       
O nascer de um novo gestor público pode até ter o simbolismo do carlismo, como já foi anotado em outra mídia, mas, na verdade, não se trata do renascer do carlismo, até porque não teria espaço por estarmos a vivenciar na política e no País uma nova era, muito diferente do que aconteceu no passado. O processo de amadurecimento democrático e da nova visão republicana não permitem retrocessos e, sim, a continuidade evolutiva que o Brasil experimenta, no que pesem as dificuldades institucionais.
     
De tal maneira que atinge os partidos de modo geral, incluindo o PT, que terá que abdicar do seu passado recente, onde deixou a ética e a estética; o PSDB, que envelheceu e precisa se renovar; o próprio DEM, que pode estar nos seus estertores, portanto na UTI; o PMDB que não deixa os seu gosto pela geleia geral; sem se falar em outras legendas como o PTB e o PDT, os dois trabalhistas que ainda lembram Getúlio Vargas e Leonel Brizola; além das legendas pequenas, ou nanicas. Sobre o PSD, recente, mas sem alma, não há o que se dizer, além de aguardar para ver se disputa a mesma geleia com o PMDB, porque até aqui parece ser a sua ideologia, a julgar por Gilberto Kassab, seu idealizador.
     
Assim, Salvador aposta em Neto para recuperar a sua vergonha, a sua beleza tornada cinza, os seus valores esquecidos e o abismo em que foi mergulhada. É deste buraco que o novo prefeito tem o dever de tirá-la. Seu discurso público transformou-se num documento a ser cobrado, e assim será. Boa sorte, Salvador!

*Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde desta quinta-feira (3)

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