sábado, 6 de novembro de 2010


Racismo regional

Armando Avena
:Escritor. economista e diretor do portal Bahia
Economica, é membro da Academia de Letras da Bahia

armandoavena@uol.com.br
O racismo é inadmissível, seja em re­lação às pessoas ou às regiões. As de­clarações da estudante de direito Mayara Petruso - que logo após a vitória de Dilma Rousseff escreveu no seu Twitter: "Faça um favor a SP: mate um nordestino afogado!" -, que desencadearam uma série de outras declarações contra os nordestinos, é um exem­plo inaceitável de um tipo de racismo cul­tivado no País desde o final do século XIX: o racismo regional.
Alguns eleitores do Sul e Sudeste estamparam esse racismo no Twitter após a festa democrática que elegeu a nova presidente do Brasil e atribuíram o resultado da eleição aos "esfomeados do Nordeste", ex­plicitando um racismo regional que sempre procurou imputar à região uma condição in­ferior ao restante do País e que criou es­tereótipos como os da preguiça atávica e do eterno festejar dos nordestinos.
Esse racismo não tem justificativa ética e muito menos econômica ou social. aliás, vale lembrar que se ainda há esfomeados no Nor­deste é porque durante anos os nordestinos foram espoliados, e não é demais rememorar que a pujança econômica do Sudeste foi cons­truída com o trabalho de homens e mulheres que aqui nasceram. Felizmente, os nordestinos já não precisam migrar para outras regiões, até porque a Região Nordeste é atualmente a que mais cresce no País, e, hoje, são os sulistas que aportam por aqui em busca de empregos e oportunidades de negócios.
E se esse cres­cimento econômico e a maior distribuição da renda foram resultantes de um programa que aumentou o poder aquisitivo da população da região, nada mais natural que essa população deseje sua continuidade e vote por ela. Esse racismo regional não tem cabimen­to, como não tinha cabimento o racismo econômico que não queria indústrias no Nordeste, que nos condenava a ser apenas um paraíso turístico para o deleite do Brasil rico.
Esse racismo regional não reflete, no entanto, o pensamento do Sudeste, nem de São Paulo, reflete apenas um pequeno grupo que continua subestimando os nordes­tinos e não aceitam que eles se manifestem nas urnas e, com sua força, elejam o pre­sidente do Brasil

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